Eduardo Militão e Mário Coelho
Eleição em meio a dois feriados, os eleitores de Marina Silva (PV) e a boa situação econômica do Brasil explicam o aumento da abstenção no segundo turno de 2010 e a quantidade votos nulos e brancos. A opinião é do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, e do cientista político, Alexandre Barros, da consultoria Early Warning.
36,3 milhões de brasileiros não compareceram às urnas ou votaram em branco e nulo no último domingo. A abstenção de 21,5% foi a maior desde 1994.
No domingo (31) à noite, Lewandowski afirmou que, tradicionalmente, há um aumento no índice de abstenção entre o primeiro e segundo turno. Tanto que, por conta disso, a Justiça Eleitoral fez campanhas para os eleitores comparecerem às urnas.
Lewandowski citou diferentes possibilidades para justificar o aumento na abstenção. Para ele, a maior foi o feriado prolongado. Além do dia de Finados, na terça-feira (2), muitos estados decretaram ponto facultativo na segunda (1º) por conta do dia do funcionário público, que aconteceu na quinta-feira passada (28). Alguns servidores não trabalharam nem na sexta-feira.
No entanto, o presidente do TSE disse que não há como mudar a data do segundo turno, já que o intervalo de quatro semanas é previsto pela Constituição Federal. “Nós temos que pensar no deslocamento do feriado”, sugeriu.
Mau tempo
Para o ministro, também influenciaram o crescimento das condições climáticas adversas em alguns estados, como a seca no norte do país e as fortes chuvas no Rio Grande do Sul. “Tradicionalmente, há uma oscilação para maior. Não me parece que seja um número muito significante”, afirmou.
Lewandowski comparou a ausência com a votação nas últimas eleições para o parlamento europeu. Lá, somente 30% dos eleitores compareceram para votar. No entanto, o voto para o parlamento europeu é facultativo.
Por último, o presidente do TSE ponderou que a forte votação obtida pela senadora Marina Silva (PV) no primeiro turno – 19,6 milhões (19,33%) – pode ter influenciado na abstenção também.
No entanto, ele descartou que a troca de acusações e o baixo nível da campanha no segundo turno tenham influenciado. “Não quero supervalorizar a troca de farpas. Essa troca de farpas mais intensa se manteve no nível de normalidade”, disse, acrescentando que não cabe à Justiça Eleitoral fazer essa avaliação. “Isso eu deixo para os sociólogos, historiadores, politicólogos e até antropólogos.”
Efeito Marina
O cientista político Alexandre Barros, que acompanha eleições desde 1950, diz que muitos eleitores de Marina preferiram não votar em ninguém. Mas só isso não explica porque 36,3 milhões não foram às urnas ou preferiram o sufrágio em branco ou nulo.
O consultor endossa a tese de Lewandowski sobre a influência do feriado e cita o desinteresse do eleitor em face da boa situação econômica vivida pelo Brasil. De acordo com Barros, apesar de procurarem se diferenciar, Dilma e Serra praticamente não tinham diferenças. “O que tinha era alguém dizer: ‘Ah, eu não gosto do Serra ou eu não gosto da Dilma’.”
Além disso, o cientista político enxerga que ambos os candidatos pregavam um quadro de continuidade, principalmente quanto à economia, um discurso conservador. Nenhum deles se mostrava como um ‘salvador da Pátria’. Por isso, parte dos eleitores preferiu ficar em casa, na praia ou no campo. “A tendência é a inércia quando tudo está bem”, avalia Barros.
O cientista político diz que alguns eleitores de Dilma, certos de sua vitória, também não compareceram às urnas. O mesmo motivo que fez apoiadores de Serra, resignados com a iminente derrota, optarem pelo descanso no feriado prolongado.
De todo modo, ele não vê a abstenção crescente como um problema. Além do aumento da população idosa, Barros enxerga um amadurecimento da sociedade. “Vem crescendo no Brasil a noção de que o voto é um direito e não um dever”, afirma o cientista político.
Abstenção de 21,5% nas eleições é a maior desde 94
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