Ao final da cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes como novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na noite de terça-feira (16), o semblante de contrariedade do trio formado pelo presidente Jair Bolsonaro, por sua mulher, Michelle, e pelo seu filho 02, o vereador Carlos Bolsonaro, era impossível de se disfarçar. Se Bolsonaro imaginava colocar ali uma armadilha para seus adversários com a sua presença na posse, o tiro saiu de forma retumbante pela culatra. A armadilha acabou armada para ele.
Veja o comentário em vídeo:
Quem já conviveu com Moraes mais de perto sabe que ele saboreia neste momento cada segundo do que aconteceu na sua posse. A cerimônia tornou-se um triunfo, com a presença de quase todos os governadores, candidatos à Presidência e outras autoridades. E todos eles aplaudiram Moraes de pé, ratificando os princípios com os quais ele pretende nortear sua condução das eleições deste ano. A única autoridade presente que não aplaudiu o discurso de Moraes em nenhum momento foi o presidente Jair Bolsonaro.
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Bolsonaro calculou que a sua presença ali viria a ofuscar seus adversários na corrida pelo Palácio do Planalto. Especialmente o único deles que realmente lhe interessa, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Como atual presidente da República, Bolsonaro era a principal autoridade na solenidade. Isso lhe garantia a presença central na mesa principal do ato de posse. Dali, ele veria Lula e os demais de cima, numa posição inferior a ele. A armadilha, porém, voltou-se contra ele.
No centro da mesa, Bolsonaro reforçou a imagem de que toda aquela cerimônia se destinava unicamente a enviar recados para ele. Ele era o centro de toda a crítica contida no discurso de Alexandre de Moraes. Que não se sentiu nem um pouco intimidado de dizer, ali, na cara de Bolsonaro, que irá conduzir as eleições deste ano de modo a não deixar que prospere nenhuma contestação leviana do sistema eleitoral brasileiro. Que toda tentativa nesse sentido será interpretada como crime, como afronta à Constituição, e será coibida. Que todos os cuidados serão tomados para que qualquer tentativa de contestação do resultado das urnas não passe de mero esperneio de derrotado. Se Bolsonaro quiser outro caminho, que trate de ganhar a eleição. Levá-la no grito, ele não conseguirá.
Aplaudido de pé, Moraes demonstrou que tem o pleno respaldo da grande maioria das autoridades brasileiras para assim conduzir o processo eleitoral. As cartas pela democracia da semana passada já demonstravam que ele tem também no mesmo sentido o apoio da maioria da sociedade organizada brasileira. Sociedade que irá reagir ao sargento e ao soldado que Bolsonaro tente enviar para fechar qualquer um dos tribunais superiores brasileiros. Resta saber se esse sargento e esse soldado encontrarão jipe para sair do quartel. Porque, institucionalmente, as Forças Armadas também não parecem dispostas a embarcar nessa aventura.
Bolsonaro ouviu Moraes proferir com todas as letras, sem qualquer hesitação, sua defesa da democracia e do sistema eleitoral brasileiro. O único do mundo que garante, como ele frisou, a apuração do resultado da eleição no mesmo dia em que ela ocorre. Isso não vai mudar. Porque é motivo de orgulho e não deveria ser motivo de desconfiança.
Certamente não foi também por acaso que, na distribuição dos lugares, Bolsonaro tenha sido colocado exatamente em frente a Lula, que podia de onde estava encarar seu adversário e observar cada reação do seu rosto contraído a cada uma das palavras proferidas por Alexandre de Moraes.
A posse de Moraes parece coroar o que já se esboçava com as cartas pela democracia na semana passada. Neste momento, o espaço para que Bolsonaro tente algum arroubo antidemocrático ficou muito reduzido.
Se ele vier a tentar algo nesse sentido no Sete de Setembro, poderá vir a sepultar de vez as suas chances. E, nesse sentido, parece emblemático um dado da pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (17). O dado, aliás, que mais chamou a atenção do diretor da Quaest, Felipe Nunes. A pesquisa perguntou o seguinte aos seus entrevistados: “Do que você tem mais medo?”. Duas opções foram postas: da volta do PT ao poder ou da continuidade de um governo de extrema direita com contornos ainda mais extremados?
Um percentual de 45% disse ter medo da continuação de um governo de extrema direita. E 40% disseram temer a volta do PT. Ou seja, o dado mostra que o medo da volta do PT é um dado a se explorar. Especialmente, porque essa sensação cresceu com relação à rodada anterior da pesquisa.
Mas medo maior as pessoas têm dos arroubos autoritários de Bolsonaro. É por isso que os próximos passos serão decisivos. Se Bolsonaro levar para o Sete de Setembro uma militância pacífica disposta somente a lhe emprestar apoio eleitoral, obterá uma demonstração de força. Se levar um bando de malucos com disposição para fechar o país e iniciar um banho de sangue, como era a sua militância há um ano na festa de independência, será somente uma minoria extremada a ser contida. E a posse de Moraes reforçou a disposição de conter esses radicais. A pergunta que fica: Bolsonaro consegue controlar as feras que já há algum tempo soltou nas ruas?
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