Maio de 2019. Lembro-me de quando o MBL rompeu de vez com o governo Bolsonaro, logo no início do mandato. À época, já criticávamos várias atitudes do presidente e a gota d’água veio com a manifestação claramente golpista da qual o chefe da República participou no dia 26 daquele mês.
Por seguir nossa linha de atuação e por criticar, desde lá, o “mito” Jair Bolsonaro, fomos alvo de todas as acusações possíveis: “traidores”, “interesseiros” e “nova esquerda” foram as principais, mas não as únicas e tampouco as mais amenas.
Todavia, o tempo é implacável, ele demonstrou que nossas previsões foram certeiras. Bolsonaro não apenas continuou a exaltar e promover teses e manifestações golpistas, bem como afundou-se em corrupção (pretérita e contemporânea ao mandato presidencial).
Apesar dos crimes contra a humanidade que Bolsonaro cometeu durante a pandemia, as frequentes ameaças autoritárias e os escândalos de corrupção, muitos políticos ou figuras públicas que cresceram midiaticamente sob o discurso da “independência” e da “imparcialidade”, continuaram colados na figura do presidente. Diversos parlamentares e influenciadores que eram vistos pela opinião pública como líderes de um novo grupo político em ascensão, praticaram justamente o oposto do que pregavam: se deixaram levar pelos “likes”, compartilhamentos e engajamento do público bolsonarista (ou dos robôs do filho 02) nas redes sociais.
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Três anos se passaram desde o início do governo Bolsonaro e, após uma gestão desastrosa, os resultados de sua política nefasta se refletem em pesquisas de opinião. Pela primeira vez, a aprovação do presidente ficou abaixo dos 20%, enquanto a intenção de voto do potencial nome para a terceira via, Sergio Moro, já atinge os 13,7% (Atlas/dezembro).
Como esperado, as mesmas figuras oportunistas que surfaram a onda do bolsonarismo até agora já buscam se desvincular do presidente e tentam colar no ex-ministro da Justiça. Não por convicção ideológica, mas por mero parasitismo.
Um exemplo melancólico, mas bastante claro, é o caso da deputada estadual Janaína Paschoal. A parlamentar passou três anos endossando o discurso antivacina de Jair Bolsonaro, fez ouvidos moucos para os avanços autoritários do presidente e deu de ombros ante à incompetência do governo federal na gestão da pandemia.
Todavia, em recente entrevista ao humorista Rogério Vilela, afirmou que Moro é um “excelente candidato”. Do mesmo modo, o bolsonarista (não se sabe se por convicção ou remuneração) Caio Coppola alegou no programa Pânico, da rádio governista Jovem Pan, que irá dar o “benefício da dúvida” para a candidatura de Sergio Moro. Em ambos os casos, a repentina mudança de opinião e a inegável falta de caráter dos citados causou reação severa do público bolsonarista, em medida até mais intensa que a sofrida pelo MBL naquele maio de 2019.
Resta cristalino que pessoas como essas não estão simplesmente avaliando as propostas e convicções de Moro para estabelecer se irão ou não apoiar sua candidatura e seus projetos. Essas pessoas se pautam pelo oportunismo político e estão apenas “sentindo o clima” de seus comentários e como eles repercutem entre seus seguidores nas redes sociais. Caso os “likes” aumentem ou se mantenham estáveis, colarão na candidatura de Moro. No entanto, se essa nova opção política for rechaçada, essas pessoas se amesquinham ainda mais e permanecem vinculadas no bolsonarismo para poder “tirar uma casquinha” nas eleições vindouras.
O eleitor deve se perguntar sobre seu potencial candidato: onde ele estava quando Bolsonaro tentou confiscar vacinas de São Paulo por atritos políticos com o governador João Doria? Onde ele estava quando o presidente se aproveitou de uma pandemia que vitimou 600 mil brasileiros para insuflar um clima revolucionário no país? O que ele achou da troca de ministros técnicos por membros do Centrão? O que ele disse sobre a filiação de Bolsonaro ao partido de Valdemar da Costa Neto?
O maior medo daqueles que estão abandonando o barco bolsonarista a essa altura do campeonato é que o eleitor se lembre dos absurdos que eles defenderam nos últimos três anos. Esses oportunistas apostam na memória curta do brasileiro para a política.
Em 2022, o eleitor deverá distinguir entre os que enxergaram os erros do governo desde sempre e se recusaram a permanecer ao lado do golpismo e aqueles oportunistas de primeira hora que abandonam seus princípios ao quantificarem suas posições políticas. Como diz o sábio: “as palavras convencem, mas o exemplo arrasta”. Que em 2022, os exemplos nos arrastem para longe do populismo e da corrupção.
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