por Célia Xakriabá
No Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado neste dia 10 de outubro, precisamos lembrar que a devastação ambiental não afeta apenas o clima — ela atinge o coração e a mente de quem vive em profunda conexão com a terra.
As mudanças climáticas trazem uma nova forma de sofrimento: a ansiedade climática, que cresce especialmente entre os mais jovens. Uma pesquisa com 10 mil jovens de 16 a 25 anos, em 10 países, revelou que 59% estão profundamente preocupados com as mudanças climáticas, e 84% se sentem pelo menos moderadamente inquietos. Além disso, 45% relatam que seus sentimentos sobre a crise climática afetam negativamente seu dia a dia.
A tristeza, ansiedade, raiva e impotência são realidades que eles enfrentam, e mais de 60% desconfiam que os governos não estão fazendo o suficiente para proteger o planeta ou as futuras gerações. E nós, povos originários, também carregamos essa preocupação — nossa luta é pela vida, pela nossa Terra e pelo futuro.
Infelizmente, o impacto na saúde mental dos povos indígenas tem sido devastador. Em 2023, foram registrados 180 casos de suicídio entre indígenas, um aumento de 56% em comparação com os 115 casos de 2022. Esse aumento alarmante reflete a crescente vulnerabilidade de nossas comunidades, muitas vezes associada à falta de demarcação de terras e à deterioração das condições de vida. Para nós, a terra não é apenas um território; é a própria fonte de vida e identidade. Quando ela é ferida, nós também somos feridos.
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Para os povos indígenas, a destruição da natureza é mais do que física — é uma ferida espiritual. Quando a terra é devastada, nosso modo de vida, nossa história e nossa cultura ficam ameaçados. A falta de demarcação de terras indígenas não só agrava as mudanças climáticas, mas também afeta diretamente nossa saúde mental. Sem terra, não temos raízes. E sem raízes, como podemos florescer? Cada árvore cortada é um golpe na nossa alma, cada rio poluído um grito de dor.
Mas também sabemos que cada floresta preservada é um gesto de cura, não só para o planeta, mas para nós. Nós, mulheres indígenas, trazemos a força das nossas ancestrais para os espaços de decisão, porque sabemos que cuidar da terra é cuidar de todos nós. Proteger as terras indígenas é proteger o planeta. E nessa luta pela terra, estamos também lutando por nossa sanidade, por nosso bem-estar.
No Dia Mundial da Saúde Mental, lembremos que cuidar da Terra é cuidar de nossa saúde mental. Precisamos reflorestar, não só os hectares de terra, mas também os nossos corações. É hora de indigenizar a política, a luta climática e o cuidado com nossas mentes e espíritos.
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