O indiciamento de Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa fez lideranças governistas subirem o tom contra o ex-presidente e seus aliados envolvidos na trama golpista. Para os aliados do ex-presidente, as investigações da Polícia Federal são “meras ilações” decorrentes de uma “perseguição política”.
O que há contra Bolsonaro, Braga Netto e Augusto Heleno
A investigação, que durou um ano e seguiu a prisão de suspeitos de planejar assassinatos de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, revelou uma estrutura complexa com seis núcleos distintos: desinformação, incitação militar, assessoria jurídica, apoio operacional, inteligência paralela e execução de medidas coercitivas. O relatório, com mais de 800 páginas, será enviado ao STF e é um desdobramento de investigações sobre milícias digitais antidemocráticas.
Leia também
Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), é urgente a punição dos envolvidos no caso. “O indiciamento de Jair Bolsonaro e sua quadrilha, instalada no Planalto, abre o caminho para que todos venham a pagar na Justiça pelos crimes que cometeram contra o Brasil e a democracia: tentar fraudar eleições, assassinar autoridades e instalar uma ditadura. Prisão é o que merecem! Sem anistia”, opinou ela.
Audácia inédita
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi outro que comentou o assunto no X. “Não há registro na história dos golpes de Estado no Brasil de tamanha audácia, como a dos golpistas do die 8 de janeiro de 2023, de planejar o assassinato do presidente da República, do vice-presidente, de um ministro da Suprema Corte, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.”
Publicidade“A nossa democracia, reconquistada com a luta do nosso povo, que custou vidas, muitos brasileiros presos, desaparecidos e mortos nos porões de tortura, é o mais valioso bem do nosso país, que não pode se deixar ser violado, ultrajado por tiranos, criminosos, que se julgam acima da lei e da ordem constitucional. Temos uma Constituição, leis e instituições sólidas, capazes de proteger a sociedade brasileira da tirania, e de defender nossa democracia. O indiciamento dos 37 desordeiros, entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro, considerado o mentor do fracassado golpe, é uma demonstração desse compromisso institucional”, afirmou Guimarães.
“A cena dos presidentes dos Três Poderes da República, presidente Lula, presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, presidente da Câmara, Arthur Lira, a presidenta da Suprema Corte, Rosa Weber e mais 27 governadores foi uma demonstração força e união, de que não há mais lugar para golpes de Estado no Brasil, e de que a intentona seria investigada e os responsáveis punidos com o rigor das leis. Investigados, indiciados, é chegada a hora da justiça! Que todos sejam punidos. Golpe nunca mais!”, completou ele.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que os desdobramentos da “trama golpista” são de “natureza gravíssima”. “Como bem ponderou o presidente Lula hoje (na quinta, 21), o nosso esforço tem sido o de trazer o Brasil de volta a um ambiente de paz, harmonia e respeito.”
“A cada nova revelação, fica evidente que nossos adversários não souberam perder a eleição e tinham em curso um projeto de extermínio movido pelo ódio e pela intolerância. Esse tipo de comportamento é inaceitável e não pode ficar impune. Assim como este plano criminoso não prosperou há 2 anos, precisamos agora seguir firmes e vigilantes para que novas investidas contra a nossa democracia não se repitam. A civilidade, o diálogo e o respeito são valores inegociáveis e não podemos aceitar qualquer retrocesso neste sentido. Não passarão!”, analisou o petista.
Bolsonaristas
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro o tratam como “vítima de narrativas” da Polícia Federal e seus adversários políticos.
O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), alegou nas redes sociais que as acusações que recaem sobre o ex-presidente não são embasadas em provas. “Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas. É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa. O presidente respeitou o resultado da eleição e a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia. Que a investigação em andamento seja realizada de modo a trazer à tona a verdade dos fatos”, avaliou Tarcisio, que foi ministro de Infraestrutura de Bolsonaro e chegou ao governo paulista com o apoio do ex-chefe.
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), que foi ministro do Desenvolvimento Regional, divulgou uma nota no X (antigo Twitter) em que afirma que o indiciamento dos 37 envolvidos na trama golpista – dentre eles, o presidente de seu partido, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro em 2022, “não só era esperado, como representa sequência ao processo de incessante perseguição política ao espectro político que representam”.
“Espera-se que a Procuradoria-Geral da República, ao ser acionada pelo Supremo Tribunal Federal, possa cumprir com serenidade, independência e imparcialidade sua missão institucional, debruçando-se efetivamente sobre provas concretas e afastando-se definitivamente de meras ilações. Ainda, ao reafirmar o compromisso com a manutenção do Estado de Direito, confiamos que o restabelecimento da verdade encerrará longa sequência de narrativas políticas desprovidas de suporte fático, com o restabelecimento da normalidade institucional e o fortalecimento de nossa Democracia”, escreveu ele.
O presidente do PP, que também foi ministro de Bolsonaro, senador Ciro Nogueira (PI), foi mais sucinto ao defender o ex-presidente: “Há coisas a respeito das quais tenho certeza e uma delas é sobre a inocência de Jair Bolsonaro”.