A Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas encaminharam, nesta sexta-feira (28), notícia-crime ao Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Racismo e Intolerância, da Polícia Civil de Goiás, contra a atriz Cássia Kiss. A ação decorre das declarações de Cássia contra a comunidade LGBTI+ e a legalização do casamento homoafetivo, dadas em entrevista à jornalista Leda Nagle.
Durante a entrevista, a atriz afirmou que o relacionamento entre pessoas LGBTI+ representa “destruição para a vida humana”, e que o mundo vive um momento “onde não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com a mulher e o homem com homem, onde tem essa ideologia de gênero que a gente está vendo dentro das escolas com as crianças”. Ela ainda afirmou que há interesse de “destruir a família” e “destruir a vida humana” na legalização dessas relações.
Em entrevista ao Congresso em Foco, a advogada Amanda Souto Baliza, representante judicial dos dois movimentos que abriram a ação, apontou diversos aspectos problemáticos no discurso da atriz. O primeiro é alimentar a teoria conspiratória da “ideologia de gênero”, que circula com intensidade entre círculos de extrema direita. O impacto do tema é maior quando utilizado para tratar do ensino infantil. “Ela instiga pânico moral na sociedade ao falar de crianças, o que foi desmentido pela Agência Lupa”, explicou.
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O tom das declarações de Cássia Kis também chama a atenção da jurista. “A fala provoca uma sensação de que a população LGBTI+ é uma ameaça para o restante da população, especialmente quando diz que querem destruir a família e a humanidade. Isso faz com que o ódio seja fomentado na sociedade colocando pessoas que muitas vezes já estão em estado de vulnerabilidade em maior risco”, afirmou.
Na notícia-crime, a advogada ainda alerta para os efeitos práticos do tipo de discurso proferido pela atriz. “Os índices de violência contra a população LGBTI+ crescem ano após ano, um exemplo evidente disso é o aumento de mais de 80% de crimes sexuais contra a população LGBTI+ registrado no anuário de segurança pública de 2022. Tais crimes muitas vezes são motivados pela crença de que as pessoas LGBTI+ podem ser ‘consertadas’ a partir do chamado ‘estupro corretivo’”, apontou.
Poucas horas antes das duas entidades, a advogada Márcia Verçosa de Sá Mercury, filha da atriz Daniela Mercury, abriu uma representação de teor semelhante no Ministério Público. Amanda Souto conta que não descarta a possibilidade de somarem esforços nas denúncias, que podem resultar em até cinco anos de prisão para Cássia Kis por homofobia. A representante dos movimentos sociais ainda prepara uma ação civil pública, pedindo indenização por danos morais.
PublicidadeConfira a seguir a íntegra da notícia-crime:
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