A nova rodada da pesquisa Genial Quaest divulgada nesta quarta-feira (6) deveria servir como forte sinal amarelo de alerta para a campanha do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e para a oposição ao presidente Jair Bolsonaro, de um modo geral.
Ok, Lula segue em boa vantagem. Ok, em um quadro mais amplo, de avaliação de todas as pesquisas, a corrida eleitoral pouco se altera e tem sido quase uma linha reta o desempenho de Lula, Bolsonaro e dos demais adversários bem mais atrás. Mas a verdade é que, ainda que seja tímido, a pesquisa mostrou um avanço de Bolsonaro.
E mostrou um avanço no momento em que o governo deu dois dribles fortes na oposição no Congresso. Talvez mais que dribles, tenham sido gols. Engana-se quem acha que a parada é meio que um 7 a 1 para Lula. Nos últimos dias, Bolsonaro costurou dois instrumentos no Congresso que de alguma forma poderão se reverter a seu favor, e transformar essa aproximação que a pesquisa Genial Quaest mostrou agora em uma tendência até outubro.
Primeiro, a oposição no Senado não teve a coragem de tentar derrubar a PEC que garante, de forma absolutamente e leviana, autorização para Bolsonaro gastar os tubos, burlando a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos. Certamente a Câmara repetirá a quase unanimidade de apoio à PEC. E é evidente que Bolsonaro não terá a menor timidez em usar ao máximo os instrumentos que lhe forem dados. A conta pesada ficará para o próximo governo.
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Segundo, a generosa decisão dada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de deixar a CPI do MEC para depois das eleições. Se houve ali – e ninguém parece ter muita dúvida disso – um grave esquema de corrupção, e se há questões sobre o funcionamento desse esquema a serem investigadas e esclarecidas, isso, pela decisão de Pacheco, será sonegado do eleitor em outubro. Depois, se o eleitor ficar sabendo de coisas que poderiam de alguma forma ter alterado a sua decisão, o leite já estará derramado. Bolsonaro livrou-se do que certamente seria um forte fator de desgaste para ele.
A forma como o governo conseguiu dar um baile na oposição nesses dois episódios mostra como subestimar Bolsonaro e seus aliados é uma forte bobagem estratégica. No fundo, o perfil do próprio Bolsonaro como político e cidadão parece contribuir para que acabe sendo subestimado, o que se mostra um grave erro.
PublicidadeBolsonaro é o capitão sem grande formação intelectual, grosseiro, de ideias menores e muitas vezes preconceituosas. Que repete conceitos rasos e frouxos que muitas vezes não correspondem à verdade. Que agride muitas vezes, em vez de convencer. Quando ele era deputado, a oposição concluiu em determinado momento que a melhor estratégia deveria ser ignorá-lo. Não responder, fingir que não ouviu, em vez de tomar providências para evitar que Bolsonaro continuasse repetindo os seus absurdos. Não foram poucas as vezes em que declarações de Bolsonaro poderiam ter virado processos de cassação. Que não foram adiante, por ter prevalecido essa estratégia. Ocorre que Bolsonaro bem sabia para quem ele estava transmitindo os seus recados. E foi, assim, consolidando a sua militância.
A oposição descobriu que havia escondida uma parcela da população disposta a disseminar ódio e preconceito, que fortemente se identificava com o que há de pior no ideário e no comportamento de Bolsonaro. Esse grupo que emergiu nunca mais vai submergir de novo. O Brasil terá que aprender a conviver com ele.
Vindo à tona esse grupo, a oposição também demorou a enxergar que ele viria a se organizar em torno da candidatura de Bolsonaro. Quando a oposição acordou antes de 2018, Bolsonaro já era um candidato viável. Que conseguiu, então, ampliar-se para grupos mais aos centro que não notaram os problemas que poderiam ter no futuro construindo a estratégia do impeachment de Dilma Rousseff, os desdobramentos da Operação Lava Jato e a prisão de Lula. Há hoje um grupo diverso de políticos de centro-direita arrependidos. Alguns até com Lula, caso do próprio candidato a vice, Geraldo Alckmin. Mas como de fato ficou esse sentimento entre os eleitores?
Agora, o hábito de subestimar Bolsonaro permanece com ele no poder. Um governo confuso, que não consegue conter a inflação, a crise econômica, que deu respostas disparatadas e trágicas à pandemia de covid-19. Que, em vez de resolver as coisas, demite os auxiliares a três por quatro para colocar outros que da mesma forma não darão solução alguma. E o caso da Petrobras e dos combustíveis é, nesse sentido, notório.
Mas, então, vem a pesquisa Quaest e mostra que 26% da população segue achando o governo bom ou ótimo. Que, no comparativo dos três cenários colocados, Lula caiu um ponto, de 46% para 45%, e Bolsonaro subiu um ponto, de 30% para 31%. Que, em suma, aconteça o que acontecer, Bolsonaro mantém esse patamar em torno de 30%. Que, ao contrário da rodada anterior, na margem de erro a pesquisa já não garante que Lula possa vencer a eleição no primeiro turno.
“Esta rodada mostra que a polarização está muito consolidada, com a distância entre eles menor do que no último mês. Em voto espontâneo, Lula tem 31% das intenções de voto e Bolsonaro 24%. Indecisos somam 40%”, avalia o diretor da Quaest, Felipe Nunes. “Com esses números, não é possível afirmar se a eleição será definida no 1º turno”, continua ele.
Subestimar o capitão foi desde sempre um erro. Que acabou fazendo com que ele para uma parcela da população virasse, então, o “mito”. Se Lula e a oposição querem continuar mantendo a vantagem que as pesquisas mostram que conquistaram até agora, deveriam levá-lo a sério.
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Jornalistas esquerdistas, tá na cara ou alguém tem dúvidas!?