Empossado o novo governo, trate-se agora de encaminhar soluções para os grandes problemas nacionais. Grande expectativa há em relação à área da saúde.
Temos problemas crônicos no SUS e a pandemia realçou a importância das políticas publicas de saúde. Mas certamente a condução da pandemia não foi das melhores. O Brasil é o 17º. país do mundo em número de mortes por milhão de habitantes. Temos 2,7% da população mundial e 11% das mortes.
O presidente Lula nomeou para o Ministério da Saúde a cientista Nísia Trindade, a primeira mulher a ocupar o posto. Ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz, se saiu bem na construção das parcerias para a produção das vacinas contra o coronavírus e tem bom relacionamento com a comunidade científica internacional e com os organismos multilaterais. Sua nomeação sinaliza compromisso com a ciência e com o sistema público de saúde. Certamente, por sua respeitabilidade, conseguirá formar uma boa equipe.
Tendo dedicado os últimos 20 anos de minha vida à construção de um sistema nacional de saúde qualificado e inclusivo, não tenho dúvidas de que o maior desafio é a reestruturação e melhoria da atenção primária através da estratégia de saúde da família. De nada adianta avançar na atenção hospitalar, ambulatorial especializada, diagnóstica ou farmacêutica, se tivermos o centro de gravidade coordenador das necessárias redes integradas de atenção à saúde fragilizado. O perfil da carga de doenças, há décadas, aponta o predomínio das condições crônicas de saúde. Ou cuidamos da saúde na raiz, em cada bairro ou distrito rural, ou continuaremos a enxugar gelo na porta dos hospitais e no balcão das farmácias, reafirmando um sistema fragmentado, desintegrado, caro e com baixos indicadores de eficiência.
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Hoje temos mais de 51 mil equipes da estratégia de saúde de família espalhadas pelo Brasil, com 168 milhões de brasileiros cadastrados na atenção primária. Mas não basta expandir a cobertura sem qualificar e tornar mais resolutivo o primeiro nível de contato dos brasileiros com o SUS. Há sintomas de graves lacunas na sua eficácia. Cito dois. O primeiro é a preocupante queda na cobertura vacinal. O Brasil sempre foi modelo internacional na esfera da imunização. A cobertura vacinal está despencando: em 2019, 73% dos cidadãos brasileiros estavam imunizados, isto caiu para 67%, em 2020, e bateu nos 59%, em 2021, o patamar ideal preconizado é 95%. O SUS oferece gratuitamente todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. E o principal ator mobilizador é exatamente a atenção primária.
Outro sintoma verifiquei pessoalmente nas viagens ao interior de Minas nos últimos meses. Implantamos, na nossa gestão à frente da SES/MG, o protocolo de classificação de risco, onde o paciente é caracterizado com vermelho, laranja, amarelo, verde ou azul. Em todos os hospitais de regiões diferentes que visitava perguntava à direção qual o percentual de verdes e azuis em suas portas de entrada. Resposta recorrente: 70%. Isto é um sinal claro de fracasso da atenção primária. Estes pacientes deveriam ser cuidados no nível da atenção primária.
É urgente uma ação ambiciosa de qualificação da estratégia de saúde da família, sem o que, com recursos escassos, não conseguiremos melhorar os indicadores de saúde da população.
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