Em 2022, o Brasil completou 200 anos da sua independência cercado de incertezas e expectativas. A eleição mais polarizada da história impedia que se soubesse para que rumo o país seguiria a partir da decisão que a sociedade tomaria um mês depois. Era um país à deriva. E à deriva nem tinha como exatamente estimar o quanto de fato era independente. Talvez por isso, tenha comemorado muito pouco seu bicentenário.
Antes mesmo da proclamação feita por Dom Pedro I em 1822, José Bonifácio de Andrada e Silva, que passaria para a história como o “patriarca da independência”, já alertava em um texto escrito em 1820 que um país sem conhecimento científico e tecnologia próprias jamais seria independente. Bonifácio lembrava o próprio exemplo de Portugal: foi a tecnologia das grandes navegações que tornou a Europa o rico e poderoso continente da era moderna.
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O texto de José Bonifácio deu início à série Ciência à Deriva, que o Congresso em Foco iniciou em setembro do ano passado e que encerra hoje com o documentário exclusivo “Ciência à Deriva: O desmonte da ciência brasileira”.
Assista:
O documentário reúne a apuração e as entrevistas feitas ao longo da série, abordando diversos ângulos do desmonte da ciência brasileira. O corte nos financiamentos do setor. Os valores irrisórios pagos para as bolsas de graduação e pós-graduação. A falta de recursos afetando o funcionamento de universidades e institutos de pesquisas. A diáspora de cientistas e pesquisadores brasileiros diante da falta de oportunidades no país. Os riscos para a saúde da população com o discurso e as ações negacionistas do governo. O cenário encontrado na virada do ano. E os desafios do novo governo para a retomada.
Entre os entrevistados, estão a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos; o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro; o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, e o infectologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) Pedro Hallal.
A série Ciência à Deriva e o documentário tiveram o apoio do Instituto Serrapilheira.
Veja os demais textos que compõem a série:
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Este trabalho recebeu apoio do Instituto Serrapilheira (Número do processo Serra – R-2206-41148)
Sucessivos Governos nos ultimos 60 anos tratam Ciencia de forma anacronica. Ao mesmo tempo que criaram uma importante infraestrutura de Pesquisa amplamente baseada em investimento em instituicoes estaduais e federais, deixam de fazer o que todo pais desenvolvido economicamente faz, que é criar politicas para aplicação economica da Ciencia em Tecnologia. O Brasil não chegara mais a lugar algum se essa conexao Ciencia-Tecnologia não for feita, em particular nas areas em que o Brasil certamente tem vocação natural. Parece haver um enorme campo aberto à frente em tecnologias limpas, que certamente receberiam apoio financeiro externo. Falta o que sempre faltou, que é interesse politico nisso. No momento o Brasil esta pagando com a propria falencia material por esse desinteresse.