Após experimentar uma queda na quantidade de conteúdo produzido na plataforma em 2018, o Facebook decidiu experimentar novas formas de distribuição para aumentar o engajamento. Desde estão, a rede social de Mark Zuckerberg passou a distribuir mais conteúdo extremista, que privilegiava o estímulo à polarização entre a direita e a esquerda. A revelação é da ex-gerente do Facebook Frances Haugen que denunciou a rede ao Congresso dos Estados Unidos em setembro de 2021.
“Engajamento baseado em ódio e conteúdo extremo é perigoso”, diz em entrevista ao Congresso em Foco Frances Haugen, que está no Brasil para uma série de eventos sobre a segurança. “Não é que o objetivo do Facebook fosse incentivar o extremismo, mas eles pensam – ‘bem, nós precisamos que as pessoas criem mais conteúdo, então não é tão ruim assim. Vamos continuar distribuindo conteúdo que provoque reações sociais.’ O fato de que o conteúdo extremo consiga essa distribuição e engajamento é considerado por ele apenas um efeito colateral.”
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Num país como o Brasil no qual 54% dos usuários usam o Facebook para se informar sobre notícias, de acordo com o Digital News Report da Reuters Institute, e às vésperas do início da campanha eleitoral, a revelação de Haugen é preocupante. Vale lembrar que as eleições de 2018 foram marcadas pela intensa campanha de desinformação e compartilhamento de fake news pela extrema-direita brasileira através das redes sociais e aplicativos de mensagens, que culminou com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Interferência dos algoritmos
“A ideia de que é o Facebook quem decide o que vai ser distribuído é inaceitável numa democracia. E tampouco a ideia de que o Facebook não influencia na eleição não existe”, dispara Haugen ao ser perguntada sobre a interferência dos algoritmos num pleito eleitoral. “Sabemos que no Brasil os produtos do Facebook têm um papel enorme no ambiente de informação. Partidos políticos na Europa se manifestaram logo após essa mudança na distribuição: nós sabemos que vocês mudaram o algoritmo porque antigamente nós podíamos postar um paper sobre a nossa política agrícola – e vamos concordar que não é a coisa mais interessante do mundo – mas obtinha reações, curtidas. Agora, o mesmo conteúdo não obtém nenhuma reação porque não é distribuído.”
De acordo com a ex-gerente de produtos do Facebook, a plataforma tem intencionalmente negado acesso a informações sobre as suas plataformas em grande extensão. Haugen diz que o Facebook não quer que o ecossistema de responsabilização opere, para que litigantes não possam entrar com ações.
“O Facebook não tem desejo de transparência no Brasil. porque dessa forma o governo brasileiro não pode impor sanções à plataforma por subinvestimento. Por isso não divulgam o nível de investimento na proteção contra a desinformação no Brasil”, conta Haugen. “Se você quiser reduzir a desinformação é só reduzir o compartilhamento e o Facebook sabe como fazer isso. Mas, ele dizem que é indefensável fazer isso porque alegam que não podem provar que esse recurso aumenta a desinformação. Então precisamos cobrar da plataforma recursos para combater a desinformação.”
PublicidadeEm referência à integridade das eleições brasileiras, Haugen afirmou que os investimentos feitos pelo Facebook para o pleito americano (desmobilizados logo após a votação, abrindo espaço para o episódio da Invasão do Capitólio) estabeleceram camadas de proteção à desinformação nos Estados Unidos e, o Brasil merece, no mínimo, o mesmo nível de atenção.
“O processo eleitoral brasileiro depende muito mais dos aplicativos da empresa do que o norte-americano”, afirma a ex-gerente do Facebook.
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