Qualquer brasileiro de boa memória ou que tenha dedicado um olhar mais atento à história da nossa República deve lembrar do fato, lá da década de 70, que culminou com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, que passaram a ser uma única unidade da federação brasileira, no dia 1° de julho de 1974, por força de um decreto presidencial, assinado por Ernesto Geisel.
A fusão aconteceu, de fato, a partir do dia 15 de março de 1975, mantendo a denominação de estado do Rio de Janeiro.
A Guanabara foi um estado do Brasil no período de 1960 a 1975, localizada no território do atual município do Rio de Janeiro, cuja área compreendia o antigo Distrito Federal do país, de 1891 a 1960, ano em que o status de capital da República foi transferido para Brasília, construída por Juscelino Kubitscheck, no Centro-Oeste, num ponto equidistante de todas as regiões do país, como definia nossa Constituição.
Com isso, o Rio de Janeiro deixou de ser a sede do Governo Federal e a cidade se tornou o estado da Guanabara, em 1960.
A fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro não era uma ideia nova, mas sempre enfrentava resistências variadas, como nos lembra a historiadora Marieta de Moraes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destacando que não houve um plebiscito com consulta à população, o que “colocava em jogo, acima da fusão, a autonomia do antigo Distrito Federal em relação ao Governo Federal e o consequente controle do poder local. Como se sabe, a autonomia foi obtida via a criação do estado da Guanabara”.
A também historiadora Marly Motta, destaca que “a fusão anulava a singularidade da antiga Guanabara em prol de sua integração ao novo estado do Rio de Janeiro, cuja implementação teria que lidar com a identidade política de duas regiões forjada pela memória que cada uma delas construiu de seu próprio passado. De um lado, a cidade do Rio de Janeiro, capital do país por mais de cem anos, há 15 ocupando um lugar singular na federação, o de estado-capital, e lutando para conservar o seu tradicional papel de “caixa de ressonância” do país; de outro, o antigo estado do Rio, a “Velha Província”, dividido entre a atração pela “cidade maravilhosa” e o medo da suburbanização”.
Recorro a este fato histórico como âncora para trazer à luz o inquietante quadro de necessidade de ajuntamento, de reconciliação que impacta em nosso país.
Muito provavelmente, tenhamos nos dias atuais o indefectível exercício de debater como tornar o Brasil, de novo, um país de irmãos, capaz de unir negros e brancos, ricos e pobres, homens e mulheres, civis e militares, católicos e pentecostais e tantas outras classes que podem sugerir algum antagonismo natural só pelo fato de estarem em trincheiras distintas, a reboque de um debate insano que corroeu na alma brasileira a cordialidade e a tolerância mais marcantes de nossa formação como povo e nação.
O Brasil precisa refundir-se, necessita de uma reconciliação no espírito de sua própria gente.
O clima de antagonismos pseudo ideológicos tem que ser extirpado das nossas relações. Nós não podemos capitular diante de uma ardilosa tramoia de sofismática polarização como a ser o condão que vai definir se estaremos de forma única em um ou outro polo.
Diferente da fusão ocorrida em terras cariocas/fluminenses na década de 70, nós vamos ter sim a participação do povo. Mas destaco, não será apenas para manifestação de uma posição plebiscitária de sim ou não. O pleito que se avizinha traz outras possibilidades, outras opções e propostas de governo. Devemos ficar atentos para observá-las.
A nossa gente vai ter a oportunidade de apontar que cenário de futuro queremos construir para o país.
Iremos nos reconciliar como irmãos??
Estaremos dispostos a promover uma fusão de espírito fraterno para defender os interesses de quem realmente precisa de políticas públicas que ajudem na emancipação humana pela boa educação, pela assistência à saúde de qualidade, pela promoção das oportunidades de emprego e renda?
Meu inalienável sentimento de esperança sinaliza no sentido de que iremos ter uma oportunidade única de reconciliarmos nossa nação com um futuro mais digno, com uma convivência mais fraterna, com o mais dilatado quadro de respeito ao próximo!!
Nossa fusão com os pilares fundamentais da democracia será uma contundente declaração de amor e harmonia do Brasil com a sua própria gente!!!