Em 1992, quando o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Eco92, já começavam a estourar as primeiras denúncias sobre o esquema do seu ex-tesoureiro Paulo Cesar Farias, que levaram ao impeachment do então presidente Fernando Collor. A Eco92 acabou funcionando como uma espécie de pausa na crise. Foi o Baile da Ilha Fiscal de Collor: como a famosa festa que foi a última demonstração da pompa do império brasileiro antes da proclamação da República, a Eco 92 foi a última demonstração de prestígio e poder de Collor antes da sua queda.
A lembrança do papel de Collor na Eco92, porém, serve para analisar a profunda radicalização do pensamento de direita brasileiro desde então. A nova direita que ascendeu ao poder com Jair Bolsonaro passou a tornar ideológicos temas que de ideológicos nada teriam. Que na verdade revelam ignorância, falta de bom senso e de compromisso com a realidade. O que talvez ajude a explicar sua fugacidade no poder, apesar da conquista de uma nada desprezível militância que se comporta quase como seita.
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Em 1992, a despeito de ser um presidente de direita, comprometido com um ideário fortemente liberal, Collor liderou a importante reunião sobre meio ambiente. Agora, mais uma vez Jair Bolsonaro estará ausente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, permitindo ao presidente eleito que o derrotou, Luiz Inácio Lula da Silva, total protagonismo.
No Egito, Lula deverá inclusive apresentar a candidatura para que o Brasil venha a sediar a COP30, num claro sinal da retomada do protagonismo brasileiro na questão ambiental.
Talvez o grande problema do ideário da nova direita esteja mesmo na sua disposição de transformar toda a discussão que envolve o planeta em uma grande conspiração comunista. O problema começa mesmo com o conceito que aí se faz sobre o que seja comunismo. No mundo de hoje, praticamente não há mais comunismo em lugar algum do planeta. A China se diz oficialmente comunista, mas o que de fato ali se pratica é um novo modelo de capitalismo estatal. A Rússia tem hoje um governo de direita, que inclusive é aliado de representantes da nova direita do mundo, Jair Bolsonaro incluído. Resta a minúscula Cuba como uma espécie de curiosa reserva natural de um modelo de economia do passado.
Fica, assim, uma tal conspiração comunista capaz de envolver grandes fortunas do capitalismo, o papa e outras ideias excêntricas. Que venera Israel ao mesmo tempo em que esquece que os maiores financiadores do cinema norte-americano e de outras atividades do show business, que nesta lógica seria hoje comunista, são judeus.
Nessa esquisitice ideológica, o aquecimento global é uma mentira. A covid-19 uma doença que não existiu, uma farsa para paralisar o mundo e permitir a ascensão da China. Resta saber por que, então, os maiores competidores do protagonismo econômico com a China, Estados Unidos à frente, teriam resolvido aderir à mesma farsa.
A visão de mundo que se constrói é tão fora da realidade que o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo chegou mesmo a admitir que não se importaria se o Brasil se transformasse em um “pária” internacional. O isolamento de Bolsonaro em alguns eventos internacionais de que participou virou evidência disso. Como na reunião do G20 na Itália, quando Bolsonaro ficou conversando com os garçons.
Agora, mudo e isolado após a derrota nas eleições, Bolsonaro não deverá ir à nova reunião do G20, na próxima semana na Indonésia. Enquanto isso, na COP27, Lula não apenas é convidado da ONU como fará discurso na cúpula. Na prática, é como se o presidente brasileiro já fosse ele. O Brasil sai da estranha bolha da nova direita e retorna ao planeta Terra.
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