Vitor Peixoto e Felipe Borba *
No domicílio eleitoral do atual presidente da República, a disputa presidencial tem marcado a configuração das eleições estaduais. Não é exatamente uma novidade a nacionalização das campanhas para governador do Rio de Janeiro, pois em 2018 o impichado Wilson Witzel (PSC), até então um desconhecido do mundo da política, foi eleito no rastro da onda bolsonarista.
A eleição de 2022 no Rio promete reproduzir a polarização política nacional de maneira ainda mais intensa. Em 2018, o candidato derrotado Eduardo Paes não era um apoiador entusiasmado de Fernando Haddad (PT) e escondeu, sempre que pode, o candidato do PT em sua campanha. Então, é possível dizer que houve uma candidatura bolsonarista no Rio no segundo turno de quatro anos atrás, mas não uma de apoio ao PT, o que talvez ajude a explicar os 67,95% dos votos válidos dados a Bolsonaro no estado.
Na atual eleição, as dobradinhas estão mais claras. Bolsonaro tem a seu favor o apoio declarado do atual governador, Cláudio Castro (PL), que ascendeu ao poder após a queda do governador Witzel. Do lado da oposição, há duas candidaturas sinalizando apoio a Lula. Uma delas é a de Marcelo Freixo (PSB) e a outra de Rodrigo Neves (PDT) que, embora seja candidato pelo partido de Ciro Gomes, tem manifestado apoio ao ex-presidente petista.
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O atual inquilino do Palácio das Laranjeiras, Claudio Castro, surge no momento como favorito. Castro não terá apenas o apoio de Bolsonaro como principal ativo eleitoral. Desde que assumiu o cargo de governador, Castro tratou de estabelecer alianças com figuras tradicionais da política fluminense, sobretudo, com lideranças presentes na Alerj e prefeitos do interior que foram re-aglutinados após o impeachment do seu antecessor.
O candidato à reeleição goza de uma relativa liberdade fiscal concedida por três fatores: rolagem da dívida estadual com a inserção do Rio de Janeiro no programa de recuperação fiscal, recursos da venda de empresas estatais como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e, por fim, da inflação que permitiu aumentar a arrecadação com impostos. Isso possibilitou ao governo estadual colocar a máquina do Estado para atuar com fins eleitorais, principalmente com a inauguração de inúmeras obras.
O grande problema de Castro é que um dos instrumentos utilizados para construir as alianças foi alvo de investigação jornalística e se transformou no que ficou conhecido como “escândalo do Ceperj”. Foram descobertos pagamentos na boca do caixa para quase trinta mil indicados políticos sem qualquer transparência, totalizando cerca de meio bilhão de reais. Até o momento não é possível identificar com precisão a extensão do estrago eleitoral que um escândalo como este pode causar, principalmente, em um estado que parece ter se anestesiado após tantos escândalos que levaram à cadeia cinco de seus ex-governadores.
No campo da oposição há uma completa falta de coordenação entre os diferentes partidos para compor a chapa para governador em apoio a Marcelo Freixo (PSB). O PT exigia que um único candidato ao Senado fosse lançado e que o nome fosse do presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), mas Alessandro Molon (PSB) conseguiu manter sua candidatura alegando estar melhor colocado nas pesquisas e, por conseguinte, estar em situação estratégica para o Rio eleger um senador de esquerda. Esse desentendimento quase inviabilizou a coligação entre PT e PSB no estado.
O fato é que, iniciado o período oficial da campanha, em 16 de agosto, a eleição estadual parece ainda não ter contagiado o eleitor. Segundo a última pesquisa Ipec para o governo do Rio de Janeiro, divulgada no dia 15 de agosto, o atual governador tem 21% das intenções de voto, contra 17% de Marcelo Freixo e 5% de Rodrigo Neves – os demais sete candidatos somam 15%. Quem “lidera” a disputa são os votos brancos e nulos (29%) junto com os indecisos (10%) – cenário pouco distinto da pesquisa Quaest divulgada no dia 18 de agosto na qual brancos, nulos e indecisos somavam 38%. Esse panorama sugere que ou a atenção do eleitor está mesmo na disputa presidencial ou há profundo descrédito com as elites políticas do estado.
O favoritismo de Castro nesta fase inicial da campanha provém mais de uma fragmentação da oposição e da incapacidade de coordenar uma candidatura unificada do que propriamente de uma avaliação positiva do seu governo – que conta com 22% de ótimo e bom, 40% de regular e 26% de ruim ou péssimo. A maior vantagem eleitoral de Castro se dá entre moradores do interior, evangélicos, eleitores com renda entre dois e cinco salários mínimos e pessoas com idade acima de 35 anos.
Uma das maiores dificuldades da candidatura de Marcelo Freixo é atingir a população mais pobre, religiosa e periférica. Seu melhor desempenho se dá entre os eleitores com idade até 35 anos, os que possuem ensino superior, os sem religião e os residentes na capital. Rodrigo Neves, mesmo apoiado por Eduardo Paes, não se destaca em nenhum estrato socioeconômico relevante.
A disputa pela vaga no Senado é liderada com folga pelo atual ocupante da cadeira, Romário (PL), que conta com 27% das intenções de voto. Seguido de longe por uma miríade de candidatos empatados como Daciolo (PDT) com 8%, Molon (PSB) com 7%, Clarissa Garotinho (UB) 7%, Daniel Silveira (PTB) com 6% e André Ceciliano, com 4%.
Este é o cenário que abre a campanha eleitoral no estado do Rio de Janeiro: há um candidato à reeleição ao governo estadual apoiado por Bolsonaro e uma oposição com sérias dificuldades para se coordenar que apoia o ex-presidente Lula.
* Felipe Borba é cientista político e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio, onde coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. É bolsista Jovem Cientista da Faperj e Pesquisador Produtividade PQ-2 do CNPq. Coordena o Grupo de Investigação Eleitoral e o Observatório da Violência Política e Eleitoral.
Vitor Peixoto é cientista político e professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e membro do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
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