Fábio Góis
Ela tem 27 anos, nasceu em Barueri (SP), é solteira e, “brasileira nata”, foi simplesmente a terceira deputada federal mais votada de São Paulo nestas eleições – a décima em nível nacional (confira a lista dos dez mais abaixo). Cabelos lisos e claros, feições delicadas, depois de eleita deputada Bruna Dias Furlan candidata-se agora ao posto informal de “musa do Congresso” – honraria que, na atual legislatura, é conferida à deputada gaúcha Manuela d’Dávila (PCdoB) e, para os saudosos da bancada Constituinte, à loira de olhos azuis Rita Camata (PSDB-ES).
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bruna Furlan (PSDB) recebeu 270.611 votos – votação mais expressiva do que a obtida por muito político veterano. Por falar em político tradicional, Bruna faz parte de uma família conhecida no meio: é filha do prefeito de Barueri, Rubens Furlan, e sobrinha do secretário de Educação do município, Celso Furlan. Ambos têm problemas com a Justiça, a exemplo da própria Bruna (leia mais abaixo).
“Eu costumo dizer que respiro política porque meu pai exala política”, diz Bruna em vídeo postado no Youtube – com direito a cenas de maquiagem, o clipe bem produzido, com música instrumental ao fundo, tem características de making-off de modelos em divulgação de suas sessões de fotos. Até a publicação desta matéria, aproximava-se de 17 mil o número de acessos ao filmete – finalizado com crianças ao redor da protagonista, todos abraçados pela bandeira nacional, e punhos cerrados sinalizando força.
Confira o vídeo:
Evangélica, a agora deputada se prepara para tomar posse em 1º de fevereiro de 2011, e se incorporar à Frente Parlamentar Evangélica, liderada por seu colega de partido João Campos. Bruna chega para integrar um colegiado enfraquecido depois do golpe que sofreu nas urnas, no último dia 3: caiu de 40 para 30 o número de deputados evangélicos na Câmara.
“Político, sobretudo, tem de ser capaz de provocar esperança no povo. Mas uma esperança equilibrista, porque de um lado está a esperança do povo, e do outro lado está a responsabilidade do político”, costuma discursar Bruna, pedindo emprestado a Elis Regina a figura de linguagem registrada na letra “O bêbado e o equilibrista”, clássico composto por João Bosco e Aldir Blanc.
A reportagem tentou entrar em contato com Bruna, mas um assessor disse que ela estava viajando. Parte das informações deste texto foi obtida na página oficial da então candidata – site que, contrariando a legislação eleitoral, estava no ar em pleno domingo (3) de votação, à disposição de qualquer eleitor-internauta.
Furlan no CQC
O pai e o tio de Bruna também ganharam um destaque nada positivo em vídeo – desta vez, em proporções nacionais, no programa humorístico-jornalístico Custe o que Custar, o CQC, um dos campeões de audiência da TV Bandeirantes.
Secretário de Educação de Barueri, Celso Furlan foi alvo no quadro Proteste Já, em que cidadãos de todo o país são instados a denunciar irregularidades em seus municípios. Na ocasião, o programa preparou uma pegadinha que consistia na doação de uma TV de plasma para uma escola da rede municipal. Com o detalhe de que um chip foi instalado no aparelho de maneira a rastrear o destino da doação. Resultado: a TV encontrou lugar na estante não do centro de ensino, mas da casa de uma funcionária da Secretaria de Educação.
Depois de versões desencontradas – inclusive do prefeito Rubens Furlan, pai de Bruna –, cenas constrangedoras de funcionários deslocando a TV de um lado para o outro, tudo temperado com a hilária insistência do repórter Danilo Gentili, veio o escárnio. “Vocês são uns babacas sem talento, uns tontos, malandros! E quem é aquele careca debochado, aqueles palhaços todos, sem nenhum talento, que se prestam a desmoralizar as pessoas. Custe o que Custar, esses babacas…”, bradou Rubens ao microfone de Danilo, que queria esclarecimentos da Prefeitura sobre o caso.
A reportagem sobre o caso, sem sequer ter sido veiculada, foi censurada por ordem da Justiça local, sob o argumento de que não houve direito de resposta – um erro na interpretação da lei, uma vez que o direito de resposta é concedido a quem tiver a honra despropositadamente atacada em material tornado público. Na semana seguinte, a denúncia foi ao ar no CQC, com ainda mais detalhes.
Confira o vídeo com as ofensas do prefeito, as explicações do secretário e o protesto dos vereadores aliados na Câmara Municipal de Barueri contra o CQC:
Abraçar o futuro
Os primeiros passos de Bruna na área da assistência social foram dados como diretora da Associação dos Amigos de Crianças com Deficiências Físicas e Mentais (AACD). Na bagagem, os cursos de Direito, pela Universidade Paulista, e pós-graduação em Gerenciamento de Cidades, pela Fundação Armando Álvares Penteado.
Na propaganda virtual, a campanha de Bruna tascou no Youtube uma canção pop-romântica para reforçar o ar de beldade da deputada, sem tirar-lhe a ideia de dinamismo. “É hora de abraçar o futuro / vamos à luta para o Brasil melhorar com Bruna Furlan deputada federal / é fé na vida, fé no que virá”, diz trecho introdutório do jingle de campanha, em melodia que lembra o estilo da dupla de compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas, cujos hits dominavam as paradas dos anos 80.
Pelo número de acessos – 121 exibições, até o fechamento desta matéria –, o vídeo destoou do sucesso nas urnas. “O futuro já chegou/ fé no amanhã / deputada federal / é Bruna Furlan”, exorta o refrão do jingle (que tem versões em outros ritmos), ao clichê das palmas ao fundo com interrupção dos instrumentos.
Confira:
Compra de votos
Mas nem tudo são flores e delicadeza na trajetória de Bruna. Ela responde a ação por compra de votos, antecipação da campanha eleitoral e abuso de poder político no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), movida pelo Diretório Estadual do PT.
O processo judicial, diz o jornal Folha de S.Paulo, teve origem depois da exibição de um vídeo a que o periódico teve acesso, no qual Bruna teria cometido irregularidades eleitorais. Nas imagens, ela aparece ao microfone cercada de correligionários, relatando como faz para favorecer seu eleitorado junto ao secretário de Saúde de Barueri, Maurício Tundisi, em termos de atendimento médico. Antes, Bruna faz menção ao pai.
“Estive em Carapicuíba [São Paulo] e as pessoas falaram assim pra mim […]: Bruna, o mandato de seu pai está acabando. Eu disse ‘olha, faltam três anos, mas a gente já está no segundo mandato’. [Ao que os interlocutores responderam] ‘Pede pra ele vir ser candidato aqui, a gente vota nele, ele vai ganhar a eleição’”, narra a então candidata, interrompida por aplausos.
Em seguida, Bruna diz como faz para estender aos moradores de municípios vizinhos os benefícios da saúde pública, valendo-se dos préstimos do subordinado de seu pai, e acrescenta que está “desesperada atrás de voto”: “Quando eles vêm ser atendidos no Sameb [Serviço de Assistência Médica de Barueri], que a tia Ana carrega o piano lá, o doutor Maurício… O que eu dou de problema, o que eu dou de encrenca para vocês. Mas eu tô desesperada atrás de voto, eu preciso da vaga logo, eu preciso do médico, eu preciso do remédio [sic]”, declara a deputada, novamente aplaudida. Pai e mãe de Bruna, Sônia Furlan, aparecem no vídeo, gravado em setembro de 2009.
A “tia Ana” a que Bruna se refere na filmagem é a chefe de gabinete do “doutor” Maurício Tundisi. Como a Justiça eleitoral só autorizou a realização de campanha a partir de julho deste ano, o PT pede a cassação do diploma da deputada, bem como a declaração de inelegibilidade do prefeito e dos secretários de Saúde e de Educação.
Confira o desempenho de Bruna entre os dez candidatos a deputado federal mais votados do país, segundo os números divulgados pelo TSE:
1º – Tiririca (PR-SP): 1.353.820 votos
2º – Anthony Garotinho (PR-RJ): 694.862
3º – Gabriel Chalita (PSB-SP): 560.022
4ª – Manuela d’Avila (PCdoB-RS): 482.590
5º – Ana Arraes (PSB-PE): 387.581
6º – Ratinho Jr. (PSC-PR): 358.924
7º – Eduardo da Fonte (PP-PE): 330.520
8º – ACM Neto (DEM-BA): 328.450
9º – Rodrigo de Castro (PSDB-MG): 271.304
10º – Bruna Furlan (PSDB-SP): 270.611
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