Como diria Ariano Suassuna: “…prefiro ser um realista esperançoso”. Tarefa difícil no Brasil de nossos dias. O período que antecede o Natal gera um ambiente mais desanuviado e desperta nas pessoas esperança e desejo de renovação. Mas 2024 foi um ano contraditório, repleto de boas e más notícias.
Vejamos o lado bom! Exorcizamos o fantasma do retrocesso político e consolidamos um pouco mais a nossa democracia, com o avanço das investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado. As estimativas de crescimento econômico apontavam para uma variação do PIB de 1,5%, vamos fechar 2024 com 3,5%. Não é um ritmo como o da Índia ou Indonésia, mas é um crescimento para lá de bom, acima da estimativa do FMI para o crescimento mundial de 3,2%. Certamente a política fiscal expansionista que injetou renda na economia a partir das transferências governamentais teve um papel, apesar dos efeitos colaterais preocupantes.
O IBGE trouxe outras duas boas notícias. O desemprego atingiu o menor nível, 6,2%, da série histórica da PNAD-Contínua, baixíssimo para os padrões brasileiros, apesar da grande presença de empregos informais e da baixa qualidade de uma parcela significativa dos postos de trabalho. Outra pesquisa indicou que alcançamos, em 2024, o menor nível de pobreza e extrema pobreza.
Também projetam boas perspectivas, a médio prazo, a aprovação da regulamentação da reforma tributária e a assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
O Flamengo foi campeão do Carioca e da Copa do Brasil, o Botafogo, do Campeonato Brasileiro e da Libertadores e o Atlético foi campeão mineiro. Vini Jr. foi eleito o melhor do mundo, Rayssa Leal e Rebeca Andrade brilharam e parte da torcida brasileira ficou feliz.
Mas nem tudo são flores. As turbulências econômicas nublaram o céu, que ficou longe de ser de brigadeiro. A inflação estourou a banda de tolerância do sistema de metas e chegará a 4,9%. O dólar bateu acima dos R$ 6,00, pressionando ainda mais a inflação. A Selic foi elevada para 12,25% com viés de alta. Os juros futuros dos títulos do governo foram negociados no mercado a 15%. O governo não conseguiu zerar o déficit primário. O pacote de ajuste é insuficiente, lento nos prazos e contraditório ao misturar renúncia de receitas.
A dívida pública brasileira continuou a subir, desenhando uma trajetória insustentável. A Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado Federal, estima que a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) fechará 2024 em 78,3% do PIB, chegará ao final do terceiro mandato do presidente Lula em 86,3% e transporá o perigoso patamar de 100% em 2030, chegando a 102,3%. Precisaríamos de um superávit primário de 2,4% do PIB ao ano para estabilizá-la. Os investidores reagem, fogem do real e encarecem o prêmio exigido para financiar o déficit do governo.
No plano internacional, Trump ameaça sobretaxar os produtos brasileiros. A China, cuja demanda é fundamental para as exportações brasileiras, passa por um desaquecimento com as taxas de crescimento caindo dos antigos 9% para os atuais 4,8%. Não bastasse isso, os conflitos da Ucrânia e do Oriente Médio permanecem inconclusos e podem representar ameaça global.
Mas não quero estragar o Natal de ninguém, por isso vamos com Gilberto Gil: “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”. Feliz Natal!
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