O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, disse suspeitar que grupos extremistas estão envolvidos em uma operação para desacreditar o sistema eleitoral. Segundo Barroso, um vazamento de dados antigos de servidores do tribunal, revelado ontem durante a votação, ocorreu simultaneamente a críticas e conspirações sobre a lisura das eleições.
> Podcast ajuda a entender os resultados eleitorais
“Ao mesmo tempo em que estes dados foram vazados, milícias digitais entraram em ação tentando desacreditar o sistema”, disse Barroso em coletiva na tarde desta segunda-feira (16) no TSE, em Brasília.
O ministro evitou dar nomes, mas disse que “grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura e muitos deles são investigados pelo Supremo Tribunal Federal“. A corte investiga, no chamado “inquérito das fake news”, a ligação de grupos ligados a movimentos políticos com o objetivo de pressionar as instituições brasileiras.
Leia também
Questionado por um repórter se tais grupos extremistas possuem ligações com grupos extremistas, Barroso se esquivou novamente em confirmar a conexão. “Eu não posso e não devo responder a esta pergunta”, disse. “Como eu disse: juiz julga, juiz não levanta suspeitas. Eu não diria ‘ligado a grupos políticos’, mas suspeita-se de uma motivação política na operação.”
Barroso disse que já pediu à Polícia Federal para que se investigue não apenas o ataque específico de ontem, mas também o que definiu como uma “concertação” para desacreditar as instituições.
PublicidadeFalha em supercomputador
Barroso deu novos detalhes sobre a falha no supercomputador utilizado pela corte na totalização de votos – o que gerou um atraso de cerca de duas horas na finalização das apurações. Segundo Barroso, o problema, inicialmente creditado a uma falha no núcleo de processamento, na verdade ocorreu pela incapacidade da inteligência artificial de aprender em tempo hábil. Com isso, a máquina precisou reiniciar sua totalização e passou a demorar mais que o previsto na operação.
Barroso também culpou a falta de testes no sistema por conta da pandemia. O ministro disse que o ideal seria que os testes, tanto no TSE em Brasília quanto nos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) nos estados tivessem ocorrido presencialmente.
O ministro afirmou que os sistemas da corte sofreram um ataque hacker do tipo DDoS (Distributed Denial of Service, em inglês) que forçou 436 mil acessos por segundo ao sistema, com o objetivo de inviabilizar seu acesso. O TSE identificou o acesso como vindo de Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia – mas o tipo de ataque hacker indica que estes as tentativas não são, necessariamente, dos próprios hackers.
Outro serviço que apresentou falha durante o dia foi o e-Titulo, utilizado para entre outras atividades a justificativa de voto. O alto volume de acessos (segundo o TSE foram mais de 12 milhões durante a manhã de ontem) tornaram o sistema mais lento.
Números
Barroso confirmou que a abstenção ficou em 23,14% dos eleitores, o que considerou como uma marca extraordinária. “Quando tudo começou, temíamos uma abstenção de 50%”, revelou, “e tivemos uma pequeníssima alteração em relação a 2018.”
O TSE apurou que, entre os 113,3 milhões de eleitores que foram às urnas ontem, 3.909.362 milhões votam em branco para para prefeito, e 4.465.263 fizeram o mesmo para vereador. Outros 7.044.774 votaram nulo para prefeito, assim como 5.663.728 anularam seus votos para vereador.
Houve aumentos pequenos no número de mulheres eleitas prefeitas (chegando a 12,2%), assim como no número de prefeitos e prefeitas que se autodeclaram negros e pardos, que agora são 32% dos ocupantes eleitos. Houve também oito prefeitos que se declararam indígenas que foran eleitos.
O TSE disponibilizou a seguinte apresentação com dados das eleições aos jornalistas.
> 57 cidades terão segundo turno. Veja lista
> Exclusivo: prefeitos das cinco capitais com menos mortes por covid-19 são reeleitos em primeiro turno