O cacique Lúcio Tembé foi vítima de uma tentativa de homicídio na madrugada deste domingo (14) no nordeste do Pará. Segundo relatos, Lúcio tentava desatolar o próprio veículo em uma estrada que dá acesso ao território da aldeia Turé-Mariquita, no município de Tomé-Açu, quando foi atingido por disparos feitos por dois homens encapuzados em uma motocicleta.
Ferido com tiro no rosto, ele foi levado às pressas para o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), localizado em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. Não há informações ainda sobre o seu quadro de saúde. O indígena é líder da aldeia Turé-Mariquita e pai de Paratê Tembé, outra liderança da região que sofre ameaças de morte de setores ligados ao agronegócio.
O episódio envolvendo o cacique Lúcio Tembé se soma a uma série de atentados sofridos por indígenas, quilombolas e ribeirinhos, na região, cercada pelo dendê e disputada pela indústria de óleo de palma Brasil Biofuels (BBF), no Vale do Acará.
“Estamos todos com medo”
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“Eles atiraram no rosto do meu pai para matar. Não levaram nada. Foi um atentado”, disse Paratê ao Congresso em Foco. Segundo ele, Lúcio estava acompanhado de um sobrinho, que testemunhou a ação dos criminosos e socorreu o líder indígena. Os disparos foram efetuados por volta das 22h30 desse sábado (13). O sobrinho escondeu Lúcio em uma mata até as 23h30, quando apareceram as primeiras pessoas na estrada. De lá, o cacique foi levado até a delegacia de Tomé-Açu e, em seguida, a um hospital. Ele foi transferido para Belém em um avião municipal por volta das 8h deste domingo (14).
Paratê diz que, embora não tenha provas da origem do atentado, os moradores da região sofrem com ameaças constantes do agronegócio. “Todos aqui sofremos ameaças de morte devido ao conflito agrário. Estamos todos com medo. Já houve várias tentativas frustradas de atentado que não se concretizaram por causa da nossa alta proteção. Mas não estamos seguros totalmente”, disse o indígena. “Vivemos uma tensão constante aqui”, acrescentou.
PublicidadeSegundo ele, representantes da comunidade pretendem se dirigir até a sede da Secretaria Estadual dos Povos Indígenas, em Belém, para reivindicar maior proteção. “A gente vem denunciando essas ameaças há tempos. Nada é feito por parte das autoridades. Ficamos refém dessa situação e tudo pode acontecer”, reclama.
O advogado Jorde Tembé Araújo, que representa a família, prepara um pedido a ser apresentado ainda neste domingo (14) para que as investigações sobre o caso sejam federalizadas. Segundo ele, a Polícia Civil do Pará autuou o caso como uma tentativa de assalto. “Não levaram nada, está claro que foi um atentado. O cacique é uma das principais lideranças da região. Queremos que a Polícia Federal investigue”, afirmou o advogado ao Congresso em Foco.
Denúncia de tortura
O Ministério Público do Pará (MPPA) solicitou, no último dia 17, a prisão de Eduardo Schimmelpfeng da Costa Coelho, dono da BBF, considerada a maior produtora de óleo de palma da América Latina. O pedido de prisão também se estende ao chefe de segurança da empresa no município, Walter Ferrari.
Segundo a agência de notícias Amazônia Real, as acusações se referem à tortura de 11 pessoas da comunidade tradicional Vale do Bucaia. As vítimas foram espancadas com chutes e golpes de cassetete, obrigadas a inalar spray de pimenta, amarradas e mantidas sob tortura por mais de sete horas, conforme denúncia do Ministério Público do Pará (MPPA). O episódio ocorreu em outubro de 2021.
“Os denunciados se deslocaram para o local dos fatos com aproximadamente 50 (cinquenta) veículos que continham cerca de 50 funcionários da segurança e 350 trabalhadores denominados ‘rurais’, dos quais 50 desses estavam também na função de segurança e armados com tonfas e escudos, tal qual uma polícia tática, comandados pelo denunciados para cometer os crimes”, relatou o MPPA.
De acordo com a Amazônia Real, a denúncia, assinada por Emério Mendes da Costa, promotor titular da Procuradoria de Justiça de Igarapé-Miri, aponta que um “grupo com características paramilitares” atua reprimindo comunitários que vivem em terras reivindicadas pela BBF.
A BBF disse à Amazônia Real que “repudia as calúnias envolvendo seus executivos”. “Trata-se de uma narrativa fantasiosa, baseada em informações falsas relatadas por uma ex-funcionária e seu parceiro, também ex-funcionário, demitidos devido a condutas antiéticas e que buscam afetar a reputação e imagem da empresa”, afirmou a companhia em nota enviada à agência.
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