A edição do Diário Oficial da União desta quinta-feira (17) anuncia a Lei 14.649, que inscreve o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Assassinada há 40 anos na porta de sua própria casa, uma das maiores sindicalistas do país, foi vítima de uma tentativa de silenciamento. Margarida Alves morreu, mas em seu lugar brotaram mais 150 mil margaridas, que, de quatro em quatro anos, desde 2000, se reúnem em uma marcha em Brasília com o objetivo de visibilizar as agricultoras, chefes de família e mulheres do campo.
A nova norma representa uma vitória não só para as margaridas, mas para todas as mulheres, cujas vozes são inúmeras vezes silenciadas na história por apelos violentos de homens poderosos. Aprovado pelo Plenário do Senado na terça-feira (15), no primeiro dia da marcha de 2023, o projeto do PLC 63/2018 não surpreende ao ser de autoria de uma mulher, a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que recebeu a notícia de sua aprovação enquanto marchava junto às Margaridas no sol escaldante de Brasília.
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Antes de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, papel que assumiu durante 10 anos, Margarida era camponesa, mãe e nordestina. Nascida em 5 de agosto de 1933, no Brejo da Paraíba, era a mais nova de uma família de nove irmãos e viveu no Sitio Jacu, zona rural de Alagoa Grande. Quando Margarida tinha 22 anos, acompanhou a família ser expulsa de sua terra por grandes latifundiários e teve que se mudar para a periferia de Paraíba. Como muitas mulheres vítimas da pobreza, Margarida não conseguiu estudar e só completou a quarta série do Ensino Fundamental bem mais velha do que a média.
Sentindo na pele o peso de viver do campo, Margarida dedicou sua vida a lutar pelos direitos básicos dos trabalhadores rurais em Alagoa Grande, além da permissão para que pudessem cultivar suas próprias terras e o fim do trabalho infantil nas lavouras e canaviais. Ela criou um programa de alfabetização de adultos voltado aos trabalhadores e foi a responsável por mover mais de 100 ações na Justiça do Trabalho de Alagoa Grande, se tornando grande inimiga da injustiça e, consequentemente, dos grandes homens que a perpetuam.
Foi morta com um tiro no rosto, no dia 12 de agosto de 1983. A arma, uma espingarda de calibre 12, era carregada por um assassino de aluguel contratado pelos fazendeiros da região. Seu filho de 8 anos brincava na calçada quando Margarida atendeu a porta. O homem que a encarava perguntou: “É dona Margarida?”, e prontamente a sindicalista respondeu que sim. Ali, na porta de sua casa, morreu. Casa simples que anos depois, em 2001, virou museu. Na fachada do local segue escrita, até hoje, uma frase de Margarida, que cumpriu até o dia de sua morte, ao responder seu nome com orgulho: “Da luta eu não fujo”. (Por Bruna Pauxis)
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