Analisar a realidade é uma tarefa complexa que exige teoria adequada e métodos precisos para gerar conhecimento científico válido. A realidade política, objeto de análise e explicação da Ciência Política, impõe esses mesmos desafios. Buscamos classificar regimes políticos, sistemas de governo e ideologia política para que possamos melhor compreendê-los. É importante ressaltar que, quando utilizamos métodos estatísticos, a variável dummy (0 ou 1) é melhor utilizada quando se trata de sucesso (1) ou fracasso (0), como vencer (1) ou perder (0) uma eleição.
Quando analisamos ideologia política e democracia, classificá-las com direita ou esquerda, democracia ou autocracia, impõe em perder uma grande diversidade histórica, social e institucional. Entender a diversidade institucional é de extrema importância para compreender como essas questões podem ser analisadas de forma mais fidedigna e com a melhor evidência científica. Portanto, afirmar que ideologia política se divide entre esquerda, centro e direita ou que regime político se divide em democracia, semidemocracia e autocracia é deixar de lado a ampla variedade que se apresenta e que desafia o cientista político. É preciso mais esforço para entender que se trata de um espectro. Elinor Ostrom (Entendendo a Diversidade Institucional) e Robert Dahl (Poliarquia) trouxeram contribuições valiosas para que pudéssemos compreender as mais diversas variações ao redor do mundo. Estatisticamente falando, há muito mais variância fora dessas classificações tricotômicas.
Leia também
Associar a esquerda à criminalidade parece texto de grupo de whatsapp. Ao longo da história houve regimes políticos violentos que chegaram ao poder através de revoluções, golpes e autogolpes. À esquerda temos a violência na Revolução Francesa, Revolução Russa (principalmente o holodomor, quando milhares de pessoas morreram de fome na Ucrânia) e Revolução Cubana. É muito difícil uma revolução que busque tomar o poder ocorrer de forma pacífica. À direita tivemos as ditaduras militares do Chile, Argentina e Brasil. Hitler fora eleito, mas mudou as regras do jogo para que ficasse no poder, uma espécie de autogolpe, e instalou o regime nazista. No mundo atual existem diversos países que vivem sob regime autocrático tanto de esquerda quanto de direita. Por isso, ideologia política não pode ser associada nem a criminalidade nem a regimes autocráticos.
Associar esquerda ou direita à criminalidade ocorrida no passado seria como associar a Igreja Católica à criminalidade por conta da Inquisição durante a Idade Média. É totalmente anacrônico e espúrio. Violência, discursos de ódio, tentativas de golpe etc., não são características de uma ideologia política em específico, mas do extremismo ideológico, que não aceita competição, que não aceita os adversários e nem a diversidade. Faz parte de um conjunto de crenças dogmáticas, portanto irrefutáveis, geralmente vinculadas a uma figura a se adorar.
Hoje o Congresso Nacional, que é majoritariamente composto por parlamentares mais à direita do espectro político, tem seus trabalhos conduzidos com relativa paz, onde as esquerdas, as direitas e os centros travam embates em busca de vencer o debate e de conseguir colocar em andamento os seus projetos de poder. Sim, todo grupo político tem um projeto de poder, só assim ele pode implementar as decisões que se acredita ser melhor para o país. Não deveria ser por crença, mas com base na melhor evidência científica, mas isso fica para outro momento. O que importa é que não há qualquer evidência científica que seja capaz de associar qualquer ideologia política a crimes, uma vez que eles ocorrem em função do contexto histórico de revolução e de ruptura institucional.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Publicidade
Deixe um comentário