Claudia Carletto *
Enquanto fui secretária-executiva adjunta de Políticas para Mulheres e, depois, como secretária de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, conheci inúmeras mulheres vítimas de violência. Suas histórias me tocaram profundamente, provocando em mim sempre um gosto amargo de indignação.
Mas confesso que só agora, que fui vítima de tal crime, pude sentir a sensação de impotência que é ser uma mulher que passou pela violência de gênero e tem de ir a uma delegacia de polícia denunciar o crime. Senti na pele essa profunda violação de nosso direito.
Como candidata a deputada federal, passei a receber uma série de e-mails anônimos com ameaças e xingamentos de teor misógino e, principalmente, homofóbico, exigindo que eu desistisse da minha candidatura. A causa LGBTQIA+ foi uma das minhas prioridades enquanto estive na Secretaria Municipal de Direitos Humanos, entre 2019 e abril deste ano. E, de forma agressiva e preconceituosa, tentaram restringir minha luta em prol da diversidade.
A cada novo e-mail, as mensagens ficavam mais violentas, até que culminaram com ameaças de morte a mim e a outras duas amigas que trabalham na Secretaria de Estado da Justiça de São Paulo. Uma das mensagens de conteúdo mais grave afirmava que, caso eu não interrompesse a campanha, haveria ataques a bomba ao meu comitê e à sede do PSDB, o que poderia pôr em risco não apenas a minha integridade física, mas a das pessoas que trabalham comigo.
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Diante desse absurdo obviamente fiquei em choque. Mas, com certeza, desistir não era uma opção. Decidi, então, usar a arma que considero mais poderosa para tentar fazer calar as agressões e fake news: a denúncia. Abri boletim de ocorrência na delegacia para que um inquérito policial fosse instaurado e protocolei, no Ministério Público Federal, um manifesto já encaminhado à Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo.
PublicidadeConsidero este um caso de violência política que extrapola o viés de gênero, já que chega ao cúmulo de envolver não apenas a mim, uma mulher que, legitimamente, aspira a uma cadeira no Congresso Nacional, mas tantas outras pessoas do meu convívio, independente do sexo ou orientação sexual. E foi a “baixeza” desse ato que me fez sentir ainda mais repulsa e indignação. Que me deu forças para seguir em frente!
É revoltante ler o quanto as estatísticas envolvendo a violência de gênero, aqui no Brasil, dominam o cenário político! Estatísticas da ONU Mulheres aponta, que as mulheres que entram na política estão entre as que mais sofrem violência de gênero: 82 % das mulheres em espaços políticos já sofreram violência psicológica; 45% já sofreram ameaças; 25 % sofreram violência física no espaço parlamentar; 20%, assédio sexual; e 40% das mulheres afirmaram que a violência atrapalhou sua agenda legislativa.
A dimensão que hoje toma o preconceito ostensivo contra as mulheres na política, apesar do avanço do país na questão da igualdade de gênero em todos os segmentos, é algo que deveria assustar e mobilizar a sociedade como um todo – e não apenas pessoas isoladamente – no sentido de coibir esse tipo de crime. Afinal, não se pode afirmar que vivemos em uma democracia plena quando tantas mulheres são agredidas, humilhadas e hostilizadas por exercerem ou pretenderem assumir um cargo político.
Minha decisão de entrar na vida pública foi pautada na crença de que a política é a forma mais legítima de mudar a sociedade, tornando-a mais representativa e igual. Por isso, não vou esmorecer, muito menos desistir! Ao contrário, quero mobilizar mais e mais brasileiros nessa luta. Hoje muita gente acha que pode invadir as redes sociais com mentiras e agressões vãs e ficar impunes. Isso não pode acontecer. Denunciar é o caminho para livrar a sociedade desse mal. E não irão nos calar!
* Claudia Carletto é jornalista, pós-graduada em Marketing Político pela ECA-USP e mestre em Cidades Inteligentes. Foi secretária Municipal de Direitos Humanos de São Paulo de dezembro de 2019 e abril de 2022 e, anteriormente, secretária-executiva adjunta de Políticas para Mulheres na mesma secretaria (2018-2019). É candidata a deputada federal por São Paulo, pelo PSDB. Redes: Instagram: www.instagram.com/claudiacarletto Facebook: www.facebook.com/carlettoclaudia e www.claudiacarletto.com.br.
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