Gabriel Lepletier e Lucas Carezzato *
A “guerra às drogas” é um exemplo claro de uma política que, em vez de resolver problemas, os agravou. Desde seu início, a criminalização das drogas no Brasil tem sido marcada por altos índices de violência, encarceramento em massa e desperdício de recursos públicos, com emprego de esforços em abordagem punitiva que ignora as dimensões sociais e econômicas do problema.
Os dados são contundentes: entre 2006 e 2016, a população carcerária do Brasil aumentou em 85%, e grande parte desse aumento se deveu a prisões por crimes relacionados às drogas. Em 2020, o Brasil tinha a terceira maior população carcerária do mundo, com mais de 800 mil presos.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 25% desses presos estão encarcerados por crimes relacionados a drogas, com uma maioria significativa sendo de jovens negros e pobres. De acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), 67% dos presos por tráfico de drogas são negros.
Muitos desses encarceramentos são por posse de pequenas quantidades de drogas. Um estudo do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC) mostrou que, em 2017, 64% das mulheres presas por tráfico de drogas foram detidas com menos de 100 gramas de entorpecentes. Para os homens, essa proporção foi de 41%. Esses dados revelam que a política de criminalização atinge desproporcionalmente indivíduos que não fazem parte de grandes redes de tráfico, mas sim usuários e pequenos traficantes.
Leia também
A abordagem punitiva tem também contribuído para a escalada da violência. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2019, o Brasil registrou mais de 45 mil homicídios, muitos dos quais estão relacionados ao tráfico de drogas. A política de “guerra às drogas” não conseguiu reduzir a oferta ou a demanda por drogas, mas sim intensificou a violência associada ao tráfico.
Relevante parte do problema se dá em razão do tabu em torno do assunto, com primazia de visões relacionadas a costumes em detrimento de dados técnicos. O conservadorismo presente na sociedade brasileira contribui para a manutenção dessas visões moralistas. Pesquisas indicam que a opinião pública tende a apoiar políticas repressivas, muitas vezes influenciada por discursos midiáticos que reforçam esses valores. Um estudo de 2019 do Datafolha revelou que 64% dos brasileiros são contra a descriminalização das drogas, mesmo diante de evidências de que a descriminalização pode reduzir a violência e o encarceramento.
Essa resistência às mudanças baseadas em dados empíricos dificulta a implementação de políticas públicas mais eficazes. Em contrapartida, países que adotaram abordagens baseadas em evidências, como Portugal, têm mostrado resultados positivos, com redução nos índices de consumo problemático de drogas e nos custos com o sistema de justiça criminal.
Em novo contorno à problemática, o STF julgou nesta semana pela diferenciação objetiva de usuários e traficantes, quando porte de até 40g de maconhao. Embora não tenha tratado de outras drogas, esta distinção é crucial para evitar o encarceramento desnecessário de usuários e focar os esforços no combate ao tráfico organizado.
No entanto, a decisão ampliou o atrito entre Judiciário e Legislativo, com manifestação contundente do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e criação de Comissão pelo presidente da Câmara dos Deputados Artur Lira para analisar PEC que pretende criminalizar o porte de qualquer quantidade de drogas.
A recente decisão do STF de diferenciar usuários de traficantes é um passo crucial, mas a reação do Congresso, influenciada por componentes não científicos e pressões políticas, ameaça reverter esses avanços. Este embate entre o Judiciário e o Legislativo ressalta a necessidade urgente de reformar a política de drogas no Brasil com base em dados empíricos e experiências internacionais bem-sucedidas, como as de Portugal.
Para que o Brasil possa realmente avançar, é essencial superar os tabus e preconceitos que ainda permeiam o debate sobre drogas. Políticas públicas eficazes devem ser guiadas por evidências científicas e focar na redução de danos e na reabilitação, em vez de perpetuar abordagens punitivas que só aumentam a violência e o encarceramento.
Ao reconhecer a complexidade do problema e buscar soluções baseadas em evidências, o Brasil pode não apenas reduzir os danos causados pela atual política de drogas, mas também explorar novas oportunidades de desenvolvimento sustentável e justiça social. É hora de abandonar políticas ultrapassadas e adotar uma abordagem mais racional e humana para enfrentar o desafio das drogas no país.
* Gabriel Lepletier é cientista político e Lucas Carezzato, advogado.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
MK لباس مردانه is a manufacturer of پیراهن مردانه, تیشرت مردانه, شلوار مردانه, men’s linen pants, men’s shoes, single coats and all kinds of accessories in Iran. MK brand is always trying to bring attractiveness along with quality. With its stunning quality, MK men’s clothing will accompany you for many years so that you can always shine in the sweetest moments with a different and beautiful style and leave behind the most beautiful cover. Right now, you can buy all the men’s clothing you need to create a beautiful and different style from the MK online store with incredible discounts.