“A pandemia vai terminar com a endemização do vírus. Esse vírus veio para ficar. Ele está adaptado à nossa população”, previu Fernando Real, doutor em Ciências pelo Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de São Paulo, livre-docente pela Universidade de Paris e pesquisador, durante o Congresso em Foco Talk, desta quinta-feira (7), que debateu quando e como a pandemia do novo coronavírus chegará ao fim.
O bate papo, mediado pelo fundador do Congresso em Foco, o jornalista Sylvio Costa, também contou com a participação de Clarissa Damaso, virologista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutora em Ciências Biológicas pela mesma universidade, onde também fez pós-doutorado e chefia o Laboratório de Biologia Molecular de Vírus. Foi ainda professora visitante da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos.
O pesquisador disse, porém, que não vê essa endemização como algo negativo e que muitos pares acreditam que esse seja o cenário mais provável. “Porém, é muito difícil ainda prever as consequências dessa endemização do Sars-CoV-2. Mas, existem dois cenários possíveis: que o coronavírus vai causar surtos epidêmicos sazonais, como o influenza, que é o vírus da gripe” , explicou Real. “Eu também penso em um outro cenário, talvez mais otimista, que é o Sars-CoV-2 se endemizando já como os outros quatro coronavírus que já são endêmicos na população, que já são adaptados ao humano e causam resfriados comuns.”
Leia também
Entretanto, o virologista, que é doutor em Ciências pelo Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, aponta para um cenário mais pessimista. “Não há nada que indique ele, mas é um cenário que a gente precisa se antecipar também, que envolve esse problema com a desigualdade de vacinação e que pode gerar novas variantes que escapem ao poder imunizante das vacinas.”
Imunidade de rebanho
Para a virologista Clarissa Damaso, da UFRJ, a ideia de imunidade de rebanho defendida durante a pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, não encontra respaldo no trato com outras doenças e teria um custo muito alto.
Publicidade“Esse foi o pensamento original . Eu não vejo isso acontecendo nem para coronavírus, nem para nenhum vírus respiratório. Na verdade, se a gente pensar em termos de outras doenças, que mesmo que não seja por vírus respiratório, nenhuma doença no mundo foi controlado por imunidade de rebanho. Varíola estava há séculos na humanidade – já foi erradicada – e não gerou imunidade de rebanho. Esse pensamento no início chegava a ser temerário porque isso [imunidade de rebanho] seria às custas de muita gente morrer”, declarou Clarissa durante o debate.
Sobre quais lições o Brasil pode tirar a respeito do enfrentamento à pandemia, Clarissa foi enfática: “Não fazer nada do que foi feito aqui.” De acordo com a virologista, o combate à pandemia não foi feita da maneira correta , o que levou o Brasil às mais de 600 mil mortes causadas pela covid-19.
“No começo eu estava apostando que a gente ia ser líder na produção de vacina nas Américas, porque a gente tem condições para isso, e a gente conseguiria ofertar vacinas para a América do Sul ser um pólo produtor de vacinas”, explicou a virologista. “Nós temos uma planta vacinal maravilhosa com Bio-Manguinhos e Butantan. É algo que a gente teria condições se desde o começo se tivessem investido claramente. Hoje, a gente estaria com uma cobertura vacinal muito maior dentro do próprio Brasil e contribuindo para os países, pelo menos, sul americanos.”
Veja a íntegra do Congresso em Foco Talk:
Deixe um comentário