Conforme os dados de pesquisas agregados pelo Índice CNN até meio-dia deste sábado, o PL e o União Brasil lideram a disputa no segundo turno destas eleições municipais, apresentando favoritismo, respectivamente, em dez e nove municípios.
O agregador, desenvolvido pelo Ipespe Analítica, mostra apenas dois partidos de esquerda e centro-esquerda entre as 12 agremiações apontadas nas pesquisas como líderes nas 51 cidades que definirão seus prefeitos neste domingo (27): o PT, com três municípios, e o PDT, com dois.
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Favoritos no segundo turno segundo as pesquisas eleitorais
Segundo o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, ainda que não possam ser descartadas surpresas nos resultados a serem anunciados amanhã, os dados confirmam algo que os números do primeiro turno já deixaram claro: o expressivo crescimento do PL.
PublicidadeDe fato, na primeira rodada de votação, o partido de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro foi o único que amealhou mais de 15 milhões de votos na disputa pelas 5.569 prefeituras do país. A legenda mais do que triplicou a votação de quatro anos antes.
Lavareda lembra que “o PT também cresceu, mas cresceu bem menos”. Realmente, o PT teve 2 milhões de votos a mais em relação ao pleito de 2020, mas isso representou um aumento de menos de 30% e deixou o partido de Lula em quinto lugar — em número de prefeitos, ficou em nono.
“A extrema direita”, analisa ele, “penetrou nos municípios, com o bolsonarismo aparecendo com uma força que ele não mostrou em 2020, até porque naquele momento Bolsonaro era o presidente, mas estava em guerra com o seu partido, que era o PSL, e não participou das campanhas municipais de forma organizada”.
No seu entender, porém, esse é um aspecto relativamente secundário dos resultados eleitorais deste ano: “A centralidade destas eleições foi o papel dos incumbistes. Ora, 81% dos prefeitos que disputaram reeleição se reelegeram. Em 2023, foram 63%”.
Parte desse aumento, na sua opinião, tem a ver com o poder de fogo que as bilionárias emendas orçamentárias dos parlamentares federais — frequentemente, saídas do Tesouro Nacional diretamente para os cofres municipais — deram aos prefeitos. Mas esse é apenas um dos fatores a observar, sublinha ele.
“Estamos falando aqui de um fenômeno global”, argumenta. “Em eleições normais, o incumbente tem uma série de vantagens. Começa a fazer campanha antes de todo mundo, em geral consegue reunir uma base de apoio partidário e social mais ampla, conta com assessoria mais qualificada, tem mais acesso a recursos. E o que houve em 2024 foi uma eleição normal”.
Que é uma “eleição normal”? Para Lavareda, é aquela realizada em ambiente de relativa estabilidade política, econômica e social. “Nas eleições de 2016 e de 2018, por exemplo, você tinha Lava Jato, crise política profunda, crise institucional, crise econômica grave, estava aberto o espaço para escolhas relativamente imprevisíveis. Eram o que eu chamo de eleições críticas”. E aqui ele cita como exemplos tanto a eleição de Bolsonaro em 2018 quanto a dos prefeitos de São Paulo, João Doria, e de Belo Horizonte, Alexandre Kalil — ambos empresários, outsiders e apresentando-se como alternativa aos “políticos profissionais”.
“Há uma ingenuidade, para não dizer idiotice”, prossegue Antonio Lavareda, “de imaginar que cada eleição é uma eleição, como se não tivesse nenhuma relação com a anterior nem com a próxima. Prefiro ficar com o conceito do meu amigo, e coautor de um dos meus livros, Gláucio Ary Dillon Soares. Ele dizia que eleições são eventos discretos de processos contínuos”.
“Basicamente isso que vimos no primeiro turno e provavelmente veremos no segundo”, diz o cientista político. “Os incumbentes venceram. Houve o caso do Pablo Marçal, que foi uma novidade, mas não mudou o caráter da eleição. Os partidos de direita foram majoritários, o que também tem se repetido nas disputas municipais. O PT cresceu um pouco, o PSB cresceu um pouco, o PDT perdeu metade dos prefeitos, o PV também saiu menor. O Psol, que tinha eleito cinco prefeitos em 2020, agora não elegeu nenhum, com todos esses reso indicando dificuldades para a esquerda”.
Tais dificuldades prenunciam problemas para a reeleição de Lula em 2026? Não necessariamente, responde o cientista político. “Lula poderia até ter dito que ganhou as eleições já que os partidos de direita majoritários são da sua base de apoio”, complementa. “Ele optou por lamentar os problemas que o PT e a esquerda tiveram, foi uma opção dele”.
Ressalta Lavareda, porém, que há muitas variáveis indefinidas para o cenário de 2026. O contexto, avalia, sugere mais uma “eleição normal”. Mas até que ponto isso beneficiará o incumbente, isto é, Lula? Aí a questão ganha maior complexidade. Depende da situação da economia (“a tendência é de que não esteja muito ruim, mas também não vivamos nenhuma maravilha”); das alianças a serem feitas pelos partidos hoje na base governista; da questão da idade da principal liderança de esquerda do país (Lula completará 81 anos em 2026); e até mesmo da definição dos candidatos.
Joga papel fundamental, nesse sentido, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que já foi abraçado como candidato favorito de grande parte do empresariado e dos políticos, mas que resiste a se lançar para o Palácio do Planalto, dando demonstrações até aqui de preferir buscar a reeleição. “Mas se a pressão for muito grande, o Tarcísio vai ceder. Não tem como uma liderança política não ceder quando a pressão da base é grande demais”, comenta o diretor do Ipespe.
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