Um ano antes de qualquer eleição no Brasil, ou seja, a cada dois anos, a imprensa quase que repete as mesmas manchetes: “terminado período de mudanças de partidos veja como ficou o jogo”, ou “veja o resultado da dança das cadeiras”. Este ano não foi diferente, as chamadas se repetiram.
Em relação ao último “jogo” ou “dança” para presidente (2010), entraram em cena pelo menos três novos times, melhor, partidos, com capacidade de influenciar o resultado eleitoral. São eles: Partido Social Democrático (PSD), Solidariedade (SSD) e Partido Republicano da Ordem Social (Pros). Pelo noticiário em geral, cada um deles já nasce com “donos” e com posições políticas.
O PSD, um pouco mais velho que os demais, tem como dono o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e nasceu, segundo seu dono, como um partido que não é de direita e nem de esquerda, que não é oposição e tampouco situação. O que esperar de um partido desses?
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O “dono” do SSD é o deputado federal Paulinho da Força. Nasceu com o discurso de oposição à presidenta Dilma e ao PT, mas parece que está com dificuldades para exercer esse papel, pelo menos em alguns Estados. Nasceu com a força de uma central sindical. Vamos ver o quanto dessa força reflete no partido. Sou sincero, não acredito que venha a ser um grande partido no Brasil.
Toda imprensa divulgou que o “dono” do Pros é um desconhecido vereador, Eurípides Junior, de Planaltina. Assim que obteve o registro do partido, Eurípides saiu proclamando que apoia o governo de Dilma e sua reeleição. Esse partido já surge manchado por dúvidas: segundo divulga a imprensa, foi pago dois reais, para o coletador, para cada assinatura coletada. Como foram coletadas um milhão e quinhentas mil assinaturas, parece que foram gastos três milhões de reais. De onde veio esse dinheiro?
Nesse “jogo” de fundar partidos, a ex-senadora Marina Silva acabou não conseguindo armar sua “Rede”. Sem rede para poder deitar, digo, disputar as eleições para presidenta, ela resolveu “dançar” ao lado de Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Marina Silva filiou-se ao PSB. Que partido é esse?
PublicidadeO PSB sem dúvida é um partido melhor, ou superior à média dos partidos, mas não é diferente, como queria Marina ao fundar sua Rede. O PSB tem uma característica, uma cultura da piores: onde há governo, com raríssima exceção, está junto. Não importa qual o partido do governo, o PSB é base aliada. Exemplos: era base do PT no Rio Grande do Sul, na Bahia, em Brasília; base do PSDB, em São Paulo, Minas e Paraná; base do PMDB no Rio de Janeiro; e, base do PT (Dilma) no governo federal.
Essa filiação pode levar a várias interpretações. Aqui arrisco algumas: 1) mudou a conjuntura para as eleições de 2014. Caso Marina saia vice de Eduardo Campos, deixará essa candidatura mais forte colocando em risco a de Aécio Neves (PSDB); 2) quão mais forte, é difícil avaliar no momento, pois ao filiar-se ao PSB, Marina matou muito dos sonhos e sonhadores da Rede. Perdeu, por ora não se sabe quanto, apoio popular; e, 3) expôs uma enorme contradição entre seu discurso e a prática. Para demonstrar essa contradição, recorro a duas respostas que Marina Silva deu em uma entrevista ao Estadão, em 23 de março de 2013.
A primeira pergunta e resposta a que recorro é: “Temos hoje 30 partidos e 39 ministérios. Surgiu um novo partido, tem de criar novo ministério…”. Sem que o entrevistador termine, Marina interrompe e responde: “Aumentar todo esse peso da burocracia estatal em função de ter nacos para distribuir para os partidos, em nome da governabilidade, essa é a mesmice que vejo em todos os partidos, infelizmente”. Repito: “é a mesmice que vejo em todos os partidos”, portanto, inclusive o PSB em que ela acabou de filiar-se.
Nessa mesma entrevista, também lhe é perguntado: “O que você acha do governo Dilma?”
Ela discorre e indica, seguindo o desejo do que a grande mídia gostava de ouvir na época, que a inflação estava descontrolada (quando estava e está dentro dos patamares programados). Em seguida, ela continua: “Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão”.
Marina Silva, ao filiar-se ao PSB de Eduardo Campos, entrou no mesmo diapasão que ela condenava. Creio inclusive que embarcou num barco (ou rede?) furado, pois o PSB acabou de trazer para as suas fileiras a família Bornhausen (ex-PFL e ex-DEM-SC e apoiador da ditadura militar) e Heráclito Fortes (ex-PFL e ex-DEM do PI).
Marina, para aonde vai o novo, a utopia e o sonho dos que contigo sonharam?
As cadeiras ficaram no lugar: trocou o dono, mas muitos deles são mais velhos do que as cadeiras.
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