A história do conjunto de joias de R$ 16,5 milhões que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou fazer entrar ilegalmente no país desnorteou os planos iniciais do PL. Mas, passada a repercussão inicial, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, entende que a imagem da mulher de Bolsonaro, Michelle, manteve-se preservada. Assim, bateu o martelo: Michelle Bolsonaro tomará posse como presidente do PL Mulher em um grande evento marcado para o dia do seu aniversário, 22 de março, quando fará 41 anos.
Até lá, o partido apressará os trâmites burocráticos para a posse. A indicação de Michelle para o PL Mulher precisa ser referendada pela Executiva do partido. Além disso, ela está agora montando sua própria equipe de assessoramento. Michelle é neófita na política. Segundo interlocutores do partido, ela própria está um pouco insegura e pedindo essa estruturação para dar início a essa trajetória mais pública.
Frustração com Bolsonaro
A aposta em Michelle é o caminho escolhido por Valdemar Costa Neto a partir de certa frustração até o momento com o posicionamento do ex-presidente Jair Bolsonaro desde que optou por um autoexílio nos Estados Unidos após a derrota nas eleições de outubro do ano passado. Valdemar tem optado pelo silêncio com relação a isso. Mas essa frustração acabou explicitada pelo presidente do Republicanos, Marcos Pereira, ao jornal Folha de S. Paulo publicada no sábado (11).
Marcos Pereira disse coisas que também andam repercutindo entre os demais integrantes do Republicanos e do PL. O segundo é o partido de Bolsonaro. O primeiro o outro braço da direita no país, legenda de nomes como a senadora Damares Alves (DF) e o senador Hamilton Mourão (RS), ex-vice-presidente da República.
“Se ele fosse líder da oposição, deveria estar fazendo oposição aqui no Brasil”, criticou o presidente do Republicanos. “Ele é um turista nos Estados Unidos. Você só faz oposição presente”.
No caso do Republicanos, Marcos Pereira já demonstra que seu partido estuda alternativas a Bolsonaro no campo da direita. Dentro do próprio Republicanos, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Fora do partido, nomes como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, ou do governador do Paraná, Ratinho Júnior, do PSD.
PublicidadeNo PL, Valdemar Costa Neto avalia que ainda não há um líder de massas do porte do próprio Bolsonaro para ocupar esse posto de principal referência da direita. Ele acha que, quando Bolsonaro voltar ao Brasil, ainda será útil ao partido. Mesmo que acabe ficando inelegível, uma possibilidade que o partido já começa a considerar de forma mais concreta. Bolsonaro responde a ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que estão sendo conduzidas pelo ministro Benedito Gonçalves.
Ainda que seja condenado e se torne inelegível, o PL entende que Bolsonaro terá força suficiente para agir como cabo eleitoral importante para a eleição municipal do ano que vem. O PL planeja eleger 900 prefeitos. Elegeu nas últimas eleições 343.
Mas, caso fique inelegível, obviamente o PL terá que ter outra opção eleitoral em seguida. E é aí que entra a aposta em Michelle. Ainda que não seja para presidente. Inicialmente, pensa-se nela como possível candidata ao Senado.
O caso das joias
O autoexílio de Bolsonaro, de fato, desnorteou o PL. Inicialmente, o partido contava com Bolsonaro desde o início do ano para liderar a oposição. Mas, desde o início, começou a ficar clara a dificuldade de interlocução com o ex-presidente, de combinação de estratégias e de previsibilidade quanto a seus atos e reações. Valdemar não sabia onde Bolsonaro ficaria nos Estados Unidos. Nem conseguiu durante esse período estabelecer um contato mais constante com ele.
Após os atos de vandalismo e a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, o próprio Valdemar começou a considerar que seria melhor Bolsonaro mergulhar por um momento. Mas imaginava tê-lo de volta ao final do mês de março. Então, eclodiu o escândalo das joias.
Valdemar optou, então, pelo absoluto silêncio com relação ao caso. Oficialmente, mandou dizer que essa era “uma questão privada da família”. E as estratégias diferentes na família têm produzido, avalia-se, certa blindagem de Michelle.
A partir do momento em que o próprio Bolsonaro admitiu ter ficado com o segundo estojo de joias, o conjunto masculino, também da joalheria Chopard, que contém um relógio, um par de abotoaduras, uma caneta e um anel, tornou-se impossível desassociar o ex-presidente do episódio. No caso dos dois conjuntos, presentes do governo da Arábia Saudita, a tentativa foi que entrassem no Brasil de forma ilegal, sem a declaração na Receita. O conjunto masculino passou. O conjunto feminino, de valor bem mais alto, foi encontrado na mochila do sargento Marcos André Soeiro, então assessor do agora ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, e ficou retido na Receita. O conjunto feminino, avaliado em R$ 16,5 milhões, tem um colar de diamantes, um relógio também coberto de diamantes, um anel e um par de brincos.
Inicialmente, Bolsonaro chegou a declarar sobre as joias: “Não pedi, nem recebi”. Uma vez que ele está de posse do conjunto masculino, a hipótese de que não sabia e não tinha recebido, por óbvio, para ele não se sustenta. Mas se sustenta para Michelle. O conjunto não chegou até ela, e não há nada que comprove que ela sabia dele.
É no que aposta agora o PL para tratar de turbiná-la politicamente. No dia 22 de março, ela recebe o PL Mulher das mãos da atual presidente, a deputada Soraya Santos (SP). E o partido tratará de alavancá-la.
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