A manifestação do dia 25 de fevereiro, organizada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, mandou alguns recados importantes para a justiça e para o atual governo, mas acima de tudo para a direita.
Em relação à justiça, acendeu o alerta. Uma possível prisão de Bolsonaro em ano eleitoral pode gerar uma comoção em parte do eleitorado, influenciando o pleito municipal. Por parte do governo, mostra que ele ainda está longe de conseguir a “união” que está no seu slogan “união e reconstrução”. O Brasil continua fortemente cindido. Mas o maior recado, creio que foi para a direita nacional.
Grande parte dela dependerá das bênçãos do ex-presidente para prosperar nas próximas eleições municipais. Figuras políticas projetadas pelo bolsonarismo ainda não conseguiram ganhar relevância própria e necessitam da força que Bolsonaro imprime às candidaturas de direita.
É certo que esse fenômeno tende a ser mais forte nos grandes centros, onde a disputa tende ser mais ideológica. Nas pequenas cidades os candidatos geralmente são conhecidos de grande parte dos eleitores. Em suas candidaturas, reforçam traços personalistas, ficando um pouco mais imunes a esta questão nacional, pesando muito mais as relações locais.
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As vantagens e desvantagens de se atrelar à figura do ex-capitão geraram um dilema que acometeu alguns políticos: comparecer ou não ao ato do dia 25. Tiveram que fazer uma conta eleitoral para decidir. Nomes como o de Ricardo Nunes (MDB-SP), atual prefeito de São Paulo, Tarciso de Freitas (Republicanos-SP), governador do estado de São Paulo e Romeu Zema (Novo-MG), governador de Minas Gerais, marcaram presença no ato do dia 25.
Ricardo Nunes, sem o apoio de Bolsonaro, dificilmente se viabiliza na cidade de São Paulo. Isso porque, apesar de ser prefeito desde 2021, após o falecimento do então prefeito Bruno Covas (PSDB-SP), não conseguiu alçar voos políticos que o cacifassem por si só. Bolsonaro, por sua vez, abraçou definitivamente a candidatura de Ricardo, uma vez que proibiu outro Ricardo, o Salles, de subir no seu palanque durante a manifestação. Ricardo Salles vivia flertando com uma possível candidatura e, é claro, desde que contasse com o apoio de Jair Bolsonaro.
PublicidadeJá o cálculo feito por Zema e Tarcisio é para 2026. Com Bolsonaro inelegível até 2030, os dois figuram como possíveis herdeiros do capital político do ex-presidente. O apoio dado no último dia 25, muito mais do que gratidão, é um investimento a médio prazo.
Voltando ao cenário das eleições municipais, o atual presidente do Partido Liberal faz uma projeção ousada para o próximo pleito. Segundo Valdemar Costa Neto, o partido quer conquistar 1.500 prefeituras em todo o país. Essa projeção do PL leva em consideração a força política de Bolsonaro. É certo que uma prisão, ou o reforço de manifestações denunciando uma perseguição, real ou não, ao ex-presidente, possa turbinar os votos na legenda, mas será suficiente para mais que quadruplicar os prefeitos da legenda?
Para chegar ao topo da lista de partidos com mais prefeituras no país, o PL terá que tomar prefeituras do PSD (Partido Social Democrático), que hoje conta com 968 prefeituras, MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que comanda 838 municípios, e PP (Partido Progressista) com 712 prefeitos. Os três partidos compõem a base do governo Lula. Isso, no entanto, não garante que os candidatos a prefeitos por estes partidos associarão suas imagens ao atual governo. Isso tudo vai depender de como estará o país no segundo semestre deste ano.
Também pesa o fato que esses partidos não possuem características nacionais, variando muito de acordo com a região e grupo político que o comanda. De modo que o PL não terá um antípoda em cada município, tendo muitas vezes adversários à direita e, não raro, apoiadores também do ex-presidente Bolsonaro, ainda que seus partidos no plano federal apoiem a gestão Lula.
De qualquer forma, as eleições que se avizinham serão um bom termômetro do capital político do ex-presidente, e o quanto ele ainda poderá interferir nas eleições de 2026. A conferir.
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