O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, que tentará voltar ao posto pelo Partido Republicano Progressista (PRP) nas eleições deste ano, descartou apoio ao deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) na corrida presidencial. Às voltas com a Justiça e preso algumas vezes em decorrência de desdobramentos da Operação Lava Jato – em uma delas, em pleno programa de rádio –, Garotinho desfilou pela Câmara e pelo Senado nesta quarta-feira (11) – sempre acompanhado de sua filha, a deputada federal Clarissa Garotinho (Pros), candidata à reeleição – e, entre um gabinete e outro, fez aproximações com parlamentares em busca de alianças eleitorais.
“Eu sou candidato a governador. E as pesquisas indicam que ora eu, ora Romário aparecemos na liderança, com o Eduardo Paes em terceiro lugar”, afirmou o ex-governador ao Congresso em Foco, para negar em seguida que apoiará Bolsonaro.
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Ao falar sobre assunto, foi enfático. “Não. Não porque em relação à questão do Bolsonaro, os partidos que hoje estão em nossa base não manifestaram nenhum tipo de possibilidade de apoio”, explica, deixando escapar um riso rápido.
Neste instante da conversa, aproxima-se no “túnel do tempo” do Senado – corredor que liga gabinetes e plenário – o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos mais de 20 candidatos à reeleição nas eleições de outubro (veja a lista publicada por este site mais cedo). Entre abraços e promessas de reencontro, a entrevista é interrompida.
“Deixe-me cumprimentar um amigo aqui”, adiantou Garotinho. “Você é um guerreiro!”, despediu-se Renan.
Ao retomar a entrevista, Garotinho confirmou a impressão que sua visita ao Senado causou entre paramentares e assessores que o encontravam pelo caminho. “Vim hoje aqui [ao Senado] discutir algumas alianças com alguns partidos. [Apoio a] presidente eu ainda não fechei”, informou.
“Minha opção seria ficar sem candidato a presidente, fazer uma campanha solteira. Por quê? O Rio, hoje, está muito fragilizado na questão econômica. Então, qualquer que seja o governador, vai ter que renegociar aquele ajuste fiscal que foi assinado no Rio de Janeiro. Aquilo é uma tragédia. Então, se você toma partido desse ou daquele candidato, você fecha portas. Melhor fazer uma candidatura independente”, acrescentou Garotinho.
Garotinho comentou ainda as movimentações pré-eleitorais em torno de duas figuras de proa da política fluminense, Eduardo Paes (DEM), também pré-candidato ao governo (“Um candidato que merece todo o respeito, como todos os demais”), e Marcelo Crivella (PRB), atual prefeito do Rio.
Sobre o segundo, esquivou-se de alongar o assunto. “Prefiro não comentar.” Sua filha Clarissa foi secretária municipal de Trabalho e Emprego de Crivella, e de lá saiu em rota de colisão com o prefeito – tão logo deixou a pasta, o bispo da Igreja Universal exonerou todas as indicações de Clarissa, o que ela classificou com um “gesto de ingratidão”.
Garotinho informou ainda que vai lançar, nos próximos dias, uma minissérie em fotos e vídeos chamada “A gangue dos guardanapos” – referência à cena em que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), preso e condenado em desdobramento da Operação Lava Jato, celebra a gastança com dinheiro público em uma patética performance com guardanapos na cabeça, acompanhado pela esposa Adriana Ancelmo, também condenada, e alguns de seus aliados na corrupção em um restaurante de luxo em Paris.
“Eles vão ter que se explicar na eleição, inclusive o Eduardo. Ele é um dos personagens [da minissérie]”, acrescenta o ex-governador, adiantando que a produção será veiculada no Facebook. “Tenho fotos inéditos e alguns vídeos inéditos daquela farra de Paris”, arrematou, dizendo que só divulgou 70% do material que diz ter.
Prisões no passado
Garotinho disse ainda não acreditar que suas prisões e as investigações ainda pendentes contra si vão interferir em sua campanha.
“Creio que não. A duas ações foram trancadas no Supremo Tribunal Federal. Eram questões eleitorais, ninguém me acusou de corrupção. Eu sou o único cidadão que foi preso no Brasil por crime eleitoral. Isso não existe. Ficou claro que foi uma coisa política, de um juiz que anteontem fez uma barbaridade: fui fazer uma reunião e ele mandou suspender a reunião!”, reclamou, acrescentando que denunciou o magistrado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Histórico
Governador do Rio entre 1998 e 2002, Garotinho esteve preso por três vezes no último ano e meio. Na última vez, ele foi solto graças a um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No fim do ano passado, Garotinho passou três meses preso em decorrência de investigações da Lava Jato. Nas outras duas vezes a acusação era de liderar um esquema de compra de votos no município de Campos dos Goytacazes (RJ), na gestão de sua esposa, Rosinha Garotinho, que também chegou a ser presa. Ela foi solta em novembro do ano passado.
O ex-governador diz que é vítima de perseguição por ter denunciado o esquema de corrupção orquestrado pelo ex-governador Sérgio Cabral na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Cabral e três membros da cúpula da Alerj – como Jorge Picciani, presidente da Assembleia – estão presos.
A última investigação que levou à prisão de Garotinho detectou e atribuiu ao ex-governador os crimes de corrupção, concussão (vantagem indevida decorrente do cargo), envolvimento em organização criminosa e fraude na declaração de contas de campanha. Segundo inquérito conduzido pela Polícia Federal, a empresa JBS (Grupo J&F) fechou contrato irregular com um grupo sediado em Macaé, município do interior do Rio, para serviços de informática.
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