George Hilton*
Quem sai aos seus não degenera! É um ditado português que destaca a importância do legado deixado pelos ascendentes para preservar a estirpe familiar. Por analogia, se pode dizer que a importância da família para o português foi tão consolidada que se refletiu na própria nação.
Portugal é um pequeno país limitado de um lado pelo oceano e, do outro, cercado por espanhóis. Foi o primeiro estado da Europa e permanece íntegro desde a fundação. A Espanha continua envolvida com movimentos separatistas, como agora com a Catalunha.
Quando olhamos para as nações devemos sempre considerar a tradição cultural que ela carrega. Somos um país limitado de um lado pelo oceano e, do outro, cercado por espanhóis. Enquanto a posse colonial espanhola se degenerou em vários países nem sempre amigos, o Brasil, como Portugal, permaneceu único.
Causa-me estranheza o surgimento de pregações de secessão do país, por conta de uma corrida eleitoral. Não ficaria preocupado com manifestações de rua, após a apuração dos votos, porque a nossa tradição entende o protesto do derrotado. Afinal, estamos acostumados com a emoção do campeonato brasileiro.
Nas manifestações de rua ainda é esperado algum exagero. Sabemos que a pessoa quando é envolvida pela massa, a ponderação e a racionalidade acabam ficando menores do que quando está sozinha. Mas o que surpreendeu foi o desprezo que se viu de brasileiros, nas redes sociais, com os nordestinos e dependentes do Bolsa Família, pelo resultado das eleições.
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Ainda não se tem uma análise científica definitiva sobre como fica a personalidade da pessoa quando ela está de frente com o mundo virtual. Será que ela se comporta de maneira similar à do motorista, que se sente poderoso quando está no volante de um carro possante?
Se assim for, o militante virtual deve se sentir possuidor de uma sabedoria excelsa, porque se sente capaz de sintetizar toda a complexidade da sociedade e da política pelos aspectos geográficos e sociais. Não é muita pretensão desses “sociólogos de internet”?
A frustração eleitoral afeta tanto a psicologia do militante virtual, que ele sequer faz o cotejamento da sua tese geográfico-social com a realidade e com a história. Se ele milita pela secessão dos estados do sul do Brasil, por causa do resultado das eleições presidenciais no nordeste, ele esquece que a maioria dos nordestinos e seus descendentes vivem em São Paulo.
A história também mostra que a primeira defesa da nossa soberania territorial se deu justamente no nordeste. Em Pernambuco, colonos portugueses, escravos negros e indígenas unidos expulsaram os invasores holandeses. Quem sai aos seus não degenera, e nós permanecemos juntos.
Podemos também comparar com o mundo. Enquanto muçulmanos e judeus se matam por um deserto, aqui, judeus, árabes, católicos e evangélicos convivem em mesmos bairros e nas mesmas ruas e se confraternizam nas festas de aniversário dos filhos. A nossa tradição não é de segregação.
Mas se o militante quiser mesmo tentar descobrir a causa da derrota, por que não considera que o eleitor escolhe racionalmente? As estatísticas econômicas mostram que, com toda a crise econômica, os estados do nordeste foram os que mais apresentaram crescimento econômico. Neste cenário, trocar o certo pelo duvidoso seria uma decisão racional? Tenho certeza de que a mesma pessoa que divulga ideias de separação norte-sul, quando se vê na mesma situação vai votar pelo certo e não pelo duvidoso.
Essa é a nossa maneira, que vem de um conservadorismo histórico que repele aventuras que pregam um futuro hipotético. Expulsamos juntos os holandeses, porque preferimos permanecer unidos.
Tenho certeza de que a nossa tradição de união permanecerá. Os espanhóis podem até assistir a separação da região da Catalunha. Os de tradição lusitana permanecerão unidos, porque quem sai aos seus não degenera.
George Hilton é deputado por Minas Gerais e líder do PRB na Câmara
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