Qual foi a precisão das últimas pesquisas de intenção de voto feitas no segundo turno nas maiores capitais brasileiras? Como veremos, o balanço dos acertos e erros das pesquisas é mais negativo do que positivo para os institutos.
As pesquisas eleitorais são uma espécie rara no universo das pesquisas quantitativas por amostragem. Ao contrário do que acontece com a maioria dos levantamentos do gênero, o seu grau de precisão pode ser averiguado a posteriori. Como? Através da comparação com o resultado efetivo das urnas.
Infelizmente, nenhum dos dois grandes institutos mais conhecidos nacionalmente fez pesquisa de boca de urna neste segundo turno. A rigor, somente este tipo de enquete é que pode ser integralmente comparado com os resultados eleitorais. Pesquisas feitas antes das eleições são simulações, e não projeções dos votos dos eleitores.
Mesmo assim, é inevitável que pesquisas cujo campo tenha sido encerrado, por exemplo, um dia antes das eleições acabem sendo comparadas com o resultado das urnas. É uma “licença poética” aceitável.
Por motivos de espaço, vamos averiguar neste artigo apenas a qualidade das pesquisas feitas pelo Ibope ou pelo Datafolha em quatro capitais com mais de 1 milhão de eleitores: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.
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A capital paulista reelegeu o prefeito Bruno Covas (PSDB) com 59,4% dos votos válidos, contra 40,6% de Guilherme Boulos. Os dois institutos estiveram em campo em São Paulo na véspera e na antevéspera do dia da eleição. Tanto Ibope como Datafolha apontavam favoritismo de Covas, mas com vantagens inferiores ao resultado da eleição. As diferenças numéricas estiveram dentro da margem de erro somente no caso do Ibope.
Na capital fluminense, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) derrotou o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) por 64,1% a 35,9% dos votos válidos. Também lá, Ibope e Datafolha estiveram em campo na sexta-feira e no sábado. No Rio de Janeiro, ambos os institutos acertaram o resultado final, mas a votação dos dois candidatos esteve fora da margem de erro nos dois casos.
Na capital pernambucana, a disputa entre os deputados federais João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) foi favorável ao primeiro, vitorioso por 56,3% a 46,7% dos votos válidos. As pesquisas do Ibope e do Datafolha, realizadas na véspera e na antevéspera do dia da eleição, registraram 50% de intenção de voto para ambos os candidatos em Recife. Nenhum dos institutos, portanto, previu a votação final dentro da margem de erro.
Finalmente, na capital gaúcha, o deputado estadual Sebastião Melo (MDB) derrotou a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) pelo placar de 54,6% a 45,4% dos votos válidos. Sem a concorrência do Datafolha, a pesquisa Ibope realizada em Porto Alegre na sexta e no sábado apontava empate técnico (Manuela com 51% e Melo com 49%). A votação real de ambos também esteve fora da margem de erro da pesquisa.
É verdade que, por um lado, nenhuma pesquisa apontou para a vitória consumada de algum candidato que tivesse sido posteriormente derrotado nas urnas. Elas cravaram acertadamente o vencedor em duas das quatro cidades.
Mas, por outro lado, a única pesquisa que logrou êxito estatístico na comparação com o resultado da votação foi a pesquisa Ibope em São Paulo. Em todos os outros casos examinados, Ibope e Datafolha fizeram estimativas incorretas.
Naturalmente, estas diferenças não necessariamente revelam imperícia por parte dos institutos de pesquisa. Elas podem ser atribuídas tanto a fatores estatísticos ou até à própria dificuldade em lidar com o aumento da abstenção nesse período de pandemia.
Seja como for, vale reiterar que os erros apontados se referem somente a um subconjunto das cidades onde houve segundo turno no último domingo. Não se está colocando em xeque nem a credibilidade em si mesma das pesquisas de intenção de voto, e nem a reputação dos institutos mencionados.
Mas teria sido muito melhor que houvesse pesquisas de boca de urna neste segundo turno. Uma pena.
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