Quando se avalia movimentos na guerra, pouco importam os valores que cada um representa. É a análise do que realizam no teatro de operações o que conta.
Vejam os movimentos de Bolsonaro. Doria ameaça levantar voo e seu jatinho leva um tiro de bazuca do Planalto. Witzel põe a cara de fora e o capitão escala um sniper para acertá-lo. Moro, o mais popular, é trancado impiedosamente na solitária.
Até Luciano Huck – que não é da turma, mas pode dar umas beliscadas no filé – é alvejado.
O presidente tem uma estratégia clara. Uma agenda ultraliberal na economia e conservadora nos costumes. Reúne evangélicos, financistas, o agronegócio e parte da grande mídia.
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Para que o projeto de reeleição fique de pé, não pode permitir que ninguém entre no seu cercadinho. Delimitá-lo bem é uma obsessão. Se Guedes não produzir um desastre econômico, algo entre 25 e 30% dos votos serão suficientes para levar Jair Bolsonaro ao segundo turno.
Vamos para o outro lado?
Na outra ponta do espectro ideológico, o partido de Lula ainda reina soberano. É pouco provável que outro candidato, isolado, tenha mais votos que um petista, seja ele quem for. Mas vejam os movimentos do PT.
PublicidadeA pancadaria com Ciro é cotidiana, difícil dizer quem começou. A esquerda tentou ampliar, se juntar com outras forças? Pau nessa “pseudo-esquerda” que abre mão de pautas estratégicas, de direitos, da soberania e etc. A polêmica em torno do movimento Direitos Já! é ilustrativa.
O PT não participa porque o movimento pode atrapalhar o seu projeto de poder. A decisão do partido é legítima e deve ser respeitada.
Mas o argumento da ausência da “agenda Lula” como pauta central é um “bode”. Se Lula sair da cadeia amanhã, o que seria ótimo, arrumarão outro pretexto. Estão errados?
Se a fragmentação lhes garante uma vaga no segundo turno, por que perderiam protagonismo numa frente? Ninguém deixa de dar as cartas porque é bonzinho.
O cálculo dos companheiros segue uma lógica. Responsabilidade e altruísmo são palavras bonitas que não costumam comparecer às grandes decisões políticas da história.
Na hora H, o que conta mesmo é a velha frase de Stalin: “Quantas divisões tem o papa?”
Bolsonaro tem convicção que derrota o petismo. O PT aposta que, em 2022, derrota o capitão. Por isso se escolhem como adversários executando táticas parecidas. Radicalizam e defendem suas posições nos polos com unhas e dentes à espera do tira-teima. Estão equivocados? Qual será o resultado deste eventual embate?
Não há no momento qualquer força maior que o bolsonarismo ou o Lulopetismo. Quem quiser construir alternativa a esta polaridade, vai ter que tentar juntar um conjunto de forças e atores. Não haverá Don Quixote no meio de dois gigantes.
Remar contra a maré sempre é possível. Mas na guerra as vontades valem pouco. Será preciso encontrar aliados e construir um exército alternativo com urgência. As eleições municipais estão chegando.
Do contrário, talvez seja mais sábio capitular precocemente a um dos reinos já estabelecidos, garantindo assim um lugar de honra na segunda classe.
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O Brasil sangra e ninguém para de esticar a corda. Até quando?