Rafael Favetti *
As Olimpíadas de Paris 2024 não apenas celebraram a excelência esportiva, mas também espelharam, em muitos aspectos, as dinâmicas geopolíticas atuais. A distribuição de medalhas entre os países participantes revela muito sobre a correlação entre poder econômico, estabilidade política e sucesso olímpico. Nesse contexto, a depender da métrica usada, o Brasil performou bem.
Países em situações de conflito, como a Ucrânia e Israel, que evidentemente enfrentam dificuldades, conseguiram algum destaque. A Ucrânia conquistou três ouros, cinco pratas e quatro bronzes. Já a Rússia, considerada uma potência olímpica, foi banida da competição. Israel obteve um ouro, cinco pratas e um bronze. Em contraste, a Palestina, palco das ofensivas militares contra o Hamas, não teve atletas aptos a competir. O Irã, com três ouros, sete pratas e dez bronzes, alcançou a 21ª posição geral, logo atrás do Brasil.
As Olimpíadas também evidenciaram a polarização mundial atual, com Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas globais, dividindo o topo do quadro de medalhas de ouro, com 40 cada um. No entanto, os americanos, com 126 medalhas no total, superaram os chineses, que conquistaram 91. Para se ter uma ideia da dominância desses países, o Japão, em terceiro lugar, obteve 20 ouros e 45 medalhas no total.
Leia também
No cenário das maiores economias mundiais, sete das dez maiores também figuraram entre as dez melhores no quadro geral de medalhas, confirmando a forte correlação entre poder econômico e sucesso olímpico. Porém, algumas nações, como Austrália, Holanda e Coreia do Sul, que não estão entre as maiores economias globais em termos absolutos, destacaram-se no ranking de medalhas, refletindo, por sua vez, a relação entre PIB/per capita e esportiva.
Sob esse aspecto, o Brasil apresenta uma peculiaridade interessante. Embora sejamos a oitava maior economia do mundo, ficamos em 20º no quadro geral de medalhas. Contudo, considerando nosso PIB per capita, que nos coloca na 76ª posição global (dados do FMI), nosso desempenho em Paris 2024 pode ser considerado positivo. Fomos os melhores da América Latina, do Mercosul, e no contexto dos Brics expandido, superamos países como Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, África do Sul e Índia.
PublicidadeO senso comum olha o desempenho brasileiro em 2024 como negativo. Mas sob diversos aspectos o saldo é proveitoso. Nosso desempenho se destaca pela diversidade dos esportes em que medalhamos: 11 modalidades diferentes, demonstrando uma amplitude e versatilidade que poucas nações conseguem alcançar. Isso sugere um crescimento saudável e uma base sólida para futuros avanços.
A comparação com outras grandes nações é também favorável ao Brasil. Temos a sétima maior população mundial, mas performamos melhor que a Índia, Indonésia, Paquistão e Nigéria, que ocupam posições ainda mais altas em termos populacionais.
Em síntese, a análise geopolítica dos resultados olímpicos não deixa dúvidas: o Brasil continua a ser um ator relevante no esporte mundial, com potencial para melhorar ainda mais em futuras edições dos Jogos Olímpicos.
* Doutor em Direito, mestre em Ciência Politica e sócio da Fatto Inteligência Política e da Favetti Sociedade de Advogados.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Leia ainda:
Sucesso das brasileiras passa pela psicologia. Veja os motivos
Deixe um comentário