Na sessão plenária da Assembleia Legislativa de Pernambuco de 15 de agosto de 2023, no mesmo dia do apagão que atingiu todo Brasil, exceto o estado de Roraima, o deputado coronel Alberto Feitosa (PL) afirmou que os motivos que levaram ao apagão estavam associados às fontes renováveis (energia solar e eólica), defendendo a imperativa necessidade de se rediscutir a instalação de usinas nucleares no município de Itacuruba (PE), no Sertão de Itaparica.
Será que o nobre deputado tem contatos extraterrestres para poder antecipar, o que ainda não foi oficialmente esclarecido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)? Afinal, as investigações para desvendar as reais causas do apagão, que trouxe tantos infortúnios a mais de 30 milhões de brasileiros ainda estão em curso.
O deputado usou a tribuna do Poder Legislativo para vociferar contra as fontes renováveis pelo fato de serem fontes intermitentes (não geram energia elétrica continuamente), características intrínsecas das fontes solar e eólica. Acusa a esquerda de ser favorável a estas fontes abundantes e distribuídas no Nordeste brasileiro, criticando esta mesma esquerda por ser contrária à fonte nuclear. Um nucleopata, que não sabe o que diz, pois não conhece absolutamente nada sobre energia, além de ideologizar um tema da maior importância neste momento de enfrentamento da crise climática global. Apenas repete o que diz seu guru em assuntos nucleares, o engenheiro Carlos Mariz.
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O deputado é conhecido dos pernambucanos como grande defensor das usinas nucleares, em particular da instalação de um complexo nuclear na beira do Rio São Francisco. Para ele, este empreendimento seria a salvação, a redenção social e econômica de toda uma região, de todo o estado de Pernambuco e do Nordeste (quiçá do universo!). Age como um vendedor de ilusões, mas nesta falácia, a população não cai mais não!
Também é importante no contexto de um debate sério e consequente, levar em conta suas posições política e partidária, como aliado do ex-presidente, de extrema direita, que governou o país de 2019-2022. Um negacionista contumaz da ciência. Logo, cabe bem o provérbio popular “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Na defesa intransigente da tecnologia nuclear – que tem sido abandonada por diversos países e enfrenta inúmeros problemas de aceitação no mundo – se comete muitos equívocos, deliberados, ou pela ignorância sobre o tema. Mas há também os que preferem divulgar notícias falsas, na tentativa de minimizar, negligenciar os riscos nucleares, e, assim, confundir a opinião pública.
PublicidadeSegundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Associação Nuclear Mundial (ANM), a participação do setor nuclear na produção de energia elétrica está em queda desde 2001. Em 1996, chegou a sua maior contribuição na matriz elétrica mundial, 17,4%. Em 2021, a participação das usinas nucleares reduziu para 9,8%. O que mostra que esta tecnologia, com todos os problemas associados, estagnou e está em declínio. Depois do desastre de Fukushima, mais usinas nucleares foram desligadas do que inauguradas.
É bom lembrar ao deputado que a participação da iniciativa privada está proibida pela Constituição brasileira. O artigo 177, V, estipula o monopólio da União para esse tipo de atividade, assim como o artigo 21, XXIII. Logo, segundo a atual legislação, é vedado ao setor privado participar, por exemplo, da construção e operação de usinas nucleares.
Sabemos que o país, o Nordeste em particular, tem vantagens comparativas extraordinárias quanto ao potencial da energia solar e eólica, em seu território. Sabemos que a diversificação da matriz energética (sem nuclear), com fontes renováveis que se complementam, sem dúvida alguma é o caminho da sustentabilidade energética. Então qual seria a razão para apoiar a instalação de uma tecnologia perigosa, suja e cara nas margens do São Francisco?
Sabemos também que o lobby nuclear é muito poderoso. Seus interesses concentram-se na indústria bélica, nos fabricantes de equipamentos, na construção civil, em políticos interesseiros, em cientistas que aceitam migalhas para suas pesquisas, na grande mídia que tem como clientes os negócios do ramo nuclear. Mas a resistência a esta tecnologia tem crescido, e mesmo banido usinas nucleares de territórios nacionais.
Então vamos resumir a réplica ao discurso do nobre deputado em uma única frase, “O Brasil, o Nordeste, Pernambuco e Itacuruba não precisam de usinas nucleares”. Xô Nuclear!
NR: após a publicação do texto, o deputado estadual Alberto Feitosa reagiu ao artigo do professor Heitor Scalambrini da Costa. Veja a íntegra da resposta do deputado:
“Convido o leitor a assistir o meu pronunciamento sobre o apagão de 15/08, na íntegra.
Agradeço a oportunidade de falar novamente sobre o tema trazendo informações e esclarecimento à população. Reforço que a questão da energia em nosso país é uma pauta que sempre estive perto como parlamentar com o cuidado de estar balizado por especialistas referenciados como o engenheiro Carlos Mariz citado pelo artigo deste canal. É preocupante o volume de crescimento de energia eolica e solar , principalmente no Nordeste, sem a devida contrapartida em reservas capazes de segurar as grandes intermitências provocadas pelas variações naturais do vento e da incidência solar.
Nada de surpresa aos adjetivos do autor do artigo que aqui tenho o direito de resposta. Desprezível cientista , Heitor Scalambrini da Costa já é conhecido no segmento de energia como pouco conhecedor e sem credibilidade para tratar do tema. Em contrapartida o mesmo é um militante radical do PT que costuma tratar o assunto sempre como bandeira partidária. Quanto às palavras grosseiras já são conhecidas como parte do seu vocabulário e de sua personalidade incrédula.
Todos sabem que ele não é afeito à labuta diária e é reconhecido por ser um grande autor de fakenews, chamado, inclusive, no meio daqueles que abordam com seriedade a questão energética aqui em Pernambuco como: Heitor ‘Malandrine’.
Ajudando a deixá-lo bem informado esclareço que a energia nuclear está em pleno desenvolvimento tanto na Europa como nos Estados Unidos, Japão ,China , Coreia do Sul, Emirados Árabes, Índia , Africa do Sul, Argentina, etc . Eu pude observar de perto, em recente viagem que fiz a França, usinas nucleares em pleno funcionamento no vale do Rio Loire e constatar que das 56 usinas nucleares em funcionamento , 44 estão nos rios franceses. Além disso, o parlamento francês acabou de autorizar a construção de mais seis grandes novas usinas.
Estou à disposição para dar mais informações sobre esta temática de forma séria e construtiva.”
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