Lázaro Thor *
De Cuiabá, especial para o Congresso em Foco
Em junho de 2023, Valdemar Costa Neto relatou à Veja que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) considerou o seu “maior erro” ter rompido relações com o ministro Gilmar Mendes. Um ano depois, com inquéritos que serão analisados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro conheceu o reduto político da família Mendes, a pequena Diamantino, com seus 22 mil habitantes.
Em Diamantino, no dia 11 de abril deste ano, Bolsonaro experimentou uma leitoa ao lado de Chico Mendes, fizeram fotos, vídeos e trocaram declarações de apoio. “Isso é histórico, isso é a coisa mais importante para Diamantino, isso já entrou para a história”, afirmou Chico.
Depois de um hiato de 16 anos fora das eleições, após ser prefeito por dois mandatos entre 2001 e 2008, Chico decidiu competir contra um candidato que tinha tudo para ser o escolhido por Bolsonaro – se as preocupações do ex-presidente fossem com uma diminuta cidade no interior de Mato Grosso. Filiado ao Novo, Carlos Kan tem um discurso contra a corrupção e de moralização da política.
“Estão a vida inteira enganando, a vida inteira passando mel na boca do cidadão, a vida inteira plantando esperança, a vida inteira falando que tem força lá fora, que consegue as coisas com a força que tem lá fora, e eu pergunto o que mudou em Diamantino?”, questiona Kan em um dos seus vídeos de campanha.
A família Mendes está em Diamantino desde o século 19. O avô de Gilmar, o desembargador Joaquim Pereira Ferreira Mendes, nasceu no município em uma família abastada. O pai de Joaquim e precursor da família Ferreira Mendes, foi o coronel Francisco Alexandre Ferreira Mendes, considerado herói da Guerra do Paraguai, período em que Mato Grosso ficou totalmente isolado do restante do país por conta da interrupção da navegação pelos rios. Naqueles tempos, Diamantino era o maior município da província, com terras que se estendiam ao extremo norte de Mato Grosso.
PublicidadeNa visita que fez ao município, Bolsonaro conheceu parte dessa dinastia política. O irmão de Gilmar Mendes responde a 24 ações do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) em razão de supostas irregularidades no período em que conduziu a prefeitura. Os processos tramitam no Tribunal de Justiça de Mato Grosso, um tribunal em que o sobrenome Mendes se repete e já teve como presidente em quatro ocasiões o desembargador Joaquim Pereira Ferreira Mendes, o patriarca da família.
Chico diz ter conhecido Bolsonaro em meados do meio do ano passado, em visita a Brasília para indicar um vice do Partido Liberal, o empresário Antônio da Carol. No encontro, os dois trocaram os números de telefone e passaram a conversas. A ideia de apoiá-lo, no entanto, partiu da própria cúpula do PL.
“Eu acredito que foi um processo de construção”, diz Chico sobre a vinda do ex-presidente. “A primeira coisa que tem, e é muito forte isso, é separar o Chico Político do irmão do ministro, o ministro cuida da parte que diz respeito a ele aqui e o Chico cuida da parte política”, afirmou o candidato ao Congresso em Foco.
A visita surpresa do ex-presidente não estava no roteiro. A ideia era desembarcar em Campo Novo do Parecis e depois participar de uma feira agropecuária em Sinop. Mas no meio do caminho entre as duas cidades estava Diamantino e um nome de Chico Mendes chamava atenção de Bolsonaro e da cúpula do PL.
“Nós trocamos celulares, falamos uma vez por semana regularmente, pergunto como que está a campanha, como que não está a campanha”, afirmou. “Em dada ocasião a Amália Barros [deputada federal falecida em 2024] me ligou, perguntei se ele poderia passar em Diamantino, eu disse que seria bem vindo”, comentou.
Ao contrário do irmão, que agora vive boa relação com Bolsonaro, Gilmar Mendes não poupou o ex-presidente Jair Bolsonaro das críticas durante o último ano. Em fevereiro de 2023, afirmou que o país estava sendo governado por “gente de porão”. Em agosto do mesmo ano, declarou que as Forças Armadas foram lenientes com Bolsonaro. Gilmar também não perdoou o general Eduardo Pazzuello e sua gestão no Ministério da Saúde durante a pandemia.
Gilmar deverá julgar processos importantes para Bolsonaro. Um deles é o da inelegibilidade do ex-presidente, declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pouco depois da visita a Diamantino, em junho deste ano, o ministro afirmou que seria “muito difícil” reverter a decisão.
* Editor do site VG Notícias em Mato Grosso.
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