Há uma chuva intensa de pesquisas eleitorais caindo sobre as cabeças dos brasileiros nas últimas semanas. Fora uma única absolutamente exótica – e que, por isso, nem deve ser muito mencionada pelo seu absoluto exotismo –, todas elas apontam para um quadro semelhante. Lula e Bolsonaro estacionaram e os demais movem-se pouco. Mas essa movimentação dos demais, ainda que pequena, leva a eleição para o segundo turno.
A diferença entre essas pesquisas pode ser mais ou menos ajustada ao gosto do freguês. A vantagem de Lula sobre Bolsonaro oscila entre 13 pontos percentuais e oito pontos percentuais, dependendo da pesquisa. E Simone Tebet, do MDB, é o nome da terceira via que melhor parece ter aproveitado até agora a maior exposição que oferecem a propaganda eleitoral, as entrevistas do Jornal Nacional e o debate da Band. Simone encosta em Ciro Gomes, do PDT.
Na noite desta segunda-feira (5), sairá nova pesquisa do Ipec. Será a primeira a medir completamente os efeitos do debate da Band. Vejamos se trará alguma diferença substantiva. No meio dessa chuva de pesquisa, recomenda-se prestar mais atenção aos pingos do Ipec e do Datafolha. São pesquisas contratadas por veículos de comunicação, de dois institutos sérios e reconhecidos.
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É curioso que nas convocações que os bolsonaristas fazem para o Sete de Setembro, sejam incluídos protestos sobre as pesquisas eleitorais. É compreensível que eles não gostem de ver sempre Lula à frente do seu candidato. É compreensível que não gostem de ver Bolsonaro estacionado. Mas, para além da leitura emocional, é justamente nos números das pesquisas que reside alguma chance de reeleição para o atual presidente. Goste-se ou não das pesquisas, os oráculos são elas. E, como nos oráculos, suas previsões não são exatas nem claras o tempo todo. É preciso saber interpretá-las.
Tomando-se a média das pesquisas, observa-se que o eleitor de Bolsonaro, na sua maior parte, é do sexo masculino, evangélico, com renda mais alta e escolaridade média. Concentra-se especialmente nas regiões Sul, Norte e Centro-Oeste. O que as pesquisas têm demonstrado, porém, é que parecem meio esgotadas as chances de Bolsonaro crescer de forma ainda substancial junto a esses segmentos nos quais tem maioria.
Bolsonaro precisa de tempo para avançar sobre outros segmentos. Especialmente para crescer entre os mais pobres, a população que é alvo do pacote de benesses que ele vem programando, com Auxílio Brasil e vales para diversos gostos.
PublicidadePesquisas mais antigas mostram que os momentos de maior popularidade de Bolsonaro não aconteceram imediatamente após a concessão de benefícios, como o auxílio emergencial que o governo deu após a pandemia. A percepção dos efeitos desses benefícios durou dois meses para se refletir na popularidade do governo.
Eis aí uma possível chave. Se a eleição prosseguir no segundo turno após o dia 3 de outubro, poderá ser a chance de Bolsonaro crescer nos segmentos em que apostou com suas benesses.
Poderá haver, além disso, o fator psicológico. Para um candidato que vislumbrava a chance de vencer no primeiro turno, um segundo turno pode ser motivo de frustração. Lula terá que rapidamente superar esse sentimento. Para um candidato que via a chance de ser derrotado no primeiro turno, ir para o segundo pode ser uma motivação.
Há, porém, outros dados das pesquisas que não autorizam muito entusiasmo. Mais de 70% dos eleitores têm afirmado que já fizeram suas escolhas e não vão mudá-las. Um percentual impressionante.
Assim, a não ser uma hecatombe de proporções bíblicas parece capaz de alterar o que, na verdade, já se verifica há mais de um ano. Lula é o favorito para vencer as eleições. E Bolsonaro seu adversário mais próximo. A questão é saber se o filme termina no dia 3 de outubro. Ou se, como nos filmes da Marvel, continua depois dos créditos.
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