Marta Mendes, Luciana Santana e Luiza Casado*
No início de setembro publicamos um artigo mostrando que, segundo as pesquisas de intenção de votos divulgadas até aquele momento, treze candidatos tinham chances de se eleger governadores no primeiro turno. Às vésperas da eleição algumas situações se alteraram. Analisamos a possibilidade de vitória no primeiro turno considerando a intenção de votos no candidato(a), com base nas pesquisas mais recentes realizadas pelo IPEC, divulgadas entre 9 de setembro e 01 de outubro, e o quanto isso representaria em termos de votos válidos – excluindo-se brancos, nulos e indecisos.
Os estados nos quais a disputa para o governo estadual tem boas chances de se encerrar no dia 2 de outubro são: Pará, Mato Grosso, Paraná, Goiás, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Acre, Tocantins e Amapá. O Amapá entrou para este grupo depois que Clécio (Solidariedade) subiu de 41 para 54% das intenções de voto, segundo pesquisa do Ipec divulgada no dia 29 de setembro, o que significa subida de 13 pontos, ou seja de 49% dos votos válidos para 57%.
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Cinco estados deixaram esse grupo. O primeiro deles foi o Distrito Federal que oscilou nas últimas semanas na comparação com o levantamento feito no início de setembro. Com a redução dos brancos, nulos e indecisos, Ibaneis Rocha (MDB) tem agora 46% dos votos válidos. Mudanças importantes também ocorreram no Piauí e na Bahia onde, nessa reta final de campanha, as candidaturas petistas entraram em curva ascendente. No Piauí, Rafael Fonteles (PT) subiu de 29% para 42%, empatando tecnicamente com o candidato Sílvio Mendes (UB) que tinha 43% e passou para 44%. Descartando bancos, nulos e indecisos, nenhum dos dois atinge maioria absoluta. Na Bahia a pesquisa Ipec de 23 de setembro dava 47% de intenções de voto para ACM Neto (UB), contra 32% de Jerônimo Rodrigues (PT), o que significava 54% de votos válidos para o ex-prefeito de Salvador, indicando vitória no primeiro turno. A última pesquisa, do dia 1 de outubro, mostrou 51% dos válidos para ACM contra 40% de Jerônimo. Em Roraima Antônio Denarium (PP) também aparece com 51% dos votos válidos contra 45% de Teresa Surita (MDB). Em Minas Gerais, a pesquisa mais recente do Ipec mostra 50% de votos válidos para Romeu Zema (Novo) contra 42% de Alexandre Kalil (PSD), indicando um quadro em aberto. Nestes cinco estados, embora haja chances de uma vitória no primeiro turno, o cenário ainda é de indefinição.
Em nove estados a disputa deve se encerrar neste domingo
Se este quadro se confirmar, sete governadores garantirão um segundo mandato já no dia 2 de outubro. O encerramento da disputa no primeiro turno também terá consequências em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro porque os presidenciáveis poderão contar com palanques únicos em alguns estados e com a atenção integral de alguns de seus aliados.
PublicidadeBolsonaro terá garantido quatro palanques únicos com Ratinho Jr. (PSD) no Paraná, Wanderlei Barbosa (Republicanos) no Tocantins, Mauro Mendes (UB) no Mato Grosso, e Gladson Cameli (PP) no Acre. Lula também poderá contar com quatro: Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo, Helder Barbalho (MDB) no Pará, Fátima Bezerra (PT) no Rio Grande do Norte e Clécio Luís (Solidariedade) no Amapá.
A tendência é de que Zema apoie Bolsonaro em um eventual segundo turno presidencial. Em caso de vitória do candidato do Novo no primeiro turno, isso significará palanque único para Bolsonaro no segundo maior colégio eleitoral do país. Também em Roraima, uma vitória de Antônio Denarium (PP) no primeiro turno garante, palanque único para Bolsonaro em um segundo turno presidencial.
O mais provável é que ACM Neto na Bahia, Silvio Mendes no Piauí e Ronaldo Caiado em Goiás mantenham a neutralidade em uma eventual disputa de segundo turno entre Lula e Bolsonaro. E não será por motivos ideológicos ou programáticos. Na Bahia e no Piauí, onde Lula lidera com folga as pesquisas de intenção de voto, não é interessante para ACM Neto e Mendes declararem apoio a Bolsonaro, ainda que se identifiquem com algumas de suas pautas. Em Goiás, Caiado não teria nada a ganhar reatando com Bolsonaro depois do rompimento motivado por discordâncias durante a pandemia de Covid 19.
Estados rumo ao segundo turno
Além dos nove estados com grandes chances de definição da disputa no primeiro turno e do Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais, Piauí e Roraima, onde também existe esta possibilidade, nos outros treze estados o cenário é de indefinição.
Em oito já é possível vislumbrar quem serão os competidores no segundo turno.
No Rio de Janeiro tudo indica que o atual governador Cláudio Castro (PL), que aparece com 47% dos votos válidos na última pesquisa Ipec, enfrentará Marcelo Freixo (PSB) que tem 28%.
Também em Rondônia o cenário parece estar definido. O mais provável é que o segundo turno seja disputado entre o Coronel Marcos Rocha (UB) que cresceu 10 pontos da pesquisa de agosto para a de setembro, aparecendo agora com 40%, e Marcos Rogério (PL) que também cresceu, passando de 13 para 25% das intenções de voto. Essa subida ocorreu depois que Ivo Cassol (PP) desistiu da candidatura no início de setembro.
No Rio Grande do Sul, o segundo turno deve se dar entre Eduardo Leite (PSDB) com 40% e Onyx Lorenzoni (PL) com 30% dos votos válidos. Ambos estão estáveis desde a última pesquisa. O terceiro colocado, o petista Edegar Pretto, cresceu e aparece agora com 20% das intenções de voto, ainda muito distante do segundo.
No Amazonas, o atual governador Wilson Lima (UB) lidera com 38% dos votos válidos e deve enfrentar no segundo turno Amazonino Mendes (Cidadania) que tem 28%. No terceiro lugar Eduardo Braga (MDB) aparece com 19%, podendo oferecer alguma surpresa na reta final.
Em Alagoas, o atual governador, Paulo Dantas (MDB), que tem apoio de Lula, subiu para 41% das intenções de voto na última pesquisa Ipec. Rodrigo Cunha (União Brasil), apoiado por Arthur Lira, está garantindo sua presença no segundo turno com 21%. Collor, que apoia Bolsonaro, caiu para 12%. Considerando apenas os votos válidos, Dantas tem 45% contra 23% de Cunha.
No Ceará, onde se observava maiores divergências entre os institutos de pesquisa, a disputa está se encaminhando para um segundo turno entre Elmano de Freitas (PT) e Capitão Wagner (UB). Segundo o levantamento mais recente do Ipec, Elmano ultrapassou Wagner e tem agora 44% dos votos válidos contra 37% de Wagner. Roberto Claudio (PDT) parece estar fora do páreo, com 18% dos válidos.
A disputa em Santa Catarina, que parecia aberta, mudou nessa reta final. Jorginho Mello (PL) e o atual governador Carlos Moisés (Republicanos) devem disputar o segundo turno. Na última pesquisa Ipec, Mello aparece com 25% contra 20% de Moisés, o que corresponde a 29% e 23% dos votos válidos, respectivamente.
Em São Paulo, o quadro parece se encaminhar para o segundo turno entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 31% dos válidos e Fernando Haddad (PT) que segue firme na liderança com 41%.
Cenários de indefinição
Em outros cinco estados a disputa está muito aberta e ainda não é possível saber quem passará ao segundo turno.
O Mato Grosso do Sul apresenta um dos cenários mais disputados. O ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), com 17%, Rose Modesto (UB) com 14% e Eduardo Riedel (PSDB) com 12%, disputam uma vaga no segundo turno, atrás do primeiro colocado, André Puccinelli (MDB), que se manteve estável nos levantamentos de agosto e setembro com 25% das intenções de voto.
No Maranhão, Weverton Rocha (PDT) com 22% e Lahesio Bonfim (PSC) com 23% dos votos válidos competem para decidir quem enfrentará o atual governador Carlos Brandão (PSB), que aparece com 48%.
Na Paraíba, Pedro Cunha Lima (PSDB) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) estão embolados na segunda colocação com 22% dos votos válidos, bem atrás do atual governador João Azevêdo (PSB) que lidera com 39%.
Pernambuco tem dois candidatos empatados em segundo lugar, com 17% dos válidos, muito distantes de Marília Arraes (Solidariedade), com 38%.
Finalmente, em Sergipe, a situação é de incerteza depois que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu manter o indeferimento da candidatura de Valmir de Francisquinho (PL) que liderava as pesquisas de intenção de voto com 40%. A decisão beneficiará os candidatos Rogério Carvalho (PT) e Fábio (PSD), ambos com 17% das intenções de voto na última pesquisa do Ipec. De acordo com a decisão, os votos dados a Francisquinho serão contabilizados como nulos.
Disputas de segundo turno nacionalizadas?
Em alguns estados, o segundo turno entre candidatos ao governo pode reproduzir a polarização entre Lula e Bolsonaro. Isso pode acontecer no Ceará em um eventual segundo turno entre Capitão Wagner (UB), aliado de Bolsonaro, e o petista Elmano de Freitas. No Rio de Janeiro, Castro, que pertence ao mesmo partido do presidente, deverá disputar no segundo turno um adversário alinhado ao PT, Freixo, o que deve favorecer a nacionalização. São Paulo deve ser palco de uma disputa bastante nacionalizada no segundo turno, caso Tarcísio de Freitas se confirme como adversário do petista Fernando Haddad.
Em outros estados, a disputa deve ser decidida em segundo turno, mas com palanque único para os candidatos a presidente porque todos os candidatos mais competitivos se alinham a um dos campos. É o caso de Santa Catarina e Rondônia com disputa no campo da direita e palanque único para Bolsonaro. E do Maranhão, único caso de disputa entre candidatos do campo da esquerda e centro-esquerda, com palanque único para Lula.
*Marta Mendes da Rocha – Professora associada do Departamento de Ciências Sociais da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), onde coordena o Nepol (Núcleo de Estudos sobre Política Local). Doutora em ciência política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisadora do CNPq. Foi pesquisadora visitante na Universidade do Texas em Austin. Webpage: martamrocha.com
Luciana Santana – Professora da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e da UFPI (Universidade Federal do Piauí). Mestre e doutora em ciência política pela UFMG, com período sanduíche na Universidade de Salamanca (Espanha). Líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia e diretora da regional Nordeste da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política)
Luiza Casado é graduanda em Ciências Sociais (Bacharelado) na Universidade Federal de Alagoas, bolsista de iniciação científica (CNPQ) e integrante do Grupo de pesquisa Instituições, comportamento e Democracia.
Esse artigo foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.
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