Nascido na cidade de Ituiutaba, o deputado André Janones (Avante) não parece um político mineiro apenas pelo forte sotaque. Na entrevista que concedeu ao Congresso em Foco na segunda rodada do Conversa com os Presidenciáveis (a primeira entrevista, na quarta-feira, 27 de julho, foi com Simone Tebet, do MDB), Janones esforçou-se para agir como político mineiro e não antecipar o que fará de fato na quinta-feira (4), às 15h, depois que sair da conversa que terá com o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas, nas entrelinhas, ficou claro que a decisão de Janones está tomada. A não ser que aconteça um forte desarranjo na quinta-feira, Janones deverá sair da reunião anunciando o apoio a Lula. O que ele tem pedido em troca da retirada da sua candidatura para apoiar Lula não parece algo difícil para Lula se comprometer.
Janones quer que Lula se comprometa com um Auxílio Brasil como programa permanente e com um valor de R$ 600. Lula já deu declarações nesse sentido. Trata-se de um benefício que teve a atual conformação obtida nos governos do PT. É evidente que ele, caso seja eleito, não fará o programa retroceder. Ele só disse que retornará para o nome anterior de Bolsa Família, mas o nome do programa não é problema.
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Os demais pontos da plataforma de Janones também não parecem ser um problema: cota dupla para mães solo (aquelas que comandam suas famílias sozinhas) e a inclusão dos nomes inscritos no Cadastro Único que ainda não recebem o benefício. Não parece nada provável que Lula vá, marcada a reunião, melar um acordo a pouco mais de dois meses da eleição por publicamente não querer se comprometer com uma plataforma de ampliação de benefícios sociais.
A verdade é que o mineiro André Janones parece no caso ser um aplicado aprendiz de outro político mineiro, Tancredo Neves, que dizia que reunião boa é aquela que se decide de véspera. “Primeiro, a gente decide, depois faz a reunião”, é a frase atribuída a Tancredo.
Lula é pernambucano, mas sua habilidade política não difere muito da de Tancredo. Dificilmente ele marcaria a reunião correndo o risco de ouvir ao final um “não” como resposta.
Agora, é claro, como dizia outra raposa mineira, Magalhães Pinto, “política é como nuvem; você olha, está de um jeito; olha de novo, está de outro”. Janones claramente agora negocia seu passe. Faz, segundo ele, acenos a Lula porque Lula teria sido o único que o procurou. Ele afagou também Ciro Gomes, do PDT, e na entrevista reclamou que Ciro parece tê-lo ignorado. Deu na entrevista os devidos puxões de orelha em Lula e no PT, numa linha de crítica comum de que o PT não costuma honrar seus acordos. “Espero que o PT tenha mudado”, disse. Pode haver, então, um cacife não declarado publicamente. E esse cacife pode virar um entrave.
Ser um político mineiro não significa dizer ser um político pouco sincero. Janones foi sincero na entrevista. Claramente mostrou que tenta tirar o máximo de dividendos da visibilidade que teve até agora por estar na corrida eleitoral. “Se eu não fosse candidato, não estaria, por exemplo, nem aqui dando essa entrevista”, afirmou.
Se levasse a eleição até outubro, Janones certamente a perderia. E ficaria sem qualquer cargo e, portanto, sem palanque para seus próximos voos. Levando a eleição até o limite em que ainda pode vir a optar por outra candidatura, ele desfrutou da visibilidade de ter estado no páreo presidencial até agora, vira uma peça importante no xadrez que hoje pende para a vitória de Lula e segue sua vida na Câmara. Saindo da disputa na quinta, ele tem tempo de entrar na nominata do Avante para deputado federal até a sexta (5). E segue o seu baile político que, até aqui, não tem sido nada desprezível.
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