Em uma semana, dois episódios. Três mortos. Um homem na UTI. Duas das mortes foram suicídios. Diversos são os feridos de variadas formas: famílias enlutadas, crianças órfãs, reputações destroçadas. Impossível não associar o assassinato de Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu às denúncias de assédio na Caixa Econômica Federal em Brasília. Elas têm a mesma matriz. E fazem parte do mesmo cenário de triste destruição deste nosso país chamado Brasil.
Uma das melhores cenas de O Rei Leão, um dos melhores desenhos animados da história, é quando Scar, o leão que usurpa o trono, contempla do alto da pedra o seu reino, ao lado das hienas, suas asseclas. O que Scar vê à sua frente é uma terra árida, destruída, destroçada, abandonada, onde antes havia uma frondosa e verde floresta, cheia de árvores, flores e animais. Scar parece ali animadamente satisfeito com seu trabalho de destruição.
Uma opção cinematográfica mais adulta que o Rei Leão, igualmente maravilhosa, é o documentário Arquitetura da Destruição, sobre a estética do nazismo. Havia por trás da ideologia de Adolf Hitler a ideia de que antes era preciso destruir tudo o que havia na Alemanha para, dos escombros do velho país, reconstruir o novo que idealizava.
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A nova direita que chegou ao poder no Brasil com Jair Bolsonaro, mas que se espalha por outras partes do planeta também, tem pensamento semelhante. É um grande erro chamá-los de conservadores. Eles não desejam conservar nada. E talvez seja isso o que tenha feito boa parte daqueles que realmente são conservadores terem agora se afastado do projeto. Há nessa nova direita um sentido revolucionário, no pior sentido da palavra.
O próprio Bolsonaro deixou bem claro esse ideário quando disse, sobre a covid-19: “Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem. Em toda guerra, sempre morrem inocentes”. Na pandemia de covid-19, foram quase 700 mil mortos. Se somam a eles, os inocentes das outras guerras travadas: Marcelo Arruda, Marielle Franco, Don Phillips, Bruno Pereira. E os dois suicídios, de Claudinei Esquarcini em Foz de Iguaçu, e do diretor da Caixa, Sergio Ricardo Faustino Batista, em Brasília.
Em Foz do Iguaçu, o bolsonarista Jorge Guaranho invade a festa do petista Marcelo Arruda, e atira nele, que revida os tiros. O petista termina assassinado, o bolsonarista na UTI. Claudinei, responsável pelas câmeras de segurança do clube, que repassou as imagens a Guaranho que o alertaram para a festa do petista, joga-se de um viaduto.
Em Brasília, o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães praticava assédio sexual contra funcionárias mulheres e assédio moral contra todos. Foi denunciado por isso. Afastou-se do cargo. Uma investigação interna está aberta. Faustino, diretor de Controles Internos e Integridade da Caixa, portanto o responsável pela investigação interna, joga-se do alto do prédio da sede do banco.
O objetivo aqui nem é questionar se os suicídios de Claudinei em Foz do Iguaçu e Faustino em Brasília foram suicídios de fato. Que isso seja minuciosamente investigado nos dois casos. O que é inquestionável é que tanto homicídios quanto suicídios têm sempre uma motivação. E a motivação das duas mortes é clara: o trágico ambiente de ódio e de deliberada destruição que se instalou no país.
Como disse Bolsonaro, a destruição deliberada, que é consequência da “guerra”, usando o termo dele, adoece e destrói. Antes de se atingir a tal reconstrução que ele deseja, a destruição provoca tristeza, frustração, revolta. Especialmente se nada disso estava na proposta inicial indicada à população, ao eleitorado. Bolsonaro não se elegeu em 2018 dizendo claramente que sua intenção era destruir o país que havia para construir um novo. Muito menos disse aos seus eleitores que eles poderiam, nesse processo, acabar morrendo pelo caminho. E que, na sua concepção, caso isso acontecesse estaria “tudo bem”. Ainda hoje, ele e seus aliados se declaram “conservadores”. E “conservadores” não são. É válida, portanto, a pergunta: quem suicidou Claudinei e agora Faustino?
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