Na década de 1970, o cartunista Ziraldo bolou um personagem delicioso cujas charges eram publicadas em revistas masculinas. Era o Mineirim Come Quieto. Estereótipo daquela imagem que se faz do mineiro. Um cara discreto, calado, mas com a habilidade certeira para fazer um tremendo sucesso entre as mulheres. Nós aqui do Congresso em Foco tivemos a felicidade de entrevistar o deputado André Janones justamente na semana em que ele desistiu da sua candidatura à Presidência e começou a apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
A pesquisa publicada nesta segunda-feira pelo Instituo FSB para a BTG Pactual demonstra que a associação agora de Lula com o “mineirim” André Janones fez um tremendo bem. De acordo com a pesquisa, Lula subiu quatro pontos percentuais na intenção de votos dos brasileiros com relação à rodada anterior. E seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro, permaneceu estacionado nos mesmos 34%. Lula, que vinha perdendo terreno antes para Bolsonaro, abriu agora 11 pontos de vantagem na corrida eleitoral.
Se as eleições fossem hoje, de acordo com a pesquisa BTG/FSB, Lula voltaria outra vez a ter chances de liquidar a fatura no primeiro turno. No Brasil, o resultado da eleição leva em conta somente os votos válidos. Assim, quem tem um resultado maior que a soma dos adversários leva a eleição no primeiro turno. Na disputa afunilada entre Lula e Bolsonaro, o candidato do PT tem 45%. Bolsonaro tem 34%. Ciro Gomes (PDT) tem 8%. Simone Tebet (MDB), 2%. E nenhum outro candidato pontua. Ou seja: a soma dos demais candidatos fica em 44%. Lula tem chance de ganhar no primeiro turno dentro da margem de erro.
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O diretor do Instituto FSB-Pesquisa, Marcelo Tokarski, faz, na avaliação da pesquisa, uma relação direta da melhora de desempenho de Lula com o apoio que passou a receber de André Janones. “Após a desistência de André Janones, que até então tinha 2% das intenções de voto, e tendo atraído alguns eleitores indecisos ou que falavam em anular seus votos, o ex-presidente Lula cresceu quatro pontos percentuais na última semana e voltou ao patamar de 45%”, observa Tokarski.
E, aí, a lembrança do “Mineirim” de Ziraldo não se dá somente pela origem de Janones nem pelo seu sotaque carregado. Janones tinha nas pesquisas 2% de intenção de voto. E Lula cresceu quatro pontos. Ou seja: trouxe para si além dos votos declarados de Janones. Há uma possibilidade: como o personagem de Ziraldo, Janones, quieto, angariou para Lula além do que angariava para si mesmo.
O que mantinha Janones com 2% nas pesquisas, o que o tornou um dos deputados mais votados em 2018, é a impressionante performance e domínio que ele tem nas redes sociais. Depois que Janones declarou apoio a Lula, ele tem entregue completamente essa performance e esse domínio para Lula. Sua presença nas redes em apoio ao petista é intensa. E, aparentemente, diante do fato de que se soma agora a sua própria performance ao apoio a uma candidatura favorita, o efeito multiplicador dessa performance parece ter atingido outros patamares.
PublicidadeQuando a militância digital começou a surgir de forma mais forte na virada do século, foi primeiro o PT quem pareceu dominá-la. Mas, ultimamente, o partido perdeu esse domínio para a nova militância de direita, que passou a dominar as novas ferramentas (inclusive aquelas do submundo das redes, da produção e disseminação de fake news). A estratégia e o conteúdo das redes de esquerda ficaram obsoletos.
Janones parece ter inserido um novo frescor a essa batalha. A pesquisa da FSB não mediu ainda os efeitos do vídeo que Janones gravou com Lula sobre o auxílio emergencial. Mas a avaliação que tem sido feita é que era esse tipo de mensagem que faltava. Ao lado de Lula, Janones alertou o eleitor que Bolsonaro só garante o auxílio emergencial até o final do ano. Ou seja: ele deu ao auxílio, que estava ajudando Bolsonaro a reverter sua desvantagem, um caráter eleitoreiro. Em resumo, dizia: “Olha aqui, quando esse cara aqui do meu lado presidia o país, você fazia três refeições por dia. O outro antes te arrebentou. Agora, ele te oferece um auxílio que vai somente até a hora que ele se eleger. Depois, te dá uma banana. Esse cara está te enganando”.
O que Janones tem defendido – e é como ele atua nas redes – é que a mensagem precisa chegar até a parte mais sensível do ser humano. Ou seja: ao seu bolso. Há uma determinada movimentação da militância digital de esquerda que só emociona à militância digital de esquerda. O cidadão que precisa ser convencido para que Lula liquide a parada e não perca os votos que tem não repete que “o povo unido jamais será vencido”. Nem que “a luta continua” (aliás, o que ele quer é paz e tranquilidade e não que a luta continue).
O Mineirim do Ziraldo vinha com seu jeito quietinho e conquistava a mulherada toda. O Mineirim Janones agora não usa seu poder de sedução para si mesmo. No tom e na gíria das redes que Janones domina, ele agora está shippando o Lula com o eleitor brasileiro…
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