Morreu nesta segunda-feira (12), aos 96 anos, o economista Antônio Delfim Netto. Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e ex-deputado federal, Delfim estava internado há uma semana no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, em decorrências de complicações no seu quadro de saúde.
Um dos principais responsáveis pelo chamado “milagre econômico”, Delfim foi um dos mais longevos ministros da Fazenda. Ocupou o cargo entre 1967 e 1974 durante os governos militares. Em 1968, foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5 (AI), decreto que permitiu a cassação de políticos eleitos nas esferas federal, estadual e municipal, autorizou o presidente da República a intervir nos governos de estados e municípios e permitiu a suspensão de direitos e garantias constitucionais individuais como habeas corpus, entre outras medidas.
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), também foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, ministro da Agricultura (1979) e embaixador do Brasil na França (1975-1977). Depois da ditadura, foi deputado federal por 20 anos, entre 1987 e 2007.
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Entre 1968 e 1973, período conhecido como o “milagre econômico brasileiro”, a economia cresceu, em média, 10,2% ao ano, com pico de 14% em 1973. Incentivos ao agronegócio e à indústria, além da construção de grandes obras, marcaram esse período. Como consequência, vieram a disparada da inflação e do endividamento público externo. Ao final da ditadura militar, em 1985, a inflação anual passava de 220%. De 1964 a 1985, a dívida externa saltou de US$ 3,2 bilhões para US$ 105 bilhões. “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, defendia o então ministro da Fazenda. A partilha do bolo, no entanto, não ocorreu.
Em 2013, durante sessão da Comissão da Verdade, o economista disse que apoiaria novamente o AI-5 “se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco”. “Eu não só assinei o Ato Institucional número 5 como assinei a Constituição de 1988, (mas) nunca apoiei a repressão”, alegou. Segundo ele, em determinados momentos deve ser concedido ao presidente “a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais, absolutamente necessárias para que este país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez”. “Eu não só assinei o Ato Institucional número 5 como assinei a Constituição de 1988, (mas) nunca apoiei a repressão”, declarou na ocasião.
Apesar de seus fortes laços com os governos militares, Delfim Netto foi conselheiro informal do presidente Lula em seus dois primeiros mandatos. Em 2018, a Operação Lava Jato indicou que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci repassou R$ 15 milhões a Delfim. Segundo a força-tarefa, foi comprovado que pelo menos R$ 4,4 milhões de empresas vencedoras de licitação foram pagos a ele e a um sobrinho, por meio de contratos fictícios. Delfim negou irregularidades e disse que os serviços foram prestados.
PublicidadeO economista deixa uma filha e um neto. O velório dele será fechado, restrito a familiares.
Nota do Planalto
O presidente Lula emitiu uma nota de pesar aos familiares, amigos e alunos de Delfim Netto.
“Delfim Netto foi economista, professor, ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura. Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes.
Em um curto espaço de tempo, o Brasil perdeu duas referências do debate econômico no país: Delfim Netto e Maria da Conceição Tavares. Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser debatido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos’, diz a nota.
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