Desde o Sete de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro vem dobrando a sua aposta no tudo ou nada. Naquela data, ele praticamente ignorou que o país comemorava 200 anos da sua independência e transformou a efeméride em um grande comício de campanha.
Agora, o presidente primeiro pega o avião presidencial e sua condição de chefe de Estado para, primeiro, transformar os funerais da rainha Elizabeth II em novo comício de campanha em terras londrinas. Depois, a bordo do mesmo avião presidencial desembarca em Nova York para transformar a tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas em palanque eleitoral.
A tudo isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assiste impávido, careca como o ministro Alexandre de Moraes de saber que é crime. Que houve grossa ultrapassagem dos limites. Que Bolsonaro vem claramente misturando a sua condição de presidente da República à sua campanha de reeleição. Cometendo o que a legislação considera claramente abuso.
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Mas o TSE provavelmente não irá fazer nada. E essa é a aposta de Bolsonaro. Na verdade, nada diferente do que ele sempre faz na sua vida política. A estratégia de Bolsonaro tem sido sempre caminhar no fio da navalha. É algo baseada na tática militar de tentar conquistar cabeças de ponte, como já explicamos por aqui algumas vezes. Cabeça de ponte é uma área avançada no território do inimigo. Se você invade tal área e o inimigo cede, se avança a partir daquele ponto. Se o inimigo reage, se recua. No Sete de Setembro do ano passado, Bolsonaro avançou para a tentativa de dar o seu golpe. Viu que não tinha apoio e recuou.
Ao longo da sua vida, ele sempre se comportou assim. Na gênese da sua carreira política, escreveu um artigo para a revista Veja reclamando do salário dos militares. Poderia ter sido expulso do Exército. Não foi. Foi convidado a sair numa negociação. E iniciou ali a sua carreira de sindicalista militar.
Em diversas ocasiões, desafiou os regimentos do Parlamento em casos de quebra de decoro. Poderia ter sido cassado. Não foi. Construiu, assim, sua imagem de “mito”, que fala o que pensa sem fazer concessões ao politicamente correto. Quando a direita encontrou uma brecha provocada pelo desgaste do PT com as denúncias de corrupção da Lava Jato, achou que poderia tê-lo como candidato para derrotar o PT. Bolsonaro foi eleito e tornou-se algo incontrolável para o núcleo mais moderado dessa direita. Então, desafiou os limites da sua condição de presidente. Poderia ter sofrido impeachment. Não sofreu. Cedeu o que podia e o que não podia ao Centrão para sobreviver. Tornou o PL o maior partido da Câmara.
PublicidadeAgora, em desvantagem na corrida eleitoral, parte para o tudo ou nada extrapolando as regras porque sabe que a doze dias da eleição nada será feito. E que, se algo for feito, ele terá as condições para posar de vítima e dizer que essa é a demonstração clara do que ele dizia de estar sendo perseguido e que o processo eleitoral é uma fraude. Bolsonaro tem uma militância estridente que certamente não aceitaria a essa altura uma eleição decidida no carpete da Justiça Eleitoral.
Que efeito tudo isso terá para o eleitor, é difícil dizer. Aparentemente, tais avanços não comovem a maioria, que apontam preferência por Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Mas o jogo de Bolsonaro é empurrar a eleição para o segundo turno. E isso é coisa que ele ainda pode ter capacidade de conseguir.
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