Após declarações na mídia, publicadas no sábado (5), em que Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, defendeu a união dos estados do Sul e do Sudeste para barrar propostas no Congresso que possam favorecer as outras regiões do país, foi a vez do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se pronunciar no domingo (6), via sua conta no twitter, para amenizar o tom da entrevista concedida por Zema ao jornal O Estado de S. Paulo e para apoiar a frente de estados do Sul-Sudeste.
Zema defendeu a atuação do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), atualmente presidido pelo governador Ratinho Júnior (PSD-PR), como forma de conquistar “protagonismo político”. As críticas do governador foram dirigidas, principalmente, às regiões Norte e Nordeste. O nome de Zema foi parar na lista dos assuntos mais comentados do Twitter, com acusações de xenofobia contra o governador mineiro. Apesar da repercussão negativa, o governador do RS apoiou a frente Sul-Sudeste.
PublicidadeSeremos todos mais fortes quanto mais formos um só Brasil. 🇧🇷
Não acredito que o governador Zema tenha dito nada diferente disso. Se disse, não me representa. pic.twitter.com/18JSLCsA1K
Publicidade— Eduardo Leite (@EduardoLeite_) August 6, 2023
“Pessoal, sobre a formação de estados do Sul e do Sudeste, eu quero me manifestar aqui. A gente nunca achou, até hoje, que os estados do Norte e do Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país. Pelo contrário, a união desses estados em torno da pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa, finalmente, fazer o mesmo. Não tem nada a ver com frente de estados contra estados ou região contra região. Se trata de nós nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante para os estados do Sul e do Sudeste. Ações para o desenvolvimento, questões tributárias, enfrentamento à pobreza, governança federativa, proteção ao meio ambiente, defesa do agronegócio, enfrentamento ao crime São alguns dos temas, mas entre essas pautas não está descriminar, desunir e desintegrar nenhuma parte da federação porque nós vamos ser todos mais fortes quanto mais formos uma só nação. É nisso que eu acredito. Um abraço!”, disse o governador.
Justificativa
Segundo Zema, estados do Sul e Sudeste arrecadam muito mais para a União e recebem muito menos de volta. “Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”, afirmou. “Temos 256 deputados – metade da Câmara – 70% da economia e 56% da população do país. Não é pouco, né? Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos, nós queremos – que é o que nunca tivemos – o protagonismo político”, acrescentou.
A ignorância e o preconceito de Zema são atributos seus muito conhecidos. Mas que não deixam de envergonhar toda vez que vêm a público. O alento é saber que Minas e os mineiros são muito maiores do que esse funesto sujeito, acidente político em um estado de história tão altiva. pic.twitter.com/BSaujaahZX
— Humberto Costa (@senadorhumberto) August 5, 2023
Os governadores dos nove estados do Nordeste reagiram neste domingo (6), em nota pública, às declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de que a região recebe tratamento privilegiado da parte da União. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Zema defendeu “protagonismo político” do Sul e do Sudeste e comparou as duas regiões economicamente mais pobres do país (Norte e Nordeste) a “vaquinhas que produzem pouco” e são tratadas melhor que as demais.
Para o Consórcio Nordeste, iniciativa que reúne os nove governadores da região, Zema demonstra uma leitura preocupante do Brasil. “Indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades”, diz o comunicado do consórcio, presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB).
INACEITÁVEL a fala abjeta e preconceituosa de Romeu Zema. O sujeito desrespeita o Nordeste sempre que pode. Ainda teve a pachorra de afirmar que as críticas à concentração de renda “tem de ter limite”. Logo ele, dono de um patrimonio declarado de R$130 milhões. Não passarão!
— Ivan Valente (@IvanValente) August 5, 2023
Ao invés de trabalhar por Minas, Zema resolveu escancarar de vez o seu ódio pelo povo e sua xenofobia contra o Nordeste. Quanta raiva!
“Nós queremos protagonismo político”, diz Zema ao anunciar frente do Sul-Sudeste contra Nordeste | @EstadaoPoliticahttps://t.co/uaEdfU3ySK
— Rogério Correia (@RogerioCorreia_) August 5, 2023
Na entrevista, Zema defendeu a atuação do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), atualmente presidido pelo governador Ratinho Júnior (PSD-PR), como instrumento para enfrentar o que ele chama de protagonismo político desproporcional dos estados do Norte e Nordeste, que, segundo o governador, recebem muito mais do que arrecadam da União. O mineiro desconsiderou, completamente, a necessidade de políticas de reparação de desigualdade regional.
As declarações de Zema repercutiram negativamente nas redes sociais nesse sábado. Cotado como um possível candidato a presidente pela direita, o governador mineiro foi acusado de xenofobia.
Veja a nota dos governadores do Nordeste:
“NOTA OFICIAL
O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.
O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.
É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.
Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.
A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na
sustentabilidade e acredita no seu povo.
Assim, nós, governadoras e governadores da região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.
João Azevêdo
Presidente do Consórcio Nordeste
Governador do Estado da Paraíba”
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