Embora as pesquisas eleitorais continuem apontando para uma boa vantagem do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre seu adversário Jair Bolsonaro, do PL, que tenta a reeleição, há um ponto nessas avaliações que preocupa os estrategistas da campanha petista. A cada novo levantamento, reduz-se um pouco a má avaliação dos entrevistados sobre o governo. Mesmo na pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira (10), quando Lula abriu uma vantagem de dez pontos percentuais sobre Bolsonaro (o petista manteve o mesmo percentual da primeira pesquisa do segundo turno e Bolsonaro caiu um ponto), a avaliação sobre o governo melhorou um pouco.
Que capacidade Bolsonaro teria de reverter o quadro a partir dessa pequena melhora na percepção das pessoas sobre o governo é o grande desafio neste segundo turno. Bolsonaro vem claramente focando agora para reduzir a desvantagem especialmente no Nordeste. Seu programa na TV centra-se nisso, e ele vai escalar sua mulher, Michelle Bolsonaro, para fazer um tour pela região.
Mas Lula também se mexe. E chama a atenção neste momento a forma como agora parece tirar um pouco de cena seus aliados tradicionais, os próprios petistas e os grupos mais à esquerda, para focar nos novos aliados conquistados neste segundo turno. A força da mensagem é tentar vender agora a sua campanha como a formação de uma grande frente política em defesa da democracia, que estaria ameaçada no caso de uma nova vitória de Bolsonaro.
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Mas, para além disso, Lula vale-se dessa “pequena ajuda dos amigos”, como diriam Lennon e McCartney, para tentar furar os bloqueios que ainda prejudicam a sua candidatura. Essa ampliação dos aliados tenta, então, ajudar Lula a se aproximar de segmentos que lhe são hostis. No fundo, nada muito diferente do esforço que Bolsonaro faz, no caso, para reduzir sua desvantagem no Nordeste.
Assim, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) gravou um vídeo dirigida para os ruralistas, os agricultores, os pecuaristas, o agronegócio, um dos segmentos em que é mais forte o apoio a Bolsonaro. No vídeo, Kátia Abreu, que já foi líder da bancada ruralista, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e detentora do Prêmio Motosserra, que ambientalistas destinam àqueles que consideram inimigos do meio ambiente, tenta falar ao bolso dos seus colegas do agro. Kátia Abreu menciona a recente lei aprovada pelo Parlamento Europeu, pela larga margem de 453 votos a favor e apenas 58 contra, que exige certificação ambiental livre de desmatamento para a importação de produtos agrícolas.
Kátia Abreu alerta que, com a aprovação da lei, que entrará em vigor em 2024, países que insistirem na degradação ambiental vão perder muito dinheiro. Ela alerta que os principais alvos serão a soja e a carne bovina, nossos principais produtos de exportação. “Esse é o verdadeiro risco Brasil”, diz ela. “Votar no Lula não é uma ameaça às nossas fazendas e aos nossos negócios. Não é mais uma questão ideológica, mas, sim, de pragmatismo”.
PublicidadeVeja o vídeo de Kátia Abreu:
Se Kátia Abreu dirige-se aos ruralistas na sua primeira manifestação em favor de Lula, a deputada eleita por São Paulo Marina Silva, da Rede, dirige-se em entrevista aos evangélicos. Líder ambientalista, Marina é também importante líder evangélica, seguidora da Assembleia de Deus. Marina menciona o quanto Lula estaria sofrendo com os ataques que vem recebendo no sentido de dizer que ele perseguiria grupos evangélicos. “Quando ele era presidente, ele recebia os pastores. Muita gente pedia para ir lá orar com ele. As mesmas pessoas. As mesmas que hoje dizem que ele vai fechar as igrejas”, diz Marina. “Essas pessoas sabem que ele nunca fechou uma igreja. Essas pessoas sabem que ele não vai fechar igreja”, continua. “Eu só peço a Deus que dê discernimento a cada brasileiro, a cada brasileira, para que não se deixe manipular por esse tipo de afirmação”.
Veja o vídeo de Marina Silva:
Nos próximos dias, Lula deverá ainda pegar pelo braço a senadora Simone Tebet, terceiro lugar no primeiro turno como candidata do MDB, e ir com ela a Manaus, palco da maior tragédia da pandemia de covid-19. Simone foi destaque na CPI e Lula pretende, lá com ela, trazer mais para a sua campanha um tema que, de forma impressionante, pouco explorou até agora: a tragédia que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil muito pela ação ou inação do governo Bolsonaro.
Além dos segmentos da sociedade, os novos amigos de Lula também tentam atrair grupos em partidos. Kátia Abreu é do mesmo PP do presidente da Câmara, Arthur Lira. E foi a candidata a vice-presidente de Ciro Gomes, do PDT, em 2018. Pesquisas têm mostrado que boa parte dos eleitores de Ciro no primeiro turno poderia migrar agora para Bolsonaro.
Nesse sentido, um outro novo amigo, também se dispõe a ajudar. O irmão de Ciro, o senador Cid Gomes (CE), prometeu reverter o máximo possível de votos de pedetistas que conseguir para Lula no segundo turno. Se Lula não conseguiu ter ainda desta vez um apoio mais entusiasmado de Ciro, há um outro Gomes agora disposto a ajudá-lo.
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