Rondônia foi o único estado brasileiro em que Bolsonaro sagrou-se vitorioso em todos os municípios, em cada um dos quatro turnos das eleições de 2018 e 2022. O crescimento do bolsonarismo rondoniense pode ser observado nos diversos níveis de competição eleitoral, além da evidente inexistência de oposição parlamentar em âmbito estadual e também no plano municipal, no caso da capital Porto Velho. Não obstante o fato de que desde a sua fundação o subsistema partidário rondoniense tem sido marcado pelo predomínio de partidos conservadores, é notória à guinada radical à direita em curso no estado desde as eleições de 2018.
Em recente pesquisa que será publicada em breve, de autoria minha e do cientista político e professor da UFPR, Márcio Cunha Carlomagno, verificamos que Jair Bolsonaro (PL), além de vencer na totalidade das 52 cidades rondonienses nos respectivos primeiro e segundo turnos das disputas presidenciais de 2018 e 2022 conforme já haviam apontado as análises de conjuntura do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (LEGAL), saiu vitorioso também em cerca de 97% das seções eleitorais do estado em ambos os pleitos. Ademais, em boa parte desses municípios Bolsonaro venceu em todas as seções nos quatro turnos que disputou. De fato, os dados impressionam.
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Nesse contexto, a aliança de partidos vitoriosa na disputa ao governo de Rondônia em 2022 se fortaleceu ainda mais após o período da janela partidária desse ano na Câmara Municipal de Porto Velho (CMPV). Embora com alguns atritos e pequenas rusgas nesse percurso, o grupo liderado pelo governador, Cel. Marcos Rocha (União), e pelo prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), formado fundamentalmente por lideranças de União Brasil, PSDB e Republicanos, até o momento, parece chegar unido à disputa local de outubro próximo. Ainda que o prefeito já detivesse maioria absoluta na CMPV, com a diminuição drástica da fragmentação partidária, de 14 para 7 legendas, e a migração majoritária em direção à sua base de apoio, Hildon Chaves consolidou sua coalizão legislativa em torno dessas três legendas, que juntos possuem 70% das cadeiras da casa de leis da capital. Cumpre mencionar que, durante o segundo mandato do tucano Chaves, a taxa de aprovação dos projetos de lei de autoria do Executivo gira em torno de 90%.
Em meio a essa conjuntura, o nome governista à sucessão de Hildon Chaves (PSDB), a ex-tucana e ex-deputada federal Mariana Carvalho (União), chega à pré-campanha como favorita. Mariana (União) é irmã do deputado federal Maurício Carvalho, um dos principais quadros estaduais do União Brasil, e ex-vice-prefeito de Porto Velho, eleito, ainda pelo PSDB, na chapa de Hildon Chaves em 2020. Ambos são filhos do ex-vice-governador Aparício Carvalho, proprietário de um centro universitário que leva seu nome e atual presidente regional do Republicanos, legenda presidida por Mariana Carvalho até o início do mês de abril, quando migrou para o União.
Todavia, o cenário, mesmo que ainda favorável à ex-deputada, mudou substancialmente após o lançamento da pré-candidatura do também ex-deputado federal, Léo Moraes (Podemos). Deputado federal mais votado do estado na eleição de 2018, político de centro-direita, Moraes foi o terceiro colocado na disputa ao governo estadual em 2022, tendo sido decisivo no segundo turno quando apoiou a reeleição de Marcos Rocha (União), contra outro nome do bolsonarismo, o senador Marcos Rogério (PL). Em retribuição à aliança que garantiu sua reeleição, Rocha nomeou para seu segundo mandato Moraes como diretor do Detran. Apesar de não contar com o apoio do governador, Léo Moraes (Podemos) é hoje o adversário mais competitivo à disputa de um segundo turno com Mariana Carvalho (União).
Ainda no campo da direita e centro-direita, outros nomes se lançaram em pré-campanha. O atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Cruz (PRTB), com forte influência junto ao eleitorado evangélico, é sem dúvida um puxador de votos que não pode ser descartado. Há também as pré-candidaturas de outsiders das disputas eleitorais, como a magistrada aposentada Euma Tourinho (MDB) e o empresário Valdir Vargas (PP). Mesmo que a atual conjuntura seja bastante distinta das eleições de 2016 e 2018, em se tratando de um estado e de uma capital que elegeram dois outsiders das urnas como atuais mandatários, esses nomes também não podem ser desprezados, principalmente, no momento pré-eleitoral de construção de alianças e composições.
PublicidadePelo lado progressista, os principais nomes no atual cenário político da capital são Vinicius Miguel (PSB) e Fátima Cleide (PT). Presidente estadual do PSB e professor da Universidade Federal de Rondônia, Miguel é um político moderado, de centro-esquerda. Na eleição municipal de 2020 ficou na terceira posição, perdendo a vaga ao segundo turno por apenas 1% dos votos. Já a ex-senadora Fátima Cleide (PT) é ainda hoje uma reconhecida liderança da esquerda no estado. Embora sem mandato desde 2011, obteve expressiva votação na disputa à Câmara dos Deputados em 2022.
No entanto, apesar da capital ser mais aberta a candidaturas progressistas, quando comparado com o interior, ainda hoje o antipetismo rondoniense continua também muito forte em Porto Velho. Um exemplo disso é que há várias legislaturas, o PT, maior partido da esquerda brasileira, não consegue eleger sequer um vereador na cidade. Decerto, a falta de oposição parlamentar é uma questão crucial para a qualidade da democracia. E no caso de Porto Velho, evidencia-se a necessidade de o campo progressista, particularmente, o PT local, dar mais atenção à disputa proporcional.
Nesse contexto, uma possível candidatura de Vinícius Miguel (PSB) poderia obter melhor desempenho e até mesmo chegar ao segundo turno. Isso, porém, dependeria de algumas variáveis que vão desde uma fragmentação de candidaturas conservadoras e, principalmente, da forma como a campanha será influenciada pela atual polarização radicalizada em nível nacional. Ainda que em uma disputa local temas debatidos difiram substancialmente daquilo que se discute em tempos de eleições gerais, será difícil nos dias atuais evitar pautas de costumes e valores sempre invocadas pelo conservadorismo.
Por fim, vale frisar que embora tradicionais recursos de poder, como financiamento eleitoral, tempo de rádio e tv, aliança de partidos com capilaridade, entre outros, ainda sejam determinantes numa campanha majoritária, exemplos não faltam para mostrar que nos últimos anos tem sido cada vez mais comum a vitória de candidaturas despidas de muitos desses elementos. A própria eleição de Bolsonaro em 2018 deixou isso muito claro.
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