O texto da coluna foi atualizado às 16h29 do dia 29/04/2022 para corrigir uma informação sobre Teresa Surita, candidata a governadora em Roraima
Na semana passada, comentamos por aqui como há no DNA do MDB uma certa tendência à traição. O MDB é herdeiro direto do antigo PSD do período anterior a 1964, o partido que introduziu na política brasileira o verbo “cristianizar”, que significa abandonar pelo caminho seu próprio candidato à Presidência. Na eleição presidencial vencida por Getúlio Vargas em 1950, o PSD abandonou seu candidato, Cristiano Machado, para apoiar Vargas. Desde o início do novo processo democrático brasileiro, iniciado em 1985, não foram poucas as vezes em que o MDB cristianizou seus candidatos.
Embora possa haver de novo esse risco com relação à senadora Simone Tebet (MDB-MS), um espectador privilegiado do cenário emedebista disse ao Insider que algumas situações agora podem pacificar a situação e beneficiar a candidatura própria. Em primeiro lugar, porque as situações regionais do momento estão claras e expostas a Simone Tebet. Ela não estaria sendo enganada pelos caciques regionais do partido. Em segundo lugar, porque ela, apesar dos problemas em diversos estados, poderia ter agora a maioria dos votos na convenção.
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Segundo esse espectador, os problemas maiores acontecem no Nordeste. Com algumas situações particulares que podem beneficiá-la. A Paraíba, por exemplo, com uma comissão provisória nomeada pela direção nacional do partido, não votará na convenção. Mesmo os nomes mais refratários à candidatura própria, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE), têm dialogado com Simone.
Em outros estados, como Roraima, há algumas situações complicadas. O ex-senador Romero Jucá montará palanque para sua ex-mulher, Teresa Surita. Ela é filiada ao MDB, mas seu candidato a vice, Edio Lopes, é do PL – ou seja, o partido de Bolsonaro. Por isso, Jucá não foi ao jantar na casa de Eunício, apesar da sua grande aproximação com esse grupo.
PublicidadeNo Pará, o governador Helder Barbalho montou uma chapa ampla, também anti-PT. Por isso, Helder tem defendido que o partido tenha uma candidatura própria. No início de 2021, chegou a defender que o partido apoiasse o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Já recebeu Simone Tebet no estado. Assim, não se computa o Pará como um estado anti-Simone.
Segundo esse espectador emedebista, é bastante provável que muitos venham a apoiar Lula nos bastidores, mas não oficialmente para não atrapalhar outros arranjos regionais. Por pragmatismo, poderiam, assim, vir a apoiar a candidatura própria.
Principal reduto lulista no MDB, Alagoas só tem 14 votos na convenção partidária. Bem menos que o Rio Grande do Sul, que tem 45, ou Minas Gerais, que tem 35 votos. Ou seja, segundo ele, essa oposição de Alagoas à candidatura própria acaba superdimensionada.
Claro, tudo isso dependerá também dos demais acertos que estão sendo feitos com os outros partidos alinhados com uma candidatura de terceira via. Esses partidos acertaram unir-se em torno de um único nome no dia 18 de maio. Pode acontecer um adiamento dessa data, mas se trabalha para uma convergência. Ou seja: em tese, Simone Tebet pode vir a ser a candidata da terceira via, ou nem ser candidata. O candidato do PSDB, João Doria, trabalha para ser ele o nome da terceira via, tendo Simone Tebet como vice. A senadora tem dito que não aceita esse arranjo.
Há um dado, porém, que hoje empana todo o jogo, se é especialmente o pragmatismo o que move os emedebistas. Simone ou mesmo os demais nomes da tal terceira via não têm, se estão corretas as pesquisas, votos.
Se pode ser regionalmente complicado para o MDB vir a apoiar Lula no primeiro turno, igualmente complicado regionalmente poderá vir a ser ter uma candidatura própria. Ou pode-se vir a ter uma para, por força das circunstâncias, abandoná-la pelo caminho. Vejamos os próximos capítulos.