O horário eleitoral para presidente já voltou ao ar, com força total. Neste segundo turno, serão quase 20 dias de propaganda eleitoral diária na televisão. Cada candidato terá 20 minutos por dia – metade deles em horário nobre – para se dirigir novamente ao eleitorado. Ao contrário do primeiro turno, desta vez também teremos o horário eleitoral até mesmo aos domingos. Isso sem contar os debates e as inserções publicitárias que são diluídas nos intervalos da programação normal das emissoras.
Mas o segundo turno em si mesmo já não é mais uma novidade. Os brasileiros já nos acostumamos a essa espécie de “prorrogação” do jogo eleitoral. Houve segundo turno em quatro das seis eleições presidenciais realizadas no país desde a redemocratização – inclusive nas três mais recentes. Por enquanto, o ex-presidente FHC continuará sendo o único inquilino do Palácio do Planalto que conseguiu liquidar a fatura eleitoral logo no primeiro turno. E por duas vezes consecutivas.
Vários analistas – inclusive eu mesmo – foram buscar no retrospecto das eleições passadas alguma inspiração para estimar as chances de ocorrer uma “virada” neste segundo turno. O fato é que elas são bastante raras. Nas eleições presidenciais, ainda são inéditas. Nas eleições para os governos estaduais, as viradas aconteceram em somente uma de cada três disputas que foram para o segundo turno.
O problema é que essas estatísticas são meramente descritivas. Elas não nos permitem antecipar com segurança quando as viradas efetivamente ocorrem ou deixam de ocorrer. Elas são um retrato do passado, e não uma aposta para o futuro.
Ainda não vou me arriscar a prever o resultado desse segundo turno. Naturalmente, a candidata Dilma Rousseff largou como favorita. Mas o candidato José Serra certamente não pode ser considerado uma carta fora do baralho. A pesquisa Datafolha divulgada no último final de semana mostrou uma vantagem de oito pontos percentuais da petista sobre o tucano nos votos válidos. Essa diferença é bem grande, mas está longe de ser irreversível. Vem daí a importância da adequada condução das duas campanhas eleitorais.
A boa notícia é que as duas campanhas estão muito mais politizadas agora do que estiveram no primeiro turno. A propaganda dos candidatos não está mais concentrada apenas em insossos temas administrativos ou de gestão de políticas públicas. Tenho visto com muito bons olhos a crescente importância atribuída a temas de natureza ideológica, macro-econômica, moral e religiosa. Não há como negar que a velha e boa política retornou ao cenário eleitoral.
Talvez seja apenas o meu desejo de ver o circo pegar fogo. Mas, mantido o atual curso da campanha, estou quase chegando ao ponto de apostar que a diferença final entre os dois candidatos será inferior a cinco por cento dos votos válidos – independentemente de quem seja o vencedor. Nesse sentido, seria um desfecho muito mais parecido com o que ocorreu em 1989 (quando Collor derrotou Lula por uma diferença de cerca de seis pontos percentuais) do que com o padrão observado nas duas eleições mais recentes (quando a margem de vitória de Lula sobre os candidatos tucanos se aproximou de 20 pontos percentuais).
Já estava mais do que na hora de vermos novamente uma eleição tão competitiva! Esse segundo turno será para quem tem coração forte!
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