Nascido em 2015, em meio à crise política que culminou no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o movimento Nova Resistência surgiu como o primeiro grupo político brasileiro a defender a chamada “quarta teoria política”: uma vertente russa de extrema-direita que hoje representa a base ideológica do presidente Vladimir Putin. Desde 2019, os líderes desse movimento procuram conquistar espaço dentro do PDT, que tem como pré-candidato presidencial o ex-ministro Ciro Gomes.
Entre os filiados no PDT está o próprio líder do movimento no Brasil, Raphael Machado. “Liberais de esquerda entraram no PDT para infiltrar suas ideologias em um partido incompatível. Alguns dos nossos entraram no PDT por afinidade ideológica e o fizeram abertamente”, declarou em seu perfil do Twitter, ao falar sobre a resistência interna da entrada de seus membros. “Há mais de 20 membros de nossa organização formalmente filiados ao partido”, acrescentou em outra publicação.
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Amaryllis Rezende, vice-líder do Nova Resistência, ainda conta que nunca houve qualquer tentativa dos membros filiados de esconder do partido a sua participação no movimento. Catarina Leiroz, vice-diretora do Nova Resistência no Rio de Janeiro, chegou a ostentar a camisa do movimento em um encontro do PDT em Recife (PE), onde ela e demais membros tiraram fotos com o ex-deputado Cabo Daciolo.
A vice-líder também se posicionou sobre o estranhamento de parte dos membros do partido da participação de militantes do Nova Resistência. “Fico feliz que os simpatizantes da NR no PDT causem polêmica, porque ela é necessária. Logo o trabalhismo terá que escolher: ou assume seu legado anti-imperialista e popular, ou desaparece buscando acompanhar o progressismo histérico de um nicho que nunca lhe deu valor”, disse no Twitter.
Na capital pernambucana, o diretório local do movimento se manifestou sobre o papel do Nova Resistência no PDT. “É o momento de os verdadeiros nacionalistas populares assumirem o partido. O PDT nacional precisa se tornar o partido do povo, e para isso precisa assumir o binômio ‘esquerda do trabalho, tradicionalista nos costumes/valores'”.
Mesclado do socialismo e fascismo
A quarta teoria política, conforme explica o historiador Daniel Pradera, é uma corrente de pensamento que retrata o liberalismo como uma representação do poderio americano sobre o mundo. A solução para esse domínio, segundo seu fundador Alexandr Dugin, seria a união dos valores do socialismo soviético com o fascismo. No Brasil, o Nova Resistência tenta representar essa união ao redor da figura de Getúlio Vargas, mesmo presidente que inspira, em outros aspectos, a base filosófica do PDT.
PublicidadeApesar de uma origem teórica distinta, Pradera conta que a ideia de quarta teoria política em quase nada difere do fascismo. “A partir do momento em que eles se apropriam de ideias fascistas como a ideia do passado ideal e do apelo ao nacionalismo ufanista, fica muito difícil falar que não é a extrema-direita que já estamos acostumados a ver”, explicou. A divergência de alinhamento com o PDT não impediu seus líderes de tentar conquistar espaço no partido.
PDT planeja expulsão
Procurado pelo Congresso em Foco, o presidente do PDT, Carlos Lupi, anunciou que a presença de membros do movimento não é aceita no partido. “Há cinco anos aprovamos em nosso partido que é proibida a dupla militância, nenhum filiado pode participar de outro grupo político. Em sendo um grupo de extrema-direita, pior ainda”, declarou.
Lupi afirma não ter tido conhecimento sobre o Nova Resistência, e que fará a busca dos nomes dos membros que tenham se filiado ao partido para “adotar providências imediatas”.