Lucas Medrado *
Portanto, como ensina a doutrina bíblica escrita em (I Co. 6:19-20 “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus. Não será mais tolerado o uso de roupas justas, curtas, sensuais, transparentes, rachadas, decotadas, bem como o uso de maquiagens, pintura nos olhos, cílios postiços, sobrancelhas de hena, pintura nas unhas, o corte de cabelo para as mulheres, o uso de calça comprida e saltos altos. Aos homens é proibido manter a barba por fazer, assim como o penteado afro e o uso de calças coladas ao corpo. Tudo isso, independentemente do ambiente dentro ou fora da igreja.
Fragmento do comunicado da Diretoria da IPDA no dia 03/12/2024.
O Comunicado
A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) recentemente causou alvoroço entre seus membros e a comunidade em geral com um comunicado que versa sobre a maneira como os fiéis devem se comportar e vestir dentro e fora da instituição. O ponto alto que tem reverberado, especialmente entre os membros negros, está no veto a penteados afros, levantando questões importantes sobre a relação entre negritude e pentecostalismo no Brasil.
Leia também
Corpo no Mundo
Em um contexto em que a IPDA dita as regras de como seus fiéis devem se portar e se vestir, a música “Corpo no Mundo” de Luedji Luna ecoa como um grito de resistência. A letra “Cada rua dessa cidade cinza sou eu / Olhares brancos me fitam / Há perigo nas esquinas / E eu falo mais de três línguas” ilustra a experiência de ser negro em um espaço que visa homogeneizar e padronizar seus membros. A IPDA, com suas restrições e proibições, torna-se uma metáfora para essa cidade cinza, onde a negritude é vista como um perigo, algo a ser controlado e moldado. O comunicado, que proíbe penteados afros, uso de maquiagem, pintura nas unhas e até mesmo o corte de cabelo para mulheres, reforça essa ideia de controle sobre o corpo, especialmente o corpo negro, que historicamente foi alvo de opressão e objetificação.
E a palavra amor, cadê?
A pergunta “E a palavra amor, cadê?” Se torna ainda mais irônica quando pensamos no nome da instituição: Igreja Pentecostal Deus é Amor. Onde está o amor pela diversidade, pela individualidade, pela negritude que pulsa nas veias de grande parte de seus fiéis? A IPDA, ao invés de acolher e celebrar a riqueza cultural de seus membros, opta por impor um padrão eurocêntrico que nega e invisibiliza a negritude. A proibição do penteado afro, um traço marcante da identidade negra, é um exemplo claro dessa negação. É como se a IPDA dissesse que a negritude, em sua expressão mais autêntica, não é digna de estar em seus templos.
Je suis ici
A afirmação “Je suis ici, ainda que não queiram não / Je suis ici, ainda que eu não queira mais / Je suis ici, agora / Je suis ici” é um ato de resistência contra o apagamento racial. A negritude se recusa a ser silenciada, a ser moldada pelos ditames de uma instituição que não a reconhece em sua plenitude. A cada “Je suis ici” ecoa a força ancestral de um povo que se recusa a se curvar diante da opressão, que insiste em ocupar seu espaço com dignidade e orgulho. A cada cabelo crespo que se recusa a ser alisado, a cada unha que se recusa a ser escondida, a cada traço da negritude que se recusa a ser apagado, o “Je suis ici” se torna um grito de resistência contra a IPDA e seus padrões excludentes.
O enegrecimento frente ao “esclarecimento”
Após a repercussão negativa do comunicado, a IPDA divulgou uma nota de “esclarecimento”. No entanto, ao invés de reconhecer o problema e rever as diretrizes, a nota apenas afirma que o comunicado inicial não refletia a intenção da diretoria, que a igreja preza pelo bom testemunho e pela santidade, sem mencionar a questão racial ou se retratar sobre a proibição do penteado afro. Essa postura omissa reforça o apagamento da negritude e a falta de sensibilidade da IPDA em relação à diversidade racial. A música de Luedji Luna nos convida a refletir sobre o papel da IPDA e de outras instituições religiosas na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É preciso que a igreja se abra para a diversidade, que reconheça a beleza e a riqueza da negritude, que acolha seus membros em sua integralidade. Afinal, como podem falar de amor e de “Deus” em um espaço que nega a própria identidade de seus fiéis? O comunicado da IPDA, ao invés de promover a união e o amor ao próximo, acaba por criar divisões e exclusões, ferindo a comunidade negra que representa grande parte de seus membros, reforçando o apagamento em vez do enegrecimento tão presente nos pentecostalismos brasileiros. É hora de a IPDA rever seus conceitos e práticas, e entender que a verdadeira beleza reside na diversidade e na autenticidade de cada indivíduo.
NR: após a publicação desta coluna, a assessoria da Igreja Pentecostal Deus é Amor enviou ao Congresso em Foco a seguinte nota:
“A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) repudia todo e qualquer ato de discriminação. O referido comunicado não representa os valores cristãos defendidos pela igreja, que apura as circunstâncias de sua divulgação.A IPDA continua de braços abertos para acolher a todas as pessoas, como faz há mais de 60 anos.”
* Lucas Medrado é doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em História e Teologia do Protestantismo no Brasil pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Santo Amaro. Graduado em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Membro da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). É autor do livro Cristianismo e Criminalidade (Fonte Editorial).
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br
We’re a group oof volunteers and starting a new schee in our community.
Youur wweb sitte offered us with valouable innfo tto work on. You hawve one
aan impreessive jobb and oour entyire communify wull bee thankful to you.
Não sei como os negros ainda buscam essas igrejas