Minha ideia era falar sobre pausa, descanso, férias. Tinha pensado boas reflexões sobre a importância deste momento e a relação com a nossa vida. No meu caso, este ano trouxe até uma importante discussão de gênero que iria trazer aqui. Porém, não é possível começar 2023 falando de mais nada do que sobre os ataques ocorridos em Brasília contra a nossa democracia.
O texto que escrevi nesta coluna com maior repercussão foi exatamente sobre as manifestações em frente aos quartéis. Nele, eu chamava a atenção pelo fato de que o problema era muito maior do que estávamos vendo e que seria necessário muito diálogo, abertura e disposição para reconstruir estas pontes e o nosso tecido democrático. Se por um lado o ataque às nossas instituições confirmaram que estava certa a ideia de que o problema é muito mais amplo e profundo na sociedade, por outro demarca um limite claro de até onde vai o diálogo.
Este limite e o “mas”. É simplesmente inconcebível qualquer texto, análise, comentário sobre os violentos ataques ocorridos no dia 8 de janeiro que comece repudiando a violência, não compactuando com o quebra-quebra, com o vandalismo, com, imagina só, o escatológico, e na sequência adicionar um: mas, inconcebível.
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Não tem “mas” que caiba e insistir nele é compactuar com o golpismo que assola este país.
Nenhuma relativização vale, nenhuma comparação nem é possível, uma vez que nunca tivemos um ataque tão brutal às nossas instituições. Nenhuma reclamação faz sentido. Não cabe “mas”. Cabe condenar veementemente este ataque para que não cedam à tentação mequetrefe golpista. E veja, não se trata em concordar com o governo, com o Lula ou com o PT. Discorde, seja oposição, questione e dê trabalho, não tem problema. É da democracia. Mas não relativize os ataques.
Continuo sustentando que, para reconstruir nosso tecido social e nossa democracia, precisamos dialogar muito, aceitar o diferente, ter espaço para as divergências. Precisaremos colocar questões concretas na mesa e falar sobre elas, precisaremos de muito trabalho, de muita política e de muita colaboração. Depois dos números assustadores de pessoas que apoiam o vandalismo apontado nas pesquisas, sabemos que nosso trabalho é ainda maior. Precisaremos sim lidar com o diferente.
Porém, agora, só isso não será suficiente. Após estes ataques impensáveis e horrorosos, precisaremos também investigar e punir exemplarmente todos os culpados pelo o que são: terroristas. Sem nenhum tipo de relativização.
É democracia, mais do que isso, e civilidade básica. Tem que ser punido para que não se esqueça, para que não se repita.
Não cabe mais.
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