E lá se foi o primeiro mês de 2023, com muitos acontecimentos no país, que mexeram com todos os brasileiros, tanto os de muita fé como os que dela desdenham! Para mim, esse primeiro mês tem enorme relevância, já que nele renovei minhas esperanças de vida, por ter tido meu primeiro filho, para alegria de meus pais, tios e amigos, sendo assim um mês de significado profundo para uma mulher de terreiro, que acredita que cada criança que nasce é um ancestral que volta. Para mim foi um encontro maior com minha fé, com minha espiritualidade e com minha família. Por coincidência, o dia do aniversário de meu filho é também o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, instituído por lei em 2007. Por conta de tais coincidências venho participando sempre dos eventos relacionado a essa data de resistência e respeito aos direitos humanos. Neste ano, sob liderança e coordenação do Babá Ivanir dos Santos, realizamos mais uma Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, no Centro Cultural da Justiça Federal, na cidade do Rio de Janeiro.
O evento ocorrido entre os dias 18 e 21 de janeiro possibilitou a articulação e parcerias da Comissão Contra a Intolerância Religiosa com o Laboratório das Experiências Religiosas (LHER) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ceap, Defensoria Pública da União, TV Globo, Ford Foundation e da Unesco. Foram dias emocionantes, que contaram com o lançamento de vários livros de intelectuais pretos e do II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe. Um auditório lotado, em todos os dias do encontro, nos emocionou muito, já que lá estavam inúmeros representantes de movimento negro do Rio de Janeiro e do Brasil, além de professores e alunos da Universidade de Princeton nos EEUU, do cineasta Marcos Pimentel, do pastor Kleber Lucas e de pesquisadores da Koinonia e da UFRJ.
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Vários documentários foram exibidos, seguidos de roda de conversa, onde foi discutido o direito à liberdade religiosa e o direito em nosso território da livre manifestação da fé. Foram apresentados os filmes “Fé e Fúria”, de Marcos Pimentel, bem como “Tenho fé”, de Rian Córdoba. A história do Ogã Bangbala, que continua atuando nos seus cem anos de vida também foi exibido e debatido no documentário Bangbala- que eu receba a riqueza.
É sempre importante lembrar que o dia 21, dia nacional contra a intolerância religiosa, tem uma história de violência em sua raiz. Essa data foi criada em 2007, como homenagem à Iyalorixá Mãe Gilda, que foi vítima de preconceito, discriminação e intolerância religiosa em sua cidade natal, Salvador, no final dos 1999, vindo a falecer em consequência dessas violações perpetradas por segmentos religiosos que, até os nossos dias, insistem em desrespeitar o preceito constitucional de liberdade de culto e crença. Buscando fortalecer as ações em prol do respeito à liberdade de crença e a importância desse princípio junto à sociedade, os eventos deste dia ocuparam a Praça Cinelândia, com uma feira cultural inter-religiosa e o show cultural “Cantando a gente se entende”, tendo a participação grupos artísticos e lideranças religiosas como o como o Grupo Awurê, Pastor Kleber, Padre Omar, Banda Judaica, Banda Cigana, entre outros.
A Semana foi muito exitosa, tendo emitido um alerta para todos sobre os perigos da discriminação e do preconceito religioso, além da dar visibilidade à luta pelo respeito a todas as religiões.
Contamos com a participação de integrantes da Defensoria Pública e várias mesas que discutiram política, religiões e democracia, além de religiões no campo dos direitos e nos meios de comunicação. Vários advogados e juristas analisaram os princípios do Estado laico, liberdades e pluralidades, sendo que todos os participantes puderam ouvir a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, presente ao evento, bem como sua mãe Marinete Franco além do presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues. Todos receberam ainda o texto do Dr. Jorge da Silva intitulado “Guia de luta contra a intolerância religiosa e o racismo”, que nos esclarece e revela nossos direitos liberdade de fé, que nos dá uma certeza do nosso direito de saudar Iemanjá no dia 2 de fevereiro – dia de festa no mar, de exaltar nossos orixás nos terreiros, de fazer a lavagem do solo sagrado da Sapucaí em homenagem aos nossos ancestrais sambistas, a saudar Exu numa escola de samba, de homenagear em enredos Menininha do Gantois e Mãe Meninazinha da Oxum, além de fazer como Joãozinho Trinta que ousou levar o Cristo para a Sapucaí, coberto, mas rogando por nós. Exercer qualquer tipo de religião que se ligue à nossa fé é direito de todos nós, cidadãos brasileiros.
Para todos que nos leem, salamaleikum, shalom, amém e muito axé!
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