O militar oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Abraão da Silva Taveira, de 39 anos, morreu após participar da etapa de um curso ministrado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), no dia 30 de agosto deste ano, em Brasília. De acordo com o irmão mais novo do militar, Davi da Silva Taveira, ele recebeu uma ligação do Major Reis do Batalhão de Policiamento com Cães (BPCães) à 0h15 do dia 31 avisando-o que Abraão teve um mal súbito que resultou em parada cardíaca. A família da vítima cobra investigação.
De acordo com informações transmitidas pela Polícia Civil do DF, o “óbito ocorreu na tarde do dia 8 de setembro, no Hospital de Base, onde estava internado na UTI desde o dia 30 de agosto”. Ainda não há laudo da medicina legal com as conclusões referentes ao caso.
Abraão era primeiro-tenente da PM de Alagoas e comandante do canil que pertence ao Bope regional. O policial militar estava em Brasília para participar de um curso de cinotecnia com duração de três meses e que terminaria em outubro. Cinotecnica é o conjunto de técnicas para empregar cães em atividades de finalidade militar ou operações policiais.
Conforme Davi, que é policial militar no estado da Paraíba, o curso é realizado pela PMDF, mas possui um módulo ministrado pelo Corpo de Bombeiros. O mal súbito ocorreu no centro de treinamento dos Bombeiros durante à noite, enquanto Abraão estava prestes a finalizar um exercício cujo objetivo era atravessar uma rede subterrânea de manilhas de concreto. O militar foi encontrado desacordado na penúltima manilha do exercício.
De acordo com o irmão do militar, inquéritos para investigar o caso foram abertos tanto nos Bombeiros do DF quanto na Polícia Militar do DF, bem como na própria PM do estado de Alagoas. “Obrigatoriamente, tem que ocorrer essa investigação nessas três instituições, porém a gente também foi na delegacia lá de Brasília. Queremos uma investigação pela Polícia Civil”, disse Davi, em entrevista ao Congresso em Foco.
Davi acrescentou que uma perícia foi feita no local a pedido do delegado Antunes, do 1º DP de Brasília, e que os alunos que atenderam ao módulo dos Bombeiros serão convocados a prestar depoimento. A necrópsia do corpo de Abraão já foi feita para determinar se algum elemento do percurso do treinamento causou a morte. O horário da ocorrência que levou Abraão a óbito foi entre 21h e 23h.
PublicidadeA Polícia Civil confirma as informações de Davi: “A autoridade policial encarregada já iniciou um inquérito policial para apurar as circunstâncias que envolvem o ocorrido. Os militares que participavam do curso, tanto os alunos quanto os instrutores, terão seus depoimentos colhidos. O corpo do militar foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização dos exames médicos necessários.”
Linha Fundamental
Questionado se Davi considera que o irmão possa ter falecido por algum tipo de exigência abusiva do treinamento, ele disse que acredita nas investigações e prefere aguardar o avanço dos inquéritos. “A gente, por ser militar, sabe como funciona esses treinamentos, né? Eu não estou afirmando que isso aconteceu com ele, mas isso é uma linha fundamental de investigação. A gente, por ser militar, sabe que esses cursos, eles exigem muito, entendeu?”
Davi esteve no local da ocorrência. A manilha fica a cerca de dois metros e meio de profundidade, continha água, e “eles tinham que submergir e resgatar alguma coisa, talvez um boneco ou um tronco de madeira em uma espécie de poço”. Davi visitou o circuito no dia 31 de agosto, após pegar um voo de João Pessoa, Paraíba, para Brasília.
A Polícia Civil enviou os dados básicos da ocorrência ao Congresso em Foco atualizados até a data de sexta-feira (15/09/23). No documento, consta o endereço onde ocorreu o treinamento em Brasília (SPO LT 1, Quartel do Corpo de Bombeiros, Setor Policial Sul, SPO – SETOR POLICIAL) junto com a seguinte informação:
“A DP foi comunicada sobre ocorrência de afogamento de um policial e tenente militar, residente no Estado de Alagoas, o qual teria se afogado em uma manilha durante atividade chamada: Administração e Controle de Pânico, no último dia 30/08/2023, no Centro de Treinamento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. O tenente teria sofrido um mal súbito e permanecido submerso na água por algum tempo. A vítima foi socorrida e levada ao Hospital de Base, onde permaneceu internada na UTI. Na tarde desta sexta-feira (8/9), o plantão policial foi noticiado da morte do tenente naquele hospital. Solicitada remoção de cadáver ao IML de Brasília. Equipe de policiais civis compareceu ao hospital para diligências preliminares. A DP apura os fatos.”
“Eu e minha mãe recebemos a informação com muita surpresa. Disseram que meu irmão teve um mal súbito, que estava sedado e entubado. Ou seja, a gente sabe que houve algo grave. Uma parada cardíaca não é algo simples. Ficamos chocados.”
Respostas das Corporações
O Congresso em Foco procurou a Polícia Militar do DF para obter um pronunciamento oficial da corporação. “A Polícia Militar do Distrito Federal informa que a Corregedoria instaurou Inquérito Policial Militar para apurar os fatos e as circunstâncias. A investigação aguarda a manifestação, por meio de laudo médico do órgão competente, acerca da causa da morte do policial.”
O mesmo foi feito com o Corpo de Bombeiros Militar do DF.
“O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) comunica que, em 1º de setembro, foi iniciado um Inquérito Policial Militar para investigar os eventos ocorridos durante o treinamento realizado em 30 de agosto, nas instalações do Centro de Treinamento Operacional. O prazo estabelecido para a conclusão deste inquérito é de 40 dias, com a possibilidade de prorrogação caso o presidente do procedimento julgue necessário para conduzir novas diligências. Reafirmamos nosso compromisso inabalável com a verdade, ética e conformidade aos princípios e valores institucionais. Estamos empenhados em esclarecer todos os eventos relacionados a esse exercício.”
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